O reinado absoluto do Volkswagen Gol sofreu um abalo no mês passado ao perder a liderança para o Fiat Uno. Em fevereiro, o Uno emplacou 21.470 unidades ante 20.989 do Gol. O crescimento das vendas do compacto da montadora italiana foi de quase 27% em relação a janeiro, quando emplacou 16.913 modelos. Já o Gol vendeu menos na comparação entre janeiro e fevereiro, queda de 9%. Lançado em 1980, o modelo da VW está na quinta geração e é líder de mercado desde 1987, tendo vendido mais de 5 milhões de unidades nos mais de 30 anos de mercado. Nos últimos 24 anos, o Gol impera absoluto na preferência do consumidor nacional, terminando os balanços anuais de vendas invariavelmente como líder.
Nos levantamentos mensais de emplacamentos da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) a hegemonia é quase absoluta. Antes de perder para o Uno no mês passado, o Gol tinha permitido a ultrapassagem do Chevrolet Monza por alguns meses, no início da década de 1990, e também do Fiat Palio, em 1996.
A concorrência com o principal rival, produzido na fábrica da Fiat em Betim, na Grande BH, se acirrou quando a Fiat lançou o Novo Uno no ano passado e passou a contabilizar os emplacamentos do modelo com o antigo, agora chamado apenas de Mille, que é mais próximo ao projeto original do modelo de Giuseppe Giugiaro, de 1984. O Gol também adota o mesmo estratagema ao englobar duas diferentes gerações – as chamadas G4 e a mais recente G5 – como um único carro.
A contabilização de diferentes modelos na mesma estatística também é usada pela Chevrolet, com os Corsas Sedã e Classic, que têm o mesmo tipo de carroceria, mas são modelos diferentes e com o VW Fox e o CrossFox. Para fermentar os registros, as fábricas colocam automóveis com características bem diferentes no sistema da Fenabrave com a mesma nomenclatura, apesar de terem nomes comerciais diferentes.
Na análise do consultor especialista em mercado automotivo André Belchior Torres, a ultrapassagem da Fiat pode ser comemorada como um grande feito de mercado. “A Fiat adotou estratégias agressivas de design e marketing, mas a VW deve retaliar de alguma forma”, observa o especialista. O consultor destaca o sucesso de manter o nome em um modelo diferente, estratégia usada pela Fiat e que também é praticada pela VW. “O nome do Uno já era consagrado no mercado, o que facilita a aceitação”, afirma Torres.
Mercado
O crescimento das vendas do Uno é reflexo do que ocorreu no mercado de veículos novos em fevereiro. De acordo com dados preliminares da Fenabrave, as vendas somaram 255 mil unidades, incluindo caminhões e ônibus. Na comparação com fevereiro do ano passado – quando vigorava a redução e isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) – o crescimento é de 20%, pois a indústria planeja fechar fevereiro com vendas de até 270 mil unidades. Os dados oficiais serão divulgados nesta quarta-feira. Na comparação com janeiro passado, a diferença pode chegar a 10%.