Em um momento em que o Brasil amarga um déficit de US$ 8 bilhões em sua balança comercial com os Estados Unidos, o presidente Barack Obama chega a Brasília neste sábado disposto a promover novos negócios e a fomentar ainda mais as exportações americanas.
Obama viaja acompanhado de vários ministros da área e de uma comitiva de empresários em busca de oportunidades de comércio e investimento, especialmente nas áreas de energia, turbinada pelas descobertas de petróleo na camada do pré-sal; de infra-estrutura, com a expectativa em torno da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016; e de alta tecnologia.
O governo americano, que em casa luta para acelerar o ritmo da recuperação econômica pós-crise e baixar a taxa de desemprego, atualmente em 9%, já avisou que pretende ampliar o comércio com a América Latina e, em especial, o Brasil.
"Essa viagem é fundamentalmente sobre a recuperação dos Estados Unidos, as exportações dos Estados Unidos, e a relação crucial que a América Latina tem em nosso futuro econômico e na criação de empregos aqui", disse nesta terça-feira o vice-conselheiro de segurança nacional para assuntos de economia internacional do governo americano, Mike Froman.
Do lado brasileiro, o desejo de reforçar os laços comerciais vem acompanhado da cobrança por mais equilíbrio na balança. "É claro que queremos mais comércio, mas também queremos um comércio bem equilibrado", disse o embaixador brasileiro em Washington, Mauro Vieira.
Balança
A diferença de US$ 8 bilhões representa o maior déficit brasileiro e o quinto maior superávit dos Estados Unidos, que no ano passado perderam para a China o posto de principal parceiro comercial do Brasil. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em 2010 o Brasil exportou US$ 19 bilhões para os Estados Unidos, e importou US$ 27 bilhões.
O déficit foi agravado pela crise econômica nos Estados Unidos, que freou as exportações brasileiras para o mercado americano, e pela valorização do real frente ao dólar. Aliado a esses fatores está o plano agressivo de Obama de dobrar as exportações até 2014, como forma de impulsionar a recuperação da economia doméstica e gerar empregos.
Alguns analistas afirmam ainda que o foco na América Latina é também fruto de uma preocupação com a crescente influência chinesa, relação negada pelo governo americano, que diz também ter presença marcante na região.
Segundo dados do governo americano, as exportações dos Estados Unidos para o Brasil dobraram nos últimos cinco anos, tornando o Brasil o oitavo principal mercado para os americanos. Só no ano passado, o crescimento foi de 35%. "As exportações para o Brasil mantêm 250 mil empregos nos Estados Unidos", disse Froman.
Se no âmbito político a visita de Obama vem cercada de simbolismo, com a promessa de um recomeço nas relações bilaterais após dois anos marcados por divergências durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na área econômica o objetivo é ampliar os laços comerciais.
"A eleição de Dilma Rousseff nos dá uma oportunidade de nos engajarmos com o novo governo e marcar um bom início em economia e outros temas", afirmou Froman, ao lembrar que o Brasil saiu da crise mundial "mais forte e estável" e hoje é a sétima maior economia do mundo, com crescimento de 7,5% em 2010.
"Metade de sua população é considerada de classe média agora, e isso cria uma grande oportunidade para nos engajarmos e vendermos nossos produtos e criarmos uma relação econômica mais profunda", disse o conselheiro de Obama.
Subsídios
Froman rejeita a sugestão de que o déficit brasileiro seja um problema. "Eu não acho que nós vemos o déficit ou superávit comercial em qualquer ponto como um problema específico", disse, ao ressaltar que isso demonstra o potencial para reforçar os laços comerciais entre os dois países.
No entanto, empresários brasileiros, ao mesmo tempo que estão otimistas com as perspectivas de ampliar os negócios e investimentos, esperam que o presidente americano ofereça algo em troca.
"Há uma certa polêmica. O superávit é em favor dos Estados Unidos, e o presidente Obama quer vender mais", disse nesta terça-feira o presidente da Câmara de Comércio Americana para o Brasil, Gabriel Rico, em visita a Washington.
"É claro que, para isso, ele deverá oferecer alguma concessão. E essa concessão deve ser relacionada com os subsídios à agricultura", afirmou. Os subsídios aos produtores agrícolas americanos - assim como tarifas, barreiras não-tarifárias e cotas - provocam reclamações do lado brasileiro.
Em 2009, depois de uma disputa de sete anos, a OMC (Organização Mundial do Comércio) autorizou o Brasil a retaliar os Estados Unidos em US$ 829 milhões por conta dos subsídios concedidos aos produtores de algodão. No ano passado, os dois países acabaram firmando um acordo para buscar uma solução que evite a retaliação.
O subsídio ao etanol, aliado a uma tarifa de importação de 54 centavos de dólar por galão (equivalente a 3,78 litros), que acaba sobretaxando o produto brasileiro, é outra reclamação antiga.
A eliminação dos subsídios, porém, depende de aprovação Congresso americano - atualmente dividido, com a oposição republicana no comando da Câmara dos Representantes - e enfrenta resistência de vários setores.
