O acordo a ser anunciado pelos presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e dos Estados Unidos, Barack Obama, será “o mais amplo possível”, disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, ao falar sobre o assunto na última quinta-feira. Perguntado se o acordo seria tão amplo a ponto de incluir a dispensa de visto nos passaportes, o ministro afirmou que não sabia, mas arrematou mineiramente: “Seria bom, né?”
Esse é um dos assuntos mais discutidos nas relações bilaterais como de fundamental importância para estimular o fluxo de turismo nos dois sentidos, mas o desfecho é sempre adiado. Com a vinda do presidente norte-americano a Brasília, criou-se a expectativa de que um dos gestos de boa vontade do visitante poderia ser a inclusão do Brasil no Visa Waiver Program (VWP) – lista de 36 países dispensados de visto nos Estados Unidos.
Autarquia responsável por aumentar o movimento de visitantes ao Brasil, a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) entende que uma flexibilização nas regras sobre vistos contribuiria favoravelmente para o crescimento do turismo entre os dois países. O presidente da Embratur, Mário Moysés, afirmou que a concessão de vistos envolve diferentes questões de ordem diplomática, mas ressaltou que o tema está na pauta de discussões.
Para reforçar as análises técnicas sobre o assunto, a US Travel Association, que congrega agências de viagens nos Estados Unidos, encaminhou carta recentemente ao presidente Barack Obama, solicitando flexibilização do visto de viagem para brasileiros, pelo prazo de 90 dias, conforme revelou o vice-presidente de Marketing Internacional da entidade, Luiz Moura.
Ele acredita que as resistências norte-americanas à exigência de vistos de turistas brasileiros estão sendo naturalmente minimizadas, uma vez que a própria taxa de rejeição aos pedidos de visto caiu para mais da metade nos últimos dez anos, e atualmente está numa faixa em torno de 5% ao ano. Esse nível permite ao país um tratamento diferenciado na VWP, segundo ele.
Os números sobre o fluxo turístico nos dois sentidos são defasados, uma vez que o Anuário Estatístico de Turismo, relativo a 2010, ainda não foi divulgado. Mas os dados referentes aos dois anos anteriores mostram mais brasileiros viajando para os Estados Unidos do que no sentido inverso, em razão principalmente da crise financeira de 2008, que provocou maior impacto na economia norte-americana.
Em 2009, ano em que o turismo estrangeiro para os EUA caiu muito em decorrência dos efeitos da crise, principalmente dos turistas de países europeus, 892.611 brasileiros aproveitaram a desvalorização do dólar ante o real para visitar o país e fazer compras em terras norte-americanas. Houve aumento de 16% em relação aos 769.232 turistas brasileiros registrados em 2008.
Os brasileiros deixaram US$ 4,2 bilhões nos Estados Unidos em 2009. Mas, de acordo com estimativa da US Travel, o número de visitantes brasileiros aumentou para algo em torno de 1,1 milhão de pessoas, e o volume de dinheiro gasto se aproxima de US$ 10 bilhões.
Segundo maior emissor de turistas para o Brasil, com pouco mais de 12% de todos os estrangeiros que visitam o país – atrás apenas dos 20% estimados de argentinos - os EUA mandaram 603.674 pessoas para cá em 2009. Menos, portanto, que os 625.506 norte-americanos que nos visitaram em 2008, acompanhando uma tendência mundial que reduziu o número de viagens de lazer pelo mundo.
A retração resultou em prejuízo para o turismo receptivo do Brasil - enquanto o país mandava mais gente para o exterior, contabilizava quedas nas entradas de estrangeiros, que somaram 5,05 milhões de visitas em 2009, mas diminuíram para 4,8 milhões no ano passado, de acordo com números do Ministério do Turismo.
A conta de viagens internacionais fechou 2010 com déficit de US$ 10,5 bilhões, resultado de despesas de US$ 16,4 bilhões e receitas de US$ 5,9 bilhões, segundo números do Departamento Econômico do Banco Central. Houve, portanto, um acréscimo de 87,5% no déficit de viagens relativo a 2009, que foi de US$ 5,6 bilhões.