As empresas das potências emergentes são as que mais subornam ao fazer negócios no exterior, segundo um relatório publicado nesta terça-feira em Londres pela organização Transparência Internacional (TI), que situa as companhias brasileiras no quinto lugar entre as mais corruptas.
O estudo examina a prática de pagar subornos por sociedades com sede em 22 dos principais países exportadores, cuja exportação global combinada representou em 2006 75% do total mundial. Segundo o chamado Índice de Fontes de Suborno (IFS) de 2008, Bélgica e Canadá são os países com companhias menos propensas a subornar no exterior, ambos com uma pontuação de 8,8 (em uma escala que vai de 0 a 10), seguidos de Holanda e Suíça, com 8,7.
No outro extremo, aparecem Rússia (5,9), o país com empresas com mais tendência ao suborno, seguida por China (6,5), México (6,6), Índia (6,8), Brasil (7,4) e Itália (7,4). O IFS de 2008 se baseia em mais de 2.700 entrevistas com altos executivos de empresas de 26 países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.
"As economias emergentes não aparecem bem neste relatório", afirmou o diretor-gerente da TI, Cobus de Swardt, ao apresentar o estudo no Guild Hall, um edifício histórico da City, centro financeiro de Londres.
De acordo com Swardt, os subornos - e outros métodos de corrupção-- constituem nada menos que "10% do custo total de fazer negócios no exterior". No entanto, como informa o relatório, o fato de nenhum país ter recebido 9 ou 10 pontos "significa que todas as economias mais influentes do mundo são vistas, até certo ponto, como exportadoras de corrupção".
A diretora de pesquisa e política da TI, Robin Hodess, declarou à Agência Efe que a percepção sobre o Brasil não é tão negativa quanto a do México, por exemplo, pois os entrevistados costumam situar o país "na metade da tabela" do IFS, cuja divulgação coincidiu com o Dia Internacional contra a Corrupção, promovido pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Já em relação ao México, Hodess afirma que a pontuação do país representa um motivo de "preocupação", devido à sua influência regional. "Dos entrevistados, 38% destacaram a propensão das empresas do México a usar as relações pessoais ou familiares para obter contratos públicos, enquanto 32% disseram que subornam políticos de alto nível, partidos políticos ou funcionários públicos de baixo nível", disse o relatório.
De acordo com a especialista, esse resultado obriga o Governo e as companhias do México a "pensar em quais devem ser as soluções".
Setores
O documento analisa, além disso, o nível de suborno em 19 segmentos econômicos e conclui que "as empresas que operam nos setores de contratos e construção de obras públicas, desenvolvimento imobiliário, petróleo e gás, manufatura pesada e mineração são as mais propensas a subornar funcionários públicos".
Em relação a isso, o IFS considera como "setores mais limpos" os de tecnologia da informação, pesca, bancos e finanças. Mais de 66% dos entrevistados também responderam que os governantes "são ineficazes na luta contra a corrupção" ao serem perguntados sobre se os governos tomam suficientes medidas para eliminar os subornos.
"Dada a desigualdade e injustiça geradas pela corrupção, é vital que os governos redobrem seus esforços para aplicar as leis e os regulamentos existentes sobre o suborno no exterior e que as empresas adotem programas eficazes para combater este fenômeno", ressaltou a presidente da TI, Huguette Labelle.
"Por este motivo, os principais países exportadores devem comprometer-se a respeitar as disposições da convenção da OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico] contra o suborno", disse Labelle. Fundada em 1993, a TI é uma ONG que se dedica exclusivamente a combater a corrupção em escala mundial.