Mesa democrática
Bares de BH atraem todos os tipos de público para jogar sinuca
Há quem defenda que o lugar mais democrático do mundo é a mesa de bar. Mas outra mesa é tão ou mais igualitária e popular: a de sinuca. É difícil definir exatamente sua origem, mas a tese mais conhecida é de que essa modalidade do bilhar, atividade que abarca vários jogos de mesa com tacos e bolas, surgiu a partir do francês croqué, disputado em gramados dos palácios da França no século 15. Outra corrente defende que o esporte é uma variante do snooker, jogo de mesa inventado em 1875, na Grã-Bretanha.
Fato é que quando ele chegou ao nosso país, no começo do século 20, ganhou logo aquele jeitinho brasileiro, conquistando adeptos principalmente entre os boêmios. Passados tantos anos, a sinuca, que se tornou esporte com direito a campeonatos oficiais, continua presente no circuito de bares e afins.
“Na sinuca, todo mundo é igual. Pobre, rico, gente nova ou mais velha. No meu estabelecimento, não faço distinção de ninguém. Recebo todos os tipos de pessoas, de prostitutas a empresários”, afirma Robson de Oliveira Costa, proprietário há 14 anos da Cervejaria Sinuca Bar, que fica na Rua Tomé de Souza, no Funcionários, perto do tobogã da Contorno.
Antes de comandar essa casa, ele chegou a ter um bar especializado no jogo na Rua Jacuí. “A sinuca tem público cativo, cada vez mais em expansão. O que me sustenta é ela, as pessoas vêm aqui por causa dela. Em breve, vou abrir outro bar na Avenida Brasil, em Santa Efigênia, com umas 20 mesas de jogo. Ele é seis vezes maior do que o espaço do Funcionários, mas acho que o investimento vai valer”, revela.
Sinuca é sinônimo de lazer. Sinuqueiro desde criança, como gosta frisar, Robson nunca gostou de jogar com apostas e nem estimula isso em seu bar. Para ele, a modalidade deve ser encarada como hobby. “Acho isso muito mais saudável. É o momento para você divertir e se desligar”, prega.
MULHERES
Robson Costa revela um fenômeno em várias casas do ramo: a presença cada vez mais intensa do público feminino. Se no passado havia certo preconceito em relação às sinuqueiras, hoje elas estão jogando igual ou até melhor do que os homens. “Grupos de amigas costumam vir juntas, isso é cada vez mais comum. A gente até incentiva, tanto que a logomarca do nosso bar é uma garota jogando sinuca”, conta Marcelo Alvim. Dono do Caçapa's Bar, em Santa Tereza, ele tomou gosto pelo jogo por conta de uma tradição familiar.
O espaço com 12 mesas, aberto há 10 anos, é o único do gênero na região. Marcelo diz que 70% da clientela vai lá por conta desse atrativo. “Brasileiro, de maneira geral, gosta muito de sinuca. Ela está presente em clubes e sítios, até criança gosta. Eu mesmo, quando garoto, matei muita aula pra jogar (risos). É uma diversão.”
Boa parte das mesas de sinuca de BH se concentra nos bares e botecos do Centro. Difícil não encontrar um que não tenha a famosa sinuquinha ou o sinucão (maior, também conhecido como bilhar). Tim Academia de Bilhares, na Rua dos Carijós, está entre os pontos mais tradicionais do ramo. Aberto há 24 anos por Valdemir Gonçalves, o Tim, e gerenciado pela irmã dele, Onisa Gonçalves, a Neném, o local se tornou referência. Costuma ter público cativo diariamente – não apenas nos fins de semana. “Tem gente que vem todos os dias. O movimento é maior a partir das 18h e se intensifica na madrugada. Quem gosta não abre mão”, avisa Neném.
Até Jeep virou mesa
A Caçapa's Choperia e Snooker Bar, no Buritis, é administrada desde 2012 pelo casal Amanda Faria e Luciano da Mata. São 14 mesas, uma delas montada sobre a carcaça de um Jeep Troller. O público é diversificado, com presença crescente das mulheres, diz Amanda. “Elas vêm conquistando espaço em várias áreas, não poderia ser diferente com a sinuca. Hoje em dia, é difícil uma mesa não contar com uma mulher.”
A proprietária da Caçapa's afirma que juntar duas paixões do brasileiro – cerveja e sinuca – é sinônimo de sucesso. “A gente recebe de 250 a 300 pessoas por noite, principalmente nos fins de semana. Cada dia tem um público diferente jogando”, diz.
ROCK
Sinuca e rock and roll combinam. Desde que abriram as casas do Circuito do Rock, os sócios Gustavo Jacob e Carlos Velloso fizeram questão de colocar uma ou mais mesas nos bares. “É uma marca da gente. O Lord (em reformas, deve abrir em março) tem uma; o Circus, que funcionava em Lourdes, também. As duas do Jack Rock Bar ficam movimentadas todos os dias”, conta Gustavo. “Nossa sinuca ficou tão conhecida na cidade que fizemos até torneios entre os frequentadores, com direito a prêmios.”
Gustavo Jacob diz que a sinuca promove a interação entre os clientes. “Quem chega sozinho começa a jogar e se enturma logo com outros jogadores. É uma oportunidade para conhecer pessoas. Tem gente que vem aqui sempre e criou um grupo de amigos entre os jogadores. É bem bacana, uma espécie de clube da sinuca”, afirma.
ONDE JOGAR
>> CAÇAPA'S
Rua Mármore, 644, Santa Tereza. (31) 3467-5954. Abre de terça a quinta e domingo, das 17h à meia-noite; sexta e sábado, das 17h às 3h. Ficha: R$ 2,50.
>> CAÇAPA'S CHOPERIA E SNOOKER BAR
Rua José Rodrigues Pereira, 640, Buritis. (31) 98201-3443 e (31) 3378-3723. Abre de terça a quinta, das 18h à meia-noite; sexta e sábado, das 18h às 3h. Ficha: R$ 3. Na mesa sobre o Jeep, a hora custa R$ 16,50.
>> CERVEJARIA SINUCA BAR
Rua Tomé de Souza, 22, Funcionários. (31) 99945-9027. Abre diariamente, das 16h às 7h. Uma hora de sinuca custa R$ 15 (independentemente do número de pessoas)
>> JACK ROCK BAR
Av. Contorno, 5.623, Funcionários. (31) 3227-4510. Abre segunda, das 20h às 2h30 (sinuca de graça); terça, das 21h às 2h30 (sinuca de graça); e quarta, das 21h às 3h (sinuca de graça até meia-noite). Quinta, das 21h às 4h; sexta, das 21h às 5h; sábado, das 21h às 5h30; e domingo das 19h às 2h30. De quinta a domingo, a ficha custa R$ 2.
>> TIM ACADEMIA DE BILHARES
Rua dos Carijós, 109, Centro. (31) 3226-8476. Abre de segunda a sábado, das 12h às 7h. Sinucão: R$ 20 (a hora). Sinuquinha: R$ 2 (ficha).