Apesar de admitir que Obama não tem o poder de decisão sobre o tema, Rico diz que o presidente americano deveria "mostrar um compromisso de exercer sua liderança no Congresso para eliminar os subsídios".
Acordos
A agenda econômica e comercial deverá dominar o primeiro dia da visita ao Brasil, no sábado, em Brasília. Obama deverá participar de um fórum de líderes empresariais de ambos os países e também de uma cúpula de negócios Brasil - Estados Unidos.
Segundo Steven Bipes, diretor-executivo do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, ligado à Câmara de Comércio dos Estados Unidos, 60 empresas americanas vão marcar presença no Brasil. Encerrada a visita presidencial, muitos desses emprresários permanecerão no Rio, na segunda-feira, para analisar as perspectivas nas áreas de petróleo e gás, além de passarem por São Paulo antes de embarcarem de volta aos Estados Unidos.
Como demonstração da importância da área comercial na agenda da viagem, a comitiva de Obama inclui os secretários do Tesouro, Timothy Geithner, do Comércio, Gary Locke, e de Energia, Steven Chu. Também acompanham o presidente o representante de Comércio dos Estados Unidos, Ron Kirk, a chefe da Agência de Proteção Ambiental (EPA), Lisa Jackson, e o presidente do Ex-Im Bank, Fred Hochberg.
Empresários afirmam que, mais do que negociar acordos ou resolver barreiras pontuais, o tom da visita é o de promover negócios. Apesar disso, há a expectativa de assinatura de um Tratado de Cooperação Econômica e Comercial (Teca, na sigla em inglês).
Esse tratado não significa uma liberalização do comércio ou compromisso de abertura de mercado, mas cria um processo para negociar questões comerciais. "Resulta na criação de um fórum inestimável para abordar barreiras ao comércio e aos investimentos", diz o Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos.
Outra demanda do setor empresarial é avançar no acordo bilateral na área de tributação e em outro na área de investimentos. No entanto, mesmo que não haja grandes anúncios imediatos durante o fim de semana, a expectativa do setor empresarial é de que a visita de Obama abra caminho para aprofundar o diálogo comercial.
"Eu não acho que o Brasil e os Estados Unidos irão assinar muitos acordos bilaterais importantes durante esta visita. Mas estou certo de que os dois governos irão estabelecer as bases para uma nova relação, um novo clima, que vai acelerar as negociações", disse Rico. "Temos grandes expectativas para essa viagem. E mesmo que não tenhamos muitas ações concretas imediatas, não vai significar que a viagem não funcionou."
Obama viaja acompanhado de vários ministros da área e de uma comitiva de empresários em busca de oportunidades de comércio e investimento, especialmente nas áreas de energia, turbinada pelas descobertas de petróleo na camada do pré-sal; de infra-estrutura, com a expectativa em torno da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016; e de alta tecnologia.
O governo americano, que em casa luta para acelerar o ritmo da recuperação econômica pós-crise e baixar a taxa de desemprego, atualmente em 9%, já avisou que pretende ampliar o comércio com a América Latina e, em especial, o Brasil.
"Essa viagem é fundamentalmente sobre a recuperação dos Estados Unidos, as exportações dos Estados Unidos, e a relação crucial que a América Latina tem em nosso futuro econômico e na criação de empregos aqui", disse nesta terça-feira o vice-conselheiro de segurança nacional para assuntos de economia internacional do governo americano, Mike Froman.
Do lado brasileiro, o desejo de reforçar os laços comerciais vem acompanhado da cobrança por mais equilíbrio na balança. "É claro que queremos mais comércio, mas também queremos um comércio bem equilibrado", disse o embaixador brasileiro em Washington, Mauro Vieira.
Balança
A diferença de US$ 8 bilhões representa o maior déficit brasileiro e o quinto maior superávit dos Estados Unidos, que no ano passado perderam para a China o posto de principal parceiro comercial do Brasil. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em 2010 o Brasil exportou US$ 19 bilhões para os Estados Unidos, e importou US$ 27 bilhões.
O déficit foi agravado pela crise econômica nos Estados Unidos, que freou as exportações brasileiras para o mercado americano, e pela valorização do real frente ao dólar. Aliado a esses fatores está o plano agressivo de Obama de dobrar as exportações até 2014, como forma de impulsionar a recuperação da economia doméstica e gerar empregos.
Alguns analistas afirmam ainda que o foco na América Latina é também fruto de uma preocupação com a crescente influência chinesa, relação negada pelo governo americano, que diz também ter presença marcante na região.
Segundo dados do governo americano, as exportações dos Estados Unidos para o Brasil dobraram nos últimos cinco anos, tornando o Brasil o oitavo principal mercado para os americanos. Só no ano passado, o crescimento foi de 35%. "As exportações para o Brasil mantêm 250 mil empregos nos Estados Unidos", disse Froman.
