Quem diria. O país do samba, futebol, belezas naturais, do sol e do bom humor, está triste. Os brasileiros estão recorrendo mais aos antidepressivos e estabilizadores de humor para conseguir lidar com as pressões do dia a dia, o que traz alegria para os fabricantes. Depois de investir muitos bilhões de dólares, a indústria farmacêutica, para muitos, desvendou a química da felicidade. No país, o faturamento com a comercialização desses medicamentos cresceu 138,5% nos últimos cinco anos, bem acima da média mundial de 15,4%. As vendas brasileiras saltaram de US$ 271,6 milhões em 2006 para US$ 647,8 milhões em 2010, segundo dados do IMS Health, instituto de pesquisa que faz a auditoria do mercado de medicamentos.
Levantamento do IMS Health com 55 países, feito a pedido do Estado de Minas, revela que nos últimos cinco anos, em países como Estados Unidos, Alemanha, França e Espanha, as receitas com vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor ficaram praticamente estagnadas. No Reino Unido, chegaram a cair 30,8% no período, passando de US$ 703 milhões para US$ 486,6 milhões. Enquanto isso, o faturamento no Brasil e na China mais que dobrou (veja quadro) e atingiu patamares próximos aos dos grandes consumidores canadenses e europeus – reconhecidos por níveis mais elevados de depressão entre a população.
Mundialmente, os mais ricos são também os que mais consomem remédios para depressão. Os Estados Unidos movimentam, sozinhos, mais de 60% do mercado, mas vêm apresentando crescimento leve desde 2006. O avanço de países emergentes como o Brasil e a China é bem mais agressivo. Percentualmente, o Brasil dobrou sua participação no faturamento mundial, assim como os chineses, que crescem a passos de gigante também nos incômodos da alma, movimentando, no ano passado, US$ 710 milhões com as chamadas pílulas da felicidade.
Desde o lançamento do Prozac (fluoxetina), antidepressivo que mudou o conceito do tratamento da doença no fim da década de 1980, o mercado avançou com a quebra de patentes e a entrada de drogas mais modernas. Para se desenvolver um medicamento com grande impacto terapêutico, o investimento médio da indústria é de US$ 1,2 bilhão. Mas o mercado é promissor. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que em 2030 a saúde mental vai ocupar lugar de destaque no orçamento doméstico. A depressão vai ser a doença mais comum, à frente de outros problemas, como os cardiovasculares.
Estima-se que no Brasil entre 10% e 20% da população sofra da doença, o que requer o consumo contínuo de substâncias por uma boa parte da vida. Como pondera a presidente da Associação Mineira de Pisquiatria, Sandra Carvalhais, pesquisas mostram que, em determinadas faixas etárias, como a da população brasileira acima dos 60 anos, o percentual atingido pode superar 40%. Não é possível prever o tempo de uso das pílulas que tornam mais leve o ritmo da vida, mas sabe-se que grande parte da população deve fazer uso contínuo do medicamento. Segundo Sandra Carvalhais, o aprimoramento do diagnóstico também tornou possível identificar a doença mais cedo – na infância e na adolescência.
A quebra das patentes e o fornecimento das substâncias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) também serviram para popularizar o uso dos antidepressivos e evitar que, por questões econômicas, o tratamento seja abandonado. A manicure Rose Pereira faz uso de antidepressivo diariamente. Ela também usa um ansiolítico. Como a patente do primeiro remédio ainda não foi quebrada, a manicure desembolsa R$ 80 por mês. “É bem caro, ainda não tem genérico”, comenta. Já o ansiolítico é comprado por pouco mais de R$ 6.
Para a manicure, os medicamentos a ajudam a viver melhor. “Tomo antes de dormir e quando acordo. Sinto-me muito bem, fico alegre, não sinto vontade de chorar”, conta. Para Rose, o tratamento tem sido decisivo em sua qualidade de vida. Já a analista de sistemas A.M fez uso da fluoxetina (fórmula genérica do Prozac). “Quando meu pai morreu fiquei muito deprimida e, às vezes, a tristeza bate mesmo”, comenta. Hoje, ela tenta substituir os medicamentos que aliviam a pressão do dia a dia por produtos naturais.
Jogando a favor do lucro da indústria farmacêutica está a longevidade da população, aliada ao avanço da neurociência. Como explica a diretora de Assuntos Corporativos da Eli Lilly do Brasil, Regiane Salateo, depois de lançados, os medicamentos podem ganhar novas aplicações, o que amplia o espectro de uso. Em 2005, o laboratório Eli Lilly, que desenvolveu a fluoxetina, lançou uma nova geração de antidepressivos, o sinbalta. Protegido pela lei das patentes, que garante 10 anos de vendas exclusivas, no ano passado o remédio foi responsável por um faturamento de US$ 3,45 bilhões de dólares no mundo, nada menos do que 15% das vendas totais da empresa, que movimentaram US$ 23 bilhões. Segundo ela, somente no ano passado, o investimento em pesquisa foi de US$ 4,8 bilhões, US$ 500 milhões acima do ano anterior.
