Há duas semanas, o plano foi posto em prática. Eliminada na primeira fase do STU de São Paulo, com um 29º lugar modestíssimo para quem já foi vice-campeã do torneio em 2018 e finalista de duas etapas no ano passado. Lu se deu conta que o que estava atrapalhando seu desempenho não era o shape, a rodinha, a academia... eram os efeitos de seis meses de tratamento hormonal.
"No início, meu pensamento era de: vou transicionar, mas vou continuar competindo no masculino porque vou ter a força igual sempre tive, vou ser uma Mulher Maravilha. E nos primeiros dois meses foi assim mesmo, eu mantive minha força. Depois, passei a não conseguir fazer o que fazia antes, e comecei a me frustrar. Troquei 10 vezes de shape e não conseguia fazer. Ficava botando culpa no shape, na roda, na pista", conta Lu.
"Minha endócrino[logista] tinha me avisado que eu perderia força, mas eu não tinha botado fé. As pessoas falam que a mulher trans tem muito mais força que a mulher cis, e eu também achava. Só nesta etapa do STU em São Paulo, que tinha uma pista muito maior, que eu percebi que não tinha força para subir nos corrimões altos, nos caixotes. Foi só ali que eu entendi que não era problema do shape, da roda, da pista, era que meu corpo estava mudando. Eu olhava minhas pernas e pensava: 'perdi minha perna, preciso fazer o funcional'. Mas é meu corpo ficando um corpo de mulher".
Ela admite, porém, que é difícil convencer disso quem não quer acreditar. "Se nem eu, que transicionei, acreditava que ia perder força, imagina quem só vê de fora. Só vai entender quem passar por isso."
EX-LUIZ NETO
Diferente de outras mulheres transexuais, que preferem apagar os registros da vida antes de transicionar, Lu Neto não vê problemas em dizer que, até muito recentemente, era Luiz Neto. A vontade já vinha há alguns anos, mas ela temia a consequência de uma decisão desse tipo na vida de quem vive de contratos de imagem.