Madrugada não significa apenas o desejo de uma boa noite de sono. Enquanto a maioria da população de Belo Horizonte dorme, muitos empresários – formais e informais – aproveitam o descanso do sol para transformar em realidade o desejo de ganhar dinheiro. Tradicionalmente, o faturamento de alguns setores é muito maior durante a noite, como o de motéis, onde o percentual gira, de segunda a quinta-feira, em torno de 30%. Até comércios que não têm tradição no horário podem se dar bem: 40% das vendas de sexta a domingo da Padaria Pão da Serra, no Bairro Serra Verde, ocorrem entre meia- noite e as 6h. Estatísticas de grandes redes do varejo, como a Drogaria Araújo, reforçam os bons lucros do período. Tanto que 30 das 100 unidades da centenária farmácia, aberta em 1906, funcionam 24 horas.
Mas BH ainda não sabe, oficialmente, o quanto as vendas na madrugada representam no faturamento total do comércio. O indicador mais próximo dessa realidade, batizado de Horário das consultas, mostra apenas as informações requisitadas à Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) sobre cheques, desprezando os pagamentos em dinheiro e com cartões de crédito e débito. Em fevereiro de 2011, 0,22% das consultas feitas ocorreram da meia-noite às 6h. No mesmo mês de 2010, o índice foi de 0,31%. Na prática, o recuo não representa queda nos negócios fechados no horário. A explicação está no avanço da moeda de plástico.
Estudo da Federação do Comércio (Fecomercio) revela que, entre 2009 e 2010, as vendas com cheques pré-datados caíram de 26% para 18% e as com moeda de plástico subiram de 58% para 70%. Nem a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Créditos e Serviços (Abecs) tem números sobre as compras feitas na madrugada de BH. A falta de estatística oficial, contudo, não impede os comerciantes de conseguirem bons lucros depois da meia-noite. Dependendo da madrugada, explica Pablo Fernando, que vende lasanhas, pizzas e espaguete num Fiorino estacionado no Alto da Avenida Afonso Pena, o faturamento é excelente.
“Mais vazio” Ele acrescenta que 30 das 100 lojas não fecham as portas. Uma delas é a que funciona na Rua André Cavalcanti, no Bairro Gutierrez, Região Oeste. Lá, Breno Carvalho, de 38 anos, aproveita a madrugada para comprar remédios e outros produtos. Na última quinta-feira, ele esteve no local, por volta de 1h, e levou para casa “um chocolate ou um sorvete”. No mesmo horário, o corretor de seguros Felipe Barros Giacomini, de 31, fez compras no Hipermercado Extra do Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul: “Já me acostumei a vir aqui de madrugada. É mais vazio”. A rede de supermercados não divulga o faturamento da madrugada, mas o lucro deve agradar aos proprietários.
Tanto que as três unidades do Extra – Centro, Belvedere e Minas Shopping – funcionam em tempo integral. A pioneira foi a do Centro, que adotou a estratégia em 1990. Os segmentos que mais lucram no horário, porém, são o de motéis, bares tradicionais e casas noturnas. “Nos fins de semana e (em determinadas datas, como Dia dos Namorados), há filas em alguns motéis. O faturamento das casas noturnas, churrascarias e grandes restaurantes é de 40% a 50% maior à noite do que durante o dia nas sextas-feiras, sábados e domingos”, diz o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de BH (Sindhorb), Paulo Pedrosa.
A loira gelada, na madrugada, é sinônimo de lucro certo em vários locais. Até na padaria Pão da Serra, onde o gerente Claytus Luiz Teixeira, de 22, vende 20 engradados nos fins de semana. “O dono percebeu que havia demanda e, há um ano e meio, o estabelecimento funciona as 24 horas”.