Rebeliões em senzalas, a resistência dos quilombos e a luta dos negros desde a época do Brasil colônia. Esse é o tema de Mata rasteira, peça que estreia nesta sexta-feira (8), no Sesc Palladium, e fica em cartaz até 17 de março. A produção é dos integrantes do grupo Caras Pintadas, Rodrigo Negão e Gabriel Coupe, que adaptaram o romance homônimo de Abner Laurindo. O autor vai bater papo com o público depois da sessão de hoje.
Rodrigo Negão interpreta Nlongi, angolano capturado por portugueses e obrigado a trabalhar em uma plantação de cana no Brasil. Durante uma rebelião, ele escapa e ergue um quilombo. O enredo enfatiza a resistência ao cativeiro e os reflexos da escravidão na sociedade contemporânea.
A ideia da peça surgiu em 2017, durante encontro de Negão e Abner Laurindo no projeto Miss Afro, em Sorocaba (SP). “Houve identificação pelo fato de Rodrigo ser capoeirista. A faísca surgiu da capoeira, trabalho de preparação corporal do ator e também estilo de vida”, conta o diretor Gabriel Coupe.
A montagem se baseia em extensa pesquisa bibliográfica a partir do trabalho de historiadores como Clóvis Moura.
Coupe diz que não pretende estimular debates com base em opiniões ou ideologias, mas em dados científicos. “Mostramos como esse tipo de resistência ocorre até hoje e como o escravismo é fundante da sociedade contemporânea, desigual e despolitizada”, afirma. Na opinião dele, a ausência de ferramentas que levem à mudança estrutural da sociedade brasileira é sintoma da “falsa abolição”.
“Essa abolição formal converteu escravos em maus cidadãos, em pessoas que não conseguem ser plenas na sociedade, pois são historicamente alijadas de direitos”, diz Coupe.
A representatividade também vai entrar em cena. O diretor destaca o fato de a equipe da peça ser majoritariamente negra. “Só tem um branco, a cota”, brinca.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
MATA RASTEIRA
Direção e dramaturgia: Gabriel Coupe. Concepção e atuação: Rodrigo Negão.