A escritora e poetisa Luciene Carvalho tornou-se a primeira mulher negra a assumir presidência de uma Academia de Letras no Brasil no último sábado (16), após eleição que aconteceu na Academia Mato-Grossense de Letras (AML-MT). Cerimônia de posse será no dia 30 de setembro.
Luciene é corumbaense radicada em Cuiabá e vive há 22 anos da poesia, tendo 14 livros publicados, sendo um deles, ‘Dona’, uma das obras literárias exigidas para quem vai se candidatar a uma vaga na Universidade Estadual de Mato Grosso. A poetisa conta que seu encantamento pela declamação surgiu precocemente:
“Era a minha forma de dialogar com o social. Eu era reduzida ao universo familiar e, quando eu precisava me comunicar, me expressava pela poesia”.
O chamado para poesia se potencializou após o falecimento do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, em 1987.
“Senti um chamado interno muito grande para a poesia. Comecei a escrever muito, em fluxo profundo. Foram anos até entender que não havia outra saída, a não ser me render à poesia”, contou Luciene.
O rendimento aconteceu no ano de 2000, quando começou o processo de publicação de livros. Seu ingresso na AML-MT aconteceu em 2015, ocupando a Cadeira 31. Sobre a sua candidatura, Luciene confessa ter hesitado:
“Em um primeiro momento, recusei fortemente. Não me sentia pronta. Reflexões pessoais, com meu companheiro e meus pares, me fizeram entender que talvez tivesse um sentido maior, inclusório, relevante. Mas, para mim, ser presidente não é um trabalho solitário. Estou cercada de pessoas muito competentes, é uma chapa linda, que espero que continuem comigo pelos dois anos de mandato”, contou a poetisa.
Além do ineditismo de uma mulher negra ocupar o cargo, também será a primeira vez que a presidência de uma Academia de Letras será passada de uma mulher para outra. Sobre a importância deste momento, a poetisa expressa gratidão:
“Ser uma mulher negra não é o foco do meu existir, para mim, é muito importante que eu siga pelo talento, competência e capacidade de envolver pessoas. Mas, a representatividade não é uma escolha. A gente não ensaia ‘ter representatividade’. Ela vem do outro para a gente, então acolho com respeito e gratidão. Se eu puder, de alguma forma, fortalecer meninas que queiram colocar suas narrativas, sonhos e escrita para jogo, irei me sentir muito grata”.