O comportamento de preços do mercado tende a “se deslocar para níveis compatíveis” com o centro da meta de inflação, de 4,5% ao ano, a partir do mês que vem, conforme afirmou nesta terça-feira o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, ao participar de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Ele ressaltou, porém, que a inflação acumulada em 12 meses, que fechou fevereiro em 6,01%, deve permanecer em patamares elevados nos próximos seis meses. Mesmo que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mensal aponte para o centro da meta, até agosto ou setembro vai substituir percentuais baixos relativos aos meses correspondentes do ano passado.
Depois de exposição de meia hora sobre os fundamentos da economia brasileira, na qual apresentou muitos números para demonstrar a saúde financeira do país, Tombini respondeu perguntas dos parlamentares, a começar pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que levantou a questão das altas taxas de juros, a começar pela Selic (taxa bpasica do governo). Tombini afirmou que a Selic tem poder para ajustar a demanda e afetar a trajetória de preços. Ele advertiu que uma redução não muito bem fundamentada da Selic pode gerar efeitos negativos na economia.
O presidente do BC disse que as duas elevações da Selic este ano, que elevaram a taxa básica de 10,75% para 11,75% ao ano, fazem parte da política que visa a evitar que as pressões inflacionárias se propaguem para “horizontes mais longos”. Ele não quis falar sobre futuros aumentos da Selic, embora a própria ata da última reunião do Copom tenha sinalizado nesse sentido.
Tombini falou também que o BC continuará monitorando a oferta de crédito pelos bancos para evitar um crescimento exacerbado do endividamento da sociedade. Ele acha que existe espaço para um aumento de até 15% na oferta de crédito. Mais do que isso “nos parece acima do recomendado” e pode gerar riscos excessivos para o sistema financeiro.
O dirigente da autoridade monetária respondeu também a críticas sobre o alto custo de carregamento das reservas internacionais que, atualmente, ultrapassam US$ 310 bilhões. Ele disse que em momentos de crise, como a de 2008, as reservas funcionam como um seguro. Naquela ocasião, parte das divisas foi usada para assegurar aos exportadores nacionais a liquidez interrompida bruscamente.
O presidente do BC revelou que o Brasil tinha US$ 205 bilhões de reservas quando estourou a crise financeira internacional e, de lá para cá, o país incorporou US$ 111 bilhões às reservas, via compras regulares no mercado à vista para retirar o excesso de dólares do mercado. Política que ajuda a conter a valorização do real e a manter a competitividade dos preços dos produtos brasileiros no comércio externo.
Ele ressaltou que o BC vai continuar a intervir no mercado de câmbio, com consequente aumento das reservas, que fecharam na véspera em US$ 316,176 bilhões e equivalem a quase 15% do Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas produzidas no país. Nível de reservas que considera bom, mas ainda bem abaixo de outras economias em crescimento, como Hong Kong e Cingapura, que têm reservas correspondentes a 118,6% e 103,8%, respectivamente.
Ou, para ficar no campo dos países emergentes que compõem o acrônimo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), “temos as reservas menos fortes”, segundo ele, ao citar a China com 46,9% do PIB em reservas cambiais; a Rússia com 31,7%; e a Índia com 19,7%.