Fiel à culinária regional, baseada na carnes bovina e suína, o belo-horizontino vem abrindo espaço para cardápios veganos, 100% livres de proteína animal. Durante a quaresma – época em que muitos católicos se abstêm de consumir picanha, linguiça, pernil e afins –, aumenta a procura por essa alternativa. É uma oportunidade para os adeptos do veganismo difundirem o movimento, que prega tanto a dieta mais leve quanto a visão política que rejeita o sofrimento dos animais. Em BH, Camaradería, Vegan 2 Go, San Ro e Villa Veg oferecem receitas que conquistam cada vez mais público, inclusive carnívoros de carteirinha.
O Camaradería, gastrobar no Bairro Funcionários, propõe-se a abrir espaço para a culinária vegana. “Queremos que ela tenha espaço para se mostrar como realmente é. A quaresma traz essa oportunidade, pois o público fica mais suscetível a experimentar o novo”, afirma Gabriel Neiva, que comanda o restaurante com o sócio Bruno Faria.
Tanto no almoço quanto no happy-hour o espaço atrai público de diferentes gerações e estilos de vida. O cardápio reúne opções fixas e itinerantes, de acordo com o dia da semana. Aos sábados, o shitake é o ingrediente principal de um clássico da quaresma: a moqueca. A refeição custa R$ 34,90. “Nesse período, há a tradição de busca por pratos com frutos do mar. Em nossa moqueca, o peixe é substituído pelo cogumelo. A composição fica extremamente harmônica e muitos apontam o sabor da releitura como melhor do que o original”, conta Gabriel Neiva.
Também é possível inovar no risoto. Um destaque é o de castanhas com ora-pro-nóbis, cogumelos e tomate (R$ 42). Para compartilhar, Neiva sugere a porção de acarajé vegano com vatapá de castanhas (R$ 49) e os cubinhos de mandioca (R$ 26). Entre os doces, o carro-chefe é o cheesecake de frutas vermelhas (R$ 16,90 a fatia).
ORIENTAL
De origem taiwanesa, o San Ro foi aberto em 2004. É um dos pioneiros ao oferecer, na capital, cardápio 100% vegetariano com opções veganas. Com cinco sócios “importados” da ilha oriental – Lai Chuan Li, Chiu Rongju, Hsiao Jung Yi, Chen Chu Tsai e Zhau Uei Li –, seu menu é peculiar.
“O chef Lai usou o conhecimento como especialista na culinária tradicional chinesa para desenvolver e aprimorar um cardápio adaptado à dieta livre de proteína animal. Um dos principais focos nessa jornada é evoluir a textura e o sabor dos diferentes tipos de soja e de outros ingredientes. Com isso e por reunir um mix da culinária oriental (Japão, China e Taiwan), o San Ro construiu uma identidade de sabores muito própria”, diz André Li, filho do chef e um dos profissionais do espaço.
Diariamente, durante o almoço, o self-service inclui salaten (mix de folhas com castanhas, batata palha e creme de tofú enrolado com alga), guioza com recheio de soja e legumes, berinjela Tang Tzhu (empanada e temperada com abacaxi e molho agridoce) e bardana ou raiz frita, entre outras receitas. O preço do quilo é R$ 59,90, de segunda a sexta-feira, e R$ 69,90, nos fins de semana e feriados.
De acordo com André Li, o perfil do público é 60% a 70% não vegetariano/vegano. O movimento aumenta de 10% a 20% durante a quaresma.
Abstinência sem sacrifício
A procura durante a quaresma também aumenta no Vegan 2 Go, restaurante, hamburgueria e sushibar com unidades na Savassi e no Buritis. “Muitos fazem abstinência de carne vermelha nesse período. Opções como os burgers de soja ou de cogumelos agradam a carnívoros que procuram semelhanças com o sabor e o aspecto da versão tradicional”, afirma Camila Marques, sócia de Robson Guidi na casa, aberta em 2017.
O burger de grão-de-bico, com agrião, tomate, maionese protéica de alho-poró e cebola caramelizada, custa R$ 28,90. O de lentilha, com cogumelos salteados, abacate, tomatinhos confitados, maionese de tahine e alface (R$ 28,90), é queridinho no pós-treino do público esportista.
Na linha de influência japonesa, o temaki low carb e protéico reúne arroz de couve-flor, cogumelos salteados, creme de tofu, algas e alho-poró (R$ 22). O sushi leva arroz, algas, tofu, legumes, frutas e cogumelos (de R$18 a R$ 90, de acordo com o número de peças).
A jornalista Shirley Fraguas e a chef Tatiane Gonçalves comandam o Villa Veg, restaurante e lanchonete dedicado à comida caseira, artesanal 100% vegana. “Nosso cardápio tem sanduíches, almoço, sucos de frutas naturais, sorvetes feitos pela gente, mousses, pavês, chocolates industrializados e também de produção própria”, lista Tatiane.
Preconceito
As sócias, ambas veganas, querem derrubar preconceitos em relação à dieta livre de proteína animal. Muitos pratos são releituras, como a feijoada servida às sextas-feiras, com arroz, couve, vinagrete e farofa (de R$ 16 a R$ 19). Lá também tem kaol veg, inspirado no PF de sustança criado pelo tradicional Café Palhares.
“O nosso kaol leva ‘ovo’ e linguiça de origem vegetal, além de couve, farofa, arroz e molho da casa”, conta Tatiane. O preço é R$ 20. Também há a releitura do pão com linguiça (R$ 19) e sorvetes de sabores variados à base de leite vegetal (a partir de R$ 9).
Outra opção é a batatoada, que lembra a bacalhoada. A diferença está na nata de soja desfiada e na alga, que substituem a proteína tradicional. O prato médio custa R$ 16 e o grande, R$ 19. Ambos vêm com arroz e salada de folhas cultivadas organicamente.
Tudo verde
CAMARADERÍA
Rua Cláudio Manoel, 555, Funcionários, (31) 3646-4616. Abre segunda e terça-feira, das 11h30 às 15h; de quarta a sábado, das 11h30 às 23h; e domingo, das 11h30 às 16h30.
SAN RO
Rua Professor Morais, 651, Funcionários, (31) 3264-9236. Abre de segunda a sexta-feira, das 11h30 às 15h, sábado, domingo e feriado, das 11h30 às 15h30.
VEGAN 2 GO
Avenida Getúlio Vargas, 1.423, Savassi. (31) 3221-1910. Avenida Aggeo Pio Sobrinho, 187, loja 15, Burits, (31)3582-8516. Abre terça e quarta-feira, das 17h às 22h30; quinta e sexta, das 17h às 23h30; sábado, das 12h às 23h30; e domingo, das 12h às 21h30.
VILLA VEG
Rua dos Timbiras, 715, Funcionários, (31) 3568-5749. Abre de segunda-feira a sábado, das 11h30 às 15h.