A balança comercial do setor têxtil brasileiro registrou em janeiro déficit recorde em toda a sua história, de US$ 342,3 milhões. O déficit resultou de importações no montante de US$ 451,9 milhões, contra exportações realizadas em igual mês de US$ 109,6 milhões. Os dados foram divulgados nesta terça-feira, pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
O diretor superintendente da Abit, Fernando Pimentel, afirmou que, embora as exportações tenham crescido 33,5% em janeiro, em relação ao mesmo mês de 2010, as importações apresentam um incremento mais veloz. O aumento das compras no exterior foi de 34,1%. “Esse quadro tem se repetido ano após ano”.
Em 2005, as importações do setor têxtil, sem fibra de algodão, somavam US$ 1,5 bilhão. Esse valor subiu para US$ 5 bilhões no ano passado. O principal motivo da elevação das importações é o câmbio desvalorizado, “que tornou mais grave todos os processos de desvantagem competitiva, como juros e carga tributária”, além da retração da demanda dos países desenvolvidos”.
De acordo com Pimentel, se governo não quiser que ocorra um “sequestro” para outros países dos postos de trabalho que poderiam ser gerados pelo setor têxtil no Brasil, é necessário acelerar a agenda de competitividade. O setor têxtil e de confecção enfrenta, no momento, um problema adicional, que é preço do algodão ter atingido o maior patamar dos últimos 140 anos.
“Com isso, a indústria brasileira, que tem um custo de capital muito maior do que seus concorrentes, é punida triplamente. Ou seja, não só a matéria -prima, o algodão, disparou de preço, como estamos vivendo a entressafra, e as empresas, para produzirem no Brasil, têm um gasto de capital muito superior aos seus concorrentes”.
A Abit não é contrar as importações ou ao livre comércio, “desde que seja feito de forma equilibrada, correta, leal e legal”. Pimentel criticou, em particular, a abertura do mercado nacional a países como a China, que “depreciam a sua moeda de forma administrada para ganhar competitividade no mundo”.
A entidade já levou ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) as reivindicações e propostas do setor. “Temos que acelerar essa visão de inserção no mundo. Não podemos entrar no mercado global com deficiências competitivas sérias, como temos na nossa área macroeconômica e de infraestrutura”. Segundo ele, o resultado de janeiro projeta para 2011 um déficit em 12 meses de US$ 4 bilhões, superior aos US$ 3,5 bilhões observados em 2010.
Para Pimentel, isso mostra que o governo tem que tomar medidas imediatas para solucionar os problemas do país, ao mesmo tempo em que deve fortalecer a defesa comercial. Para aumentar a competitividade sistêmica do Brasil, a Abit priorizou a redução dos encargos trabalhistas, isenção tributária para os investimentos e desoneração das exportações. A meta, disse o diretor, é trazer para os produtores brasileiros condições de competitividade mais equânimes com seus concorrentes internacionais.
Pimentel afirmou que a nova Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), que o MDIC está debatendo com os setores industrial, de comércio e serviços, tem uma característica de mais longo prazo. Ela tem o mérito de criar o exercício do trabalho conjunto entre governo e setor privado, pensando o país para um período de longo prazo, assinalou. Mas, no curtíssimo prazo, ele defendeu ações imediatas.