Na última sexta-feira (20), o arquiteto belo-horizontino Douglas Barcelos — também conhecido como ‘Doug’ — realizou um desabafo na rede social TikTok, que, ineseperadamente, lhe rendeu mais de 80 mil visualizações.
Entitulado de ‘Desabafo de um jovem adulto gay’, o vídeo é um relato de Doug sobre a ‘máscara’ que veste ao precisar fazer algo que ‘não é de gay’, como levar o carro a uma oficina mecânica, por exemplo.
“Há umas duas semanas atrás, o meu carro começou a dar problema, e, na segunda-feira (16), fui em duas oficinas para ver preço, etc. Só que gente, eu chego na oficina e mudo toda a minha personalidade para a de um homem hétero [...] Toda vez que tenho que passar por uma situação que não ‘para os gays’, penso que vou ser passado para trás ou que as pessoas não vão me dar credibilidade”, contou Doug em seu vídeo.
O jovem também relatou que ele ‘assume’ essa personalidade como um mecanismo de defesa, para não sofrer algum tipo de homofobia. O medo de Doug, infelizmente, não é infundado. Segundo dados do Painel LGBTQIA+Fobia da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), no primeiro semestre de 2023, Minas Gerais viu um aumento no número de crimes ligados à homofobia e transfobia.
Enquanto nos primeiros seis meses de 2022 foram registrados 217 delitos dessa natureza, no mesmo período deste ano foram contabilizadas 263 ocorrências, representando um aumento de 21%. Esss dados indicam um crescimento preocupante, pois fez com que 2023 se tornasse o ano com o maior número de registros desse tipo no primeiro semestre desde 2016, quando começou a série histórica.
Douglas alegou já ter sofrido um caso de homofobia, quando tinha cerca de 20 anos:
“Eu estava em um restaurante com um ex-namorado, e estava sentado de um lado, e ele, do outro da mesa, ou seja, tinha uma mesa entre nós dois. Estávamos de mão dada e de vez em quando, a gente dava uns selinhos. Uma das garçonetes veio até a mesa e falou: ‘olha, o gerente pediu para vocês pararem com os carinhos’, então a gente se levantou e fomos embora do lugar. Infelizmente não fizemos nada, ficamos inibidos com o constrangimento. Hoje eu agiria de outra forma, com certeza tomaria alguma providência”, contou o arquiteto.
Doug acredita que o medo dessas situações acabam interferindo em acontecimentos futuros, como uma especie de ‘casca’. “Quando você vai passando por essas situações, quando você vive essas coisas ou que alguém conta para você que viveu, você realmente cria essa casca, sabe, porque você não quer passar por isso. As pessoas não querem situações desagradáveis, não querem se explicar o tempo todo, não querem se proteger o tempo todo, então você acaba mudando as suas características em certas situações”, explicou.
Apesar de estar relatando uma situação infeliz, Douglas diz ter ficado contente com a repercussão do vídeo, pois muitos se identificaram com a situação e compartilharam as suas próprias experiências.
“Apareceram muitas pessoas comentando e se identificando, jovens gays dizendo que fazem a mesma coisa que têm as a mesma atitude. Muitos deles comentaram que eles agem dessa maneira na barbearia, quando entram no Uber, no trabalho…”
“Sofri homofobia em um estabelecimento, e agora?”
Em 2021, os legisladores da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) aprovou um Projeto de Lei (PL) que atualiza a Lei nº 14.170, de 2002. Essa emenda ampliou a proteção contra discriminação para incluir identidade de gênero e expressão de gênero. Estabelecimentos que discriminarem o público LGBTQIA podem receber advertências, suspensões ou interdições, e enfrentar multas de R$ 850 a R$ 45 mil, dependendo da gravidade da discriminação.
Quando se trata da Grande Belo Horizonte, há a Lei nº 8176, em vigor na região desde janeiro de 2001, proíbe estabelecimentos comerciais e organizações de discriminar pessoas com base em sua orientação sexual. O Artigo 2º da lei autoriza penalidades para aqueles que praticarem discriminação ou adotarem coação ou violência contra indivíduos com base em sua orientação sexual.
*Estagiária com supervisão do subeditor Diogo Finelli.