Se no âmbito político a visita de Obama vem cercada de simbolismo, com a promessa de um recomeço nas relações bilaterais após dois anos marcados por divergências durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na área econômica o objetivo é ampliar os laços comerciais.
"A eleição de Dilma Rousseff nos dá uma oportunidade de nos engajarmos com o novo governo e marcar um bom início em economia e outros temas", afirmou Froman, ao lembrar que o Brasil saiu da crise mundial "mais forte e estável" e hoje é a sétima maior economia do mundo, com crescimento de 7,5% em 2010.
"Metade de sua população é considerada de classe média agora, e isso cria uma grande oportunidade para nos engajarmos e vendermos nossos produtos e criarmos uma relação econômica mais profunda", disse o conselheiro de Obama.
Subsídios
Froman rejeita a sugestão de que o déficit brasileiro seja um problema. "Eu não acho que nós vemos o déficit ou superávit comercial em qualquer ponto como um problema específico", disse, ao ressaltar que isso demonstra o potencial para reforçar os laços comerciais entre os dois países.
No entanto, empresários brasileiros, ao mesmo tempo que estão otimistas com as perspectivas de ampliar os negócios e investimentos, esperam que o presidente americano ofereça algo em troca.
"Há uma certa polêmica. O superávit é em favor dos Estados Unidos, e o presidente Obama quer vender mais", disse nesta terça-feira o presidente da Câmara de Comércio Americana para o Brasil, Gabriel Rico, em visita a Washington.
"É claro que, para isso, ele deverá oferecer alguma concessão. E essa concessão deve ser relacionada com os subsídios à agricultura", afirmou. Os subsídios aos produtores agrícolas americanos - assim como tarifas, barreiras não-tarifárias e cotas - provocam reclamações do lado brasileiro.
Em 2009, depois de uma disputa de sete anos, a OMC (Organização Mundial do Comércio) autorizou o Brasil a retaliar os Estados Unidos em US$ 829 milhões por conta dos subsídios concedidos aos produtores de algodão. No ano passado, os dois países acabaram firmando um acordo para buscar uma solução que evite a retaliação.
O subsídio ao etanol, aliado a uma tarifa de importação de 54 centavos de dólar por galão (equivalente a 3,78 litros), que acaba sobretaxando o produto brasileiro, é outra reclamação antiga.
A eliminação dos subsídios, porém, depende de aprovação Congresso americano - atualmente dividido, com a oposição republicana no comando da Câmara dos Representantes - e enfrenta resistência de vários setores.
Apesar de admitir que Obama não tem o poder de decisão sobre o tema, Rico diz que o presidente americano deveria "mostrar um compromisso de exercer sua liderança no Congresso para eliminar os subsídios".
Acordos
A agenda econômica e comercial deverá dominar o primeiro dia da visita ao Brasil, no sábado, em Brasília. Obama deverá participar de um fórum de líderes empresariais de ambos os países e também de uma cúpula de negócios Brasil - Estados Unidos.
Segundo Steven Bipes, diretor-executivo do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, ligado à Câmara de Comércio dos Estados Unidos, 60 empresas americanas vão marcar presença no Brasil. Encerrada a visita presidencial, muitos desses emprresários permanecerão no Rio, na segunda-feira, para analisar as perspectivas nas áreas de petróleo e gás, além de passarem por São Paulo antes de embarcarem de volta aos Estados Unidos.
Como demonstração da importância da área comercial na agenda da viagem, a comitiva de Obama inclui os secretários do Tesouro, Timothy Geithner, do Comércio, Gary Locke, e de Energia, Steven Chu. Também acompanham o presidente o representante de Comércio dos Estados Unidos, Ron Kirk, a chefe da Agência de Proteção Ambiental (EPA), Lisa Jackson, e o presidente do Ex-Im Bank, Fred Hochberg.
Empresários afirmam que, mais do que negociar acordos ou resolver barreiras pontuais, o tom da visita é o de promover negócios. Apesar disso, há a expectativa de assinatura de um Tratado de Cooperação Econômica e Comercial (Teca, na sigla em inglês).
Esse tratado não significa uma liberalização do comércio ou compromisso de abertura de mercado, mas cria um processo para negociar questões comerciais. "Resulta na criação de um fórum inestimável para abordar barreiras ao comércio e aos investimentos", diz o Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos.
Outra demanda do setor empresarial é avançar no acordo bilateral na área de tributação e em outro na área de investimentos. No entanto, mesmo que não haja grandes anúncios imediatos durante o fim de semana, a expectativa do setor empresarial é de que a visita de Obama abra caminho para aprofundar o diálogo comercial.
"Eu não acho que o Brasil e os Estados Unidos irão assinar muitos acordos bilaterais importantes durante esta visita. Mas estou certo de que os dois governos irão estabelecer as bases para uma nova relação, um novo clima, que vai acelerar as negociações", disse Rico. "Temos grandes expectativas para essa viagem. E mesmo que não tenhamos muitas ações concretas imediatas, não vai significar que a viagem não funcionou."