Recentemente, o The New York Times aproveitou a chegada da primavera no Hemisfério Norte e publicou um artigo do falecido neurologista e escritor britânico Oliver Sacks (1933-2015) sobre o poder curativo dos jardins. No texto, o médico enfatiza como esses lugares são essenciais para o processo criativo e também para a saúde das pessoas. “Em 40 anos de prática médica, descobri que apenas dois tipos de ‘terapia’ não farmacêutica são de vital importância para pacientes com doenças neurológicas crônicas: música e jardins”, afirma Sacks em um dos trechos.
Mas não é preciso esperar a chegada da estação mais florida do ano – que só ocorre em setembro no Brasil – para apreciar as belezas de plantas, árvores e flores. Belo Horizonte guarda verdadeiros oásis em meio ao mar de prédios, incluindo, trabalhos de um dos mais conceituados paisagistas do mundo, Roberto Burle Marx. O Conjunto Arquitetônico da Pampulha traz projetos que consagraram o arquiteto Oscar Niemeyer, como o Museu de Arte da Pampulha (MAP), a Casa do Baile, a Casa Kubitschek e o Iate Tênis Clube, e têm uma integração total com o ambiente onde estão inseridos. “Desde que esses equipamentos foram idealizados, já havia esse pensamento de ter um diálogo com o que está em volta e com os jardins. E no caso do Burle Marx são verdadeiras obras de arte”, defende Janaína França, gerente do Conjunto Moderno da Pampulha.
Um dos jardins que mais se destacam por sua variedade e grandiosidade é o do MAP. As árvores e plantas parecem fazer parte do acervo.
Já na Casa do Baile, que fica praticamente numa ilha, é comum encontrar espécies aquáticas como as ninfeias. “E para não competir com a edificação, que não é muito grande, foram utilizadas plantas de pequeno porte”, explica. Exemplares aquáticos também podem ser encontrados na Casa Kubitschek, onde a piscina que era utilizada pelos antigos moradores – no caso, o ex-presidente JK e a família – se transformou em um espelho d’água. Aliás, uma vez por mês há visita guiada pelos jardins da residência, hoje um museu. “É interessante que os jardins guardam uma relação especial com a história da edificação, como nesse exemplo da Casa Kubitschek.
Michele Arroyo, presidente do Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), ressalta o fato de que é possível apreciar a beleza de flores e plantas o ano inteiro na cidade. Uma das espécies mais brasileiras, o Ipê, começa a florescer em pleno inverno. Em BH, boa parte deles pode ser encontrada na região Centro-Sul, como no entorno da Praça da Liberdade. O espaço, que data da época da construção da nova capital, recebeu, assim como outras áreas destinadas ao ócio e ao lazer da cidade, um paisagismo com inspiração inglesa, que trazia características imitando elementos da natureza.
REPAGINADO
Na década de 1920, com a visita do casal real belga ao Brasil, incluindo Minas, vários espaços – como as Praças da Liberdade e a Rui Barbosa, ganharam toques do paisagismo francês. “E é completamente diferente do inglês.
Mais do que função contemplativa
Um jardim botânico é aquele dedicado à coleção, cultivo e exposição de uma ampla diversidade de plantas. A Região Metropolitana de BH conta com três destes espaços – dois na capital e um em Brumadinho, o mais conhecido e visitado deles. O Inhotim reúne num mesmo endereço um centro de arte contemporânea e jardim botânico em uma área de 133 hectares. Não é à toa que o público se encanta com o que vê por lá – das obras de arte às plantas, flores e afins.
A área do Inhotim tem 5 mil espécies com múltiplos de exemplares, abrigando uma das maiores coleções vivas de palmeiras do mundo. “Somos o único jardim botânico do Brasil que é vizinho de uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), que tem 250 hectares, o que até nos protege”, salienta.
Dentre os destaques do lugar, uma estufa de 25 mil metros que guarda coleções de espécies que vivem em ambientes bem específicos. Mas a maior parte dos visitantes se encanta mesmo é com os jardins abertos, como os temáticos. Entre eles o desértico (com cactos, suculentas e plantas com baixa demanda de água) e o de orquídeas. Para Lucas, o grande diferencial do Jardim Botânico de Inhotim é ser ainda um museu de arte contemporânea. “E a maior qualidade do museu é ser também um Jardim Botânico.
