O brasileiro vai acordar no dia 25 de dezembro com roupa, sapato, óculos e bijuteria novos. E mais cheiroso e com maior quantidade de cremes nos armários. As vedetes de vendas no Natal não serão mais os importados e eletrônicos, como vinha acontecendo em anos anteriores. O consumidor vai investir mais em presentes para alegrar – e embelezar – o visual neste fim de ano. Um dos motivos é a crise financeira.
O medo de fazer dívidas está levando o consumidor a comprar produtos de menor valor agregado e que dispense financiamento de longo prazo. Nesse cenário, os produtos para melhorar o visual ganharam força nas vendas do comércio varejista.
“Neste Natal os líderes de vendas tendem a ser os artigos que não estão atrelados ao dólar e não precisam de crédito”, afirma Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC). A crise financeira, segundo ele, deixou o consumidor com mais receio de fazer dívidas altas. Com isso, a tendência é de que as vendas sejam de produtos mais compatíveis com o orçamento doméstico.
A indústria do vestuário em Minas Gerais deve fechar o ano com crescimento de 25% nas vendas em relação a 2007, segundo o Sindicato da Indústria do Vestuário de Minas Gerais. “O setor ainda não está em crise. Chegamos até a ter dificuldades para fazer a entrega dos pedidos. As pessoas têm problemas em comprar produtos de maior valor e que exijam financiamento. E neste momento, para elevar a auto-estima, começam a querer melhorar o guarda-roupa”, observa Michel Aburachi, presidente do sindicato. O segmento será beneficiado ainda pela alta do dólar em relação ao real, que favorece as exportações e prejudica as importações.
Confira a galeria de imagens
Comente esta matéria pelo e-mail: opiniao.em@uai.com.br
”A crise não chegou aqui”
A corrida atrás de produtos para melhorar o visual do consumidor era esperada pelo comércio. Pesquisa feita com empresários pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) no mês passado mostrou que as roupas serão o presente preferido neste Natal (37,63%), seguido dos brinquedos (18,55%), dos calçados e acessórios (15,02%) e dos perfumes e cosméticos (5,83%). Foram entrevistados 300 consumidores. Na mesma pesquisa no ano passado, os brinquedos lideraram a preferência dos presentes, com 32,6% do total.
“A crise atual vem direcionando o consumidor para esse tipo de produto. Ele não quer comprometer o orçamento com financiamento de longo prazo”, destaca o economista Fernando Sasso, gerente de pesquisa e mercado da CDL-BH. A entidade espera que as vendas para o Natal fiquem em torno de R$ 2 bilhões, crescimento entre 4,5% e 6,5% em relação a 2007.
A supervisora das lojas de roupas Hering do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, Cristina Vivas, é taxativa: “A crise não chegou às nossas lojas. Temos o diferencial de mix de produtos e preço”. As unidades da rede nas duas regiões, segundo Cristina, já venderam 20% a mais do que no mesmo período de 2007. “A tendência é de que as pessoas comprem artigos mais baratos”, afirma.
O quadro é bem diferente do Natal de 2007, quando o Papai Noel foi mais gordinho e trouxe mais do que as tradicionais roupas, sapatos e brinquedos. O crédito farto, a facilidade em parcelar os pagamentos em fatias que encaixam no orçamento doméstico e a valorização do real frente ao dólar criaram cenário propício para a compra de presentes mais caros. Os eletroeletrônicos foram as grandes vedetes, com destaque para os computadores convencionais e os práticos notebooks. Estiveram na lista ainda as TVs de LCD, câmeras digitais, telefones celulares, os pequenos tocadores de MP3 e os DVD players, tanto os que só reproduzem filmes quanto os que também gravam.