A uma semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que poderá elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ou 0,75 ponto percentual, Altamir Lopes e Sidnei Marques usaram a sabatina dessa quinta-feira no Senado, na qual foram aprovados para os cargos de diretores do Banco Central, para mandar um recado ao mercado: o BC usará todos os instrumentos que dispõe com o intuito de conter a disparada da inflação. Há o temor dentro do governo de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapasse o teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%. Ameaça que ficou ainda maior diante da escalada das cotações do petróleo no mercado internacional, por causa da crise na África e no Oriente Médio.
Tanto Altamir, que assumirá a diretoria de Administração do BC, quanto Marques, nomeado para a área de Liquidação e Controle de Operações de Crédito Rural, reconheceram a contínua piora das expectativas dos agentes econômicos, apesar de o Copom já ter aumentado os juros em janeiro, de 10,75% para 11,25% ao ano. Além da forte alta das commodities (mercadorias com cotação
A prévia da inflação oficial, o IPCA-15, cravou 0,97% em fevereiro, puxada, principalmente, pelas altas dos alimentos, das mensalidades escolares e das passagens de ônibus. Apesar de o número ser esperado, os analistas não esconderam o desconforto com os rumos do índice, que está muito além da média mensal adequada para o país, entre 0,37% e 0,38%. Segundo Altamir, a tendência é de os próximos indicadores mostrarem comportamentos melhores, pois parte do incremento da inflação no início deste ano decorreu de problemas na produção de alimentos, afetada por secas e enchentes ao redor do mundo. “O aumento da Selic é para corrigir distorções, como no segmento de serviços, que registra alta acumulada de cerca de 7% em 12 meses”, afirmou.
Trégua demorará
O BC acredita que a trégua na inflação só virá a partir do segundo semestre. Isso, é claro, se a Petrobras não for obrigada a reajustar os preços da gasolina — o que não está no cenário oficial do BC. “Por enquanto, o que se diz é que o atual choque do petróleo (cotado a mais de US$ 110) é temporário, ao menos até que de um jeito ou de outro se resolvam as coisas na Líbia”, disse Luiz Rabi, gerente de indicadores da Serasa Experian. “Agora, se a situação tiver um caráter mais permanente, espalhando para outros grandes produtores, como a Arábia Saudita, teremos de aguardar a postura da Petrobras quanto aos repasses que podem ser feitos ao consumidor”, ponderou.
Para Fernando Montero, economista-chefe da Corretora Convenção, a entrada de Altamir na diretoria do BC — há mais de 15 ano é chefe do Departamento Econômico do BC — reforça a credibilidade da instituição, sobretudo neste cenário complexo de inflação. “Ele está completamente alinhado com o regime de
metas e brigará pela manutenção do poder de compra do brasileiro”, afirmou. Essa posição foi reforçada pelo futuro diretor do BC em discurso antes de ser sabatinado no Senado. “Tenho o compromisso claro com o combate intransigente à inflação. Esse compromisso se traduz de forma objetiva na diretriz de cumprir as metas”, assegurou.
Sidnei Marques, também muito elogiado pelo mercado financeiro, deu o mesmo recado. “Vou contribuir para as missões do BC: assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e garantir um sistema financeiro sólido e eficiente”, frisou. Altamir e Marques foram aprovados na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, presidida pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) por 19 votos e duas abstenções.
Limites para o compulsório
Ao ser questionado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR) se o combate à inflação não poderia ocorrer por meio de outros instrumentos de política monetária, como o aumento dos depósitos recolhidos compulsoriamente pelos bancos, em vez de forçar a mão na alta das taxas de juros, Altamir Lopes, aprovado para a diretoria de Administração do Banco Central, disse que tal medida tem limite. No fim do ano passado, o BC retirou mais de R$ 60 bilhões do sistema financeiro para tentar conter a oferta de crédito e, por tabela, o consumo.