Na região da Pampulha, o Jardim Botânico, localizado no mesmo complexo onde está o Zoológico, tem estufas temáticas de biomas de Minas Gerais, como a Mata Atlântica, a Caatinga e o Campo Rupestre. Além de voltado à pesquisa, é aberto à visitação. “A maioria das pessoas vem conhecer os animais do Zoo e por isso o jardim fica um pouco de lado. Mas é um lugar muito especial, em que pode se conhecer um pouco mais sobre a história evolutiva das plantas, as formas de reprodução e dispersão de sementes, ter contato com o mais variados tipos de árvores, folhagens, flores e trepadeiras”, destaca a bióloga Miriam Mendonça, gerente do Jardim Botânico.
O espaço conta com produção de mudas, banco de sementes e laboratório para controle de pragas. Bem próximo dali está o único Jardim Japonês da cidade, criado pelo paisagista japonês Haruho Ieda em 2008 – ano do centenário da imigração japonesa no Brasil. Foram plantadas árvores típicas do país, como o pinheiro oriental, cerejeira, azaleia e o bambu. O espaço tem elementos nipônicos, como pontes e lanternas decorativas, lagos com carpas coloridas, cascatas e até uma casa de chá. “Andar no meio desses espaços traz uma paz, uma tranquilidade. São benefícios não só para o meio ambiente, claro, como para o nosso bem-estar”, acredita Miriam.
AO TOQUE DAS MÃOS
O Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, no Santa Inês, Zona Leste, tem 600 mil m² de área. Possui vegetação diversificada e típica da Mata Atlântica, reunindo espécies nativas e exóticas – são aproximadamente 400, sendo a maioria de árvores. O espaço tem se dedicado a jardins temáticos, como o de plantas medicinais, o sensorial – para que o visitante possa literalmente sentir e tocar as espécies –, jardim de flores e até um com espécies da época dos dinossauros, como revela a bióloga Jaqueline Gomes Rodrigues. “Ele fica próximo á area da paleontologia e traz plantas como as samambaias e as gimnospermas, que são bem antigas evolutivamente”, comenta. Ela ressalta projetos educativos a partir de trilhas, oficinas e visitas guiadas. “Nada substitui esse contato in loco. Numa cidade como a nossa, cheia de concreto, poder ter um refúgio como esse é um privilégio. Um jardim permite a diminuição da temperatura, serve de abrigo para animais e nos deixa menos estressados e mais criativos. Só tem benefícios”, destaca Jaqueline.
CASA KUBITSCHEK
Avenida Otacílio Negrão de Lima, 4.188, Pampulha. (31) 3277-1586. De terça a domingo, das 9h às 18h. Entrada franca.
CASA DO BAILE
Av. Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha. (31) 3277-7443. De terça a domingo, das 9h às 18h. Entrada franca.
FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA (ZOOLÓGICO, JARDIM BOTÂNICO E JARDIM JAPONÊS)
Av. Otacílio Negrão de Lima, 8.000, Pampulha. (31) 3277-8489. De terça a domingo (incluindo feriados), das 8h às 17h. Entrada: De terça a sexta: R$ R$ 4,95; sábado: R$ 6,20 (por pessoa) e domingos e feriados: R$ 9,95. O pagamento da entrada do veículo é cobrado à parte. Automóvel – de terça a sábado: R$ 12, 45 e domingos e feriados: R$ 24,95
INHOTIM: INSTITUTO DE ARTE CONTEMPORÂNEA E JARDIM BOTÂNICO
Rua B, 20, Brumadinho. (31) 3571-9700 e 31 3194-7300. De terça a sexta, das 9h30 às 16h30. Sábado, domingo e feriado: das 9h30 às 17h30. Entrada: terça, quinta, sexta, sábado, domingo e feriado: R$ 44,00 (inteira), R$ 22 (meia). Quarta-feira (exceto feriado): entrada gratuita.
MUSEU DE ARTE DA PAMPULHA
Av. Otacílio Negrão de Lima, 16.585, Pampulha. (31) 3277-7996. De terça a domingo, das 9h às 18h. Entrada franca.
MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL DA UFMG E JARDIM BOTÂNICO
Rua Gustavo da Silveira, 1.035, Santa Inês, (31) 3409-7650. De quarta a domingo, das 10h às 17h. Sábado e domingo, das 10h às 17h. R$ 10. Crianças até 5 anos, maiores de 60, estudantes e funcionários da UFMG não pagam..