Jornal Estado de Minas

EDUCAÇÃO

Ex-babá, estudante negra mineira conquista bolsa de PHD nos Estados Unidos

Nesse domingo (13/8), a jovem jornalista Camila Costa desembarcou nos Estados Unidos para cursar o PHD em Estudos Culturais na Universidade George Mason, no estado da Virgínia. O que para muitos pode significar mais um passo para a continuidade da carreira acadêmica, para ela, é um sonho e uma oportunidade de representatividade para mulheres negras de baixa renda.




Camila é natural de Santa Cruz de Minas (MG), a menor cidade brasileira em extensão territorial, com apenas 3,5 km², e sempre foi aluna de escola pública. Ela conta que enfrentou dificuldades financeiras para ingressar no ensino superior. Por isso, precisou trabalhar como babá e caixa de supermercado para pagar cursinho pré-vestibular e aumentar as suas chances de cursar uma graduação pública.
 
Aos 23 anos, ela conseguiu ingressar no curso que almejava: Comunicação Social - Jornalismo, na UFSJ. Ao finalizar a graduação, deu sequencia nos estudos com o mestrado na UFOP, quando foi bolsista Capes. Para ela, a chance de prosseguir na pós-graduação somente foi possível devido ao auxílio que recebeu. "Meu medo e assombro durante a graduação foi sempre financeiro; de não conseguir participar dos projetos de extensão, das iniciações científicas porque precisava trabalhar. Mas graças a Deus, no mestrado, pude contar com este auxílio", relembra.  
 
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Ao conquistar a vaga na Universidade George Mason, Camila conta a felicidade que sentiu. Além disso, ela destacou que ocupar estes espaços como uma jovem negra reforça a importância da representatividade e de inspirar meninas negras a terem sonhos ousados e possíveis. E que estes objetivos podem ser alcançados com dedicação, perseverança, resiliência e muito esforço. 
 
"Talvez, se uma menina negra ver a minha história ela pode pensar: eu posso estar ali também! Espero ter inspirado elas a poderem ter voz e ocupar lugares de decisão sobre transformação social, sobre o mundo, sobre o que elas quiserem e desejarem", ressalta. 




 
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O PHD em Estudos Culturais é ofertado pela Universidade George Mason, no estado da Virgínia, nos Estados Unidos. A instituição é pública, porém, diferentemente do ensino superior público brasileiro, há mensalidades. No entanto, a jovem conquistou uma bolsa integral, que cobrirá tanto as despesas, quanto o seu seguro-saúde.
 
Ela se descreve como confiante, animada e um pouco ansiosa para constribuir com avanços para a socidade brasileira, a partir da sua produção no país norte-americano. "Eu sou muito inspirada por mulheres negras que seguiram a mesma trajetória que eu na pesquisa e quero muito trazer esse legado para o Brasil, de ser uma pensadora sobre a luta antirracista e a igualdade de gênero", conclui.
 
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Processo de conquista da bolsa

Para conquistar a vaga, Camila conta que a participação nas oportunidades divulgadas pelas feiras EducationUSA foi essencial. Dessa forma, ela foi selecionada em um processo seletivo que indicariam quais alunos concorreriam às bolsas para financiar o PHD.




 
Ainda, ela destacou que o processo durou aproximadamente um ano e que "eles auxiliaram financeiramente e com assistência técnica, sempre trabalhando a nossa autoestima, para que acreditássemos, de fato, que éramos capazes de conseguir".
 
Dessa forma, ela relatou que as pequenas conquistas ao longo do processo a prepararam para a realização do sonho. Assim, como se sentia confiante e preparada, não foi surpreendida com o resultado, mas se sentiu muito feliz. 

A Feira EducationUSA América Latina

Camila foi orientada e recebeu toda a orientação para conseguir a bolsa de estudos, na Feira EducationUSA América Latina. Neste ano, o evento ocorre em agosto, nos dias 27 no Rio de Janeiro, 29 em Brasília e 31 em São Paulo.




 
Os participantes poderão ter contato com algumas das instituições estadunidenses mais famosas e renomadas do mundo, a exeplo da University of California Los Angeles, da Yale University, da George Washington University e da Carnegie Mellon University.

Primeiras impressões sobre os EUA

Camila conta que se surpreendeu com o calor intenso do verão e que convive com pessoas de nacionalidades diversas, proporcionando uma experiência multicultural. Ela está morando em Fairfax, cidade próxima à Washigton, capital do país. Suas primeiras impressões foram que os moradores da cidade são majoritariamente funcionários do Governo e estudantes e que "as casas são tipicamente sulistas, como as que víamos nos filmes", comenta. 
 
À esquerda, casa na qual Camila viveu em Santa Cruz de Minas; à direita, casa na qual ela mora atualmente em Fairfax (foto: Foto: acervo pessoal)