Como a droga age no corpo
Os antidepressivos agem no organismo melhorando o humor. As drogas aumentam a disponibilidade de neurotransmissores no sistema nervoso central, como a serotonina, noradrenalina e dopamina. Os medicamentos modernos são apontadas como mais eficazes porque atuam somente nos receptores cerebrais que estão associados à depressão, reduzindo assim os efeitos colaterais e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. O uso indiscriminado, no entanto, oferece graves riscos à saúde, por isso, o diagnóstico e o receituário devem ser feitos preferencialmente por um médico psiquiatra.
Levantamento do IMS Health com 55 países, feito a pedido do Estado de Minas, revela que nos últimos cinco anos, em países como Estados Unidos, Alemanha, França e Espanha, as receitas com vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor ficaram praticamente estagnadas. No Reino Unido, chegaram a cair 30,8% no período, passando de US$ 703 milhões para US$ 486,6 milhões. Enquanto isso, o faturamento no Brasil e na China mais que dobrou (veja quadro) e atingiu patamares próximos aos dos grandes consumidores canadenses e europeus – reconhecidos por níveis mais elevados de depressão entre a população.
Mundialmente, os mais ricos são também os que mais consomem remédios para depressão. Os Estados Unidos movimentam, sozinhos, mais de 60% do mercado, mas vêm apresentando crescimento leve desde 2006. O avanço de países emergentes como o Brasil e a China é bem mais agressivo. Percentualmente, o Brasil dobrou sua participação no faturamento mundial, assim como os chineses, que crescem a passos de gigante também nos incômodos da alma, movimentando, no ano passado, US$ 710 milhões com as chamadas pílulas da felicidade.
Desde o lançamento do Prozac (fluoxetina), antidepressivo que mudou o conceito do tratamento da doença no fim da década de 1980, o mercado avançou com a quebra de patentes e a entrada de drogas mais modernas. Para se desenvolver um medicamento com grande impacto terapêutico, o investimento médio da indústria é de US$ 1,2 bilhão. Mas o mercado é promissor. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que em 2030 a saúde mental vai ocupar lugar de destaque no orçamento doméstico. A depressão vai ser a doença mais comum, à frente de outros problemas, como os cardiovasculares.
Estima-se que no Brasil entre 10% e 20% da população sofra da doença, o que requer o consumo contínuo de substâncias por uma boa parte da vida. Como pondera a presidente da Associação Mineira de Pisquiatria, Sandra Carvalhais, pesquisas mostram que, em determinadas faixas etárias, como a da população brasileira acima dos 60 anos, o percentual atingido pode superar 40%. Não é possível prever o tempo de uso das pílulas que tornam mais leve o ritmo da vida, mas sabe-se que grande parte da população deve fazer uso contínuo do medicamento. Segundo Sandra Carvalhais, o aprimoramento do diagnóstico também tornou possível identificar a doença mais cedo – na infância e na adolescência.
A quebra das patentes e o fornecimento das substâncias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) também serviram para popularizar o uso dos antidepressivos e evitar que, por questões econômicas, o tratamento seja abandonado. A manicure Rose Pereira faz uso de antidepressivo diariamente. Ela também usa um ansiolítico. Como a patente do primeiro remédio ainda não foi quebrada, a manicure desembolsa R$ 80 por mês. “É bem caro, ainda não tem genérico”, comenta. Já o ansiolítico é comprado por pouco mais de R$ 6.
Para a manicure, os medicamentos a ajudam a viver melhor. “Tomo antes de dormir e quando acordo. Sinto-me muito bem, fico alegre, não sinto vontade de chorar”, conta. Para Rose, o tratamento tem sido decisivo em sua qualidade de vida. Já a analista de sistemas A.M fez uso da fluoxetina (fórmula genérica do Prozac). “Quando meu pai morreu fiquei muito deprimida e, às vezes, a tristeza bate mesmo”, comenta. Hoje, ela tenta substituir os medicamentos que aliviam a pressão do dia a dia por produtos naturais.
Jogando a favor do lucro da indústria farmacêutica está a longevidade da população, aliada ao avanço da neurociência. Como explica a diretora de Assuntos Corporativos da Eli Lilly do Brasil, Regiane Salateo, depois de lançados, os medicamentos podem ganhar novas aplicações, o que amplia o espectro de uso. Em 2005, o laboratório Eli Lilly, que desenvolveu a fluoxetina, lançou uma nova geração de antidepressivos, o sinbalta. Protegido pela lei das patentes, que garante 10 anos de vendas exclusivas, no ano passado o remédio foi responsável por um faturamento de US$ 3,45 bilhões de dólares no mundo, nada menos do que 15% das vendas totais da empresa, que movimentaram US$ 23 bilhões. Segundo ela, somente no ano passado, o investimento em pesquisa foi de US$ 4,8 bilhões, US$ 500 milhões acima do ano anterior.
Como a droga age no corpo
Os antidepressivos agem no organismo melhorando o humor. As drogas aumentam a disponibilidade de neurotransmissores no sistema nervoso central, como a serotonina, noradrenalina e dopamina. Os medicamentos modernos são apontadas como mais eficazes porque atuam somente nos receptores cerebrais que estão associados à depressão, reduzindo assim os efeitos colaterais e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. O uso indiscriminado, no entanto, oferece graves riscos à saúde, por isso, o diagnóstico e o receituário devem ser feitos preferencialmente por um médico psiquiatra.