Jornal Estado de Minas

PESQUISA

Pessoas negras são mais vulneráveis a erros médicos, diz pesquisa

Luis Fernando Souza (Especial para o Correio) —  Uma pesquisa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) e do Instituto Çarê, revelou que, entre 2010 e 2021, pessoas negras sofreram mais acidentes ou incidentes adversos durante procedimentos médicos no Brasil. O estudo, que foi divulgado neste mês, faz parte do projeto Boletim Saúde da População Negra que é uma iniciativa da Cátedra Çarê-Ieps.





 

Os erros médicos do estudo se referem a cortes acidentais, perfurações e objetos estranhos deixados no corpo do paciente durante procedimentos cirúrgicos, assim como erros de dosagem, administração de substâncias contaminadas, entre outras adversidades que podem ocorrer durante o período de internação.

 

Segundo a pesquisa, entre 2012 e 2021, no Norte e no Nordeste, as chances de acidentes durante a internação foram seis vezes maiores entre a população negra. Já no Centro-Oeste o número foi três vezes maior, enquanto no Sudeste 65% maior. Apenas na região Sul o caso foi invertido e pessoas brancas apresentam 38% mais chances de sofrerem acidentes e incidentes adversos durante os períodos de internação.

 

 

O boletim também mostra que o pico de acidentes e incidentes para a população negra aconteceu em junho de 2016, quando 241 pessoas sofreram algum evento adverso, ou seja uma média de mais de oito casos diários. Já para a população branca a maior incidência foi em junho de 2015, quando 180 pessoas tiveram alguma ocorrência, uma média de seis casos por dia.





 

A publicação mostrou que durante os anos analisados (2010 e 2021), houve 66.496 registros de internações devido a erros médicos (em número geral), sendo 26.779 brancos, 21.977 negros; 792 amarelos; 35 indígenas e 16.913 sem informação.

Dados gerais da pesquisa

No período analisado, a proporção entre acidentes ocorridos em pacientes durante a prestação de cuidados e incidentes durante atos diagnósticos associados ao uso de dispositivos e aparelhos se mantiveram estáveis. Já em números absolutos, a pesquisa mostra que o ano de 2015 foi o que apresentou o maior patamar de registros por acidentes e incidentes adversos, com um total de 7,08 mil casos (em pessoas brancas e negras). Veja o gráfico a seguir:

 

Acidentes ocorridos em pacientes durante a prestação de cuidados (parte amarela da barra) e incidentes durante atos diagnósticos associados ao uso de dispositivos e aparelhos (parte laranja da barra). Fonte: Elaboração própria com base em dados do SIH. Acidentes ocorridos em pacientes durante a prestação de cuidados (parte amarela da barra) e incidentes durante atos diagnósticos associados ao uso de dispositivos e aparelhos (parte laranja da barra) (foto: IEPS)

 

Entre 2016 a 2021 foi registrado uma queda gradual no número de casos. De acordo com o boletim, essa diminuição pode indicar, por um lado, melhorias na gestão e prevenção dessas situações e, por outro, um crescimento do volume de subnotificação.

No documento é apontado que esses acidentes podem ocorrer em consequência da falta de habilidade ou conhecimento; imprudência; e até mesmo negligência por parte do profissional de saúde. Além disso, ações equivocadas podem contribuir para que ocorra esses eventos. Outro ponto levantado pela pesquisa é que diante da identificação de deficiências no sistema organizacional e na execução dos serviços é possível a análise e a chance de aprimorar o trabalho.