Jornal Estado de Minas

Especial

Peças infantis de grupo catarinense unem tecnologia digital e poesia



O barquinho amarelo é um clássico da literatura infantil de autoria da escritora mineira Iêda Dias da Silva, com ilustrações de Maria Augusta da Silveira. Referência na alfabetização de crianças do Brasil nas décadas de 1970 a 1990, o livro inspirou o Grupo Eranos Círculo de Arte, de Santa Catarina, em seu mais novo espetáculo. O barquinho amarelo está na programação do projeto Cena criança, que a trupe apresenta de 4 a 27 de janeiro no CCBB-BH.


 
Todas as peças, voltadas para a primeira infância, utilizam a tecnologia digital e a interatividade. Sandra Coelho, uma das integrantes do Eranos, conta que a companhia – que completa uma década em 2020 – sempre trabalhou com performances poéticas utilizando recursos tecnológicos. “Foi com Ronin luz e sombra, espetáculo de rua e adulto, que percebemos que podíamos explorar isso. Mesmo voltado para os mais velhos, as crianças ficavam fascinadas com aquela coisa da imagem”, recorda.
 
A ideia era “humanizar a tecnologia”. Em 2014, ela, Leandro Mamam (seu marido) e João Freitas criaram #Mergulho, montagem voltada a crianças de 1 a 6 anos, que narra a história de duas pessoas que vivem em universos diferentes – ele na terra e ela no mar – e buscam, com a ajuda do público, se encontrar. A produção utiliza como ferramenta principal a projeção digital atrelada ao som. #Mergulho – que fez temporada de sucesso em Belo Horizonte no meio do ano – também estará no Cena criança.
 
“A gente queria provar que a tecnologia vai muito além de deixar uma criança na frente de um tablet ou de um celular. Queríamos desenvolver um trabalho mais orgânico, humano e criativo”, frisa Sandra, que, além de atriz, é psicóloga. Tudo foi fundamentado em muita pesquisa em escolas e com o universo infantil. “Dessa forma compreendemos as possibilidades que os recursos multimídia podem trazer na construção de experiências artísticas e que tudo parte de um processo de entendimento sobre a própria contemporaneidade”.


 
Já O barquinho amarelo será apresentado pela primeira vez na cidade onde foi gestado. Mais do que isso, conta com cenários e figurinos de profissionais de BH. “Tem DNA bem mineiro, bem de BH. Então, vai ser muito simbólico. A gente esteve em contato o tempo todo com a Maria Augusta (ilustradora), que tem mais de 80 anos, e nos cedeu seus desenhos originais. Acabamos não utilizando, mas certamente nos inspiraram”, pontua Leandro.

COLETIVO Outro espetáculo que estará em cartaz é Pô! Ema, experiência interativa que mistura teatro, literatura e audiovisual. Pequenos em fase de alfabetização encontram, num ambiente intimista, uma escritora em crise que sente que sua inspiração e suas poesias estão “sumindo”. Com a ajuda da plateia ela descobre que, na verdade, uma Ema (em projeção digital interativa) está se alimentando de seus poemas. As crianças são estimuladas a criar com a escritora versos para alimentar a dona Ema e seus filhotinhos.
 
“É uma construção coletiva em que usamos a tecnologia para estimular a escrita, a leitura. Em todas nossas produções, o objetivo não é a criança só ver, mas ir embora com alguma mensagem. Fazer com que se relacionem e enxerguem o teatro como um espaço democrático de criação. Se a criança se manifesta, isso é incorporado à peça”, ressalta Sandra Coelho.