O Brasil quer uma relação comercial mais estratégica com a China. Na visita que fará à China a partir de sexta-feira, a presidenta Dilma Rousseff vai defender que os dois países construam uma relação de sociedade, em vez do atual modelo de balcão de negócios. Apesar de a China ser o maior parceiro comercial brasileiro, o governo brasileiro quer aumentar a exportação de produtos de alto valor agregado, visto que, atualmente, as vendas externas são, em grande parte, de produtos básicos cotados internacionalmente (commodities). Em contrapartida, as importações chinesas são predominantemente de produtos industriais.
Em 2010, o saldo da balança comercial do Brasil com a China foi superavitário em US$ 5,1 bilhões. As exportações brasileiras somaram US$ 30,7 bilhões. Os embarques para o exterior de minério de ferro representaram 43,3% do total de vendas à China, somando US$ 13,3 bilhões. A remessa de soja triturada aparece com 23,2%, alcançando US$ 7,1 bilhões. As vendas externas de óleo bruto de petróleo representaram 13,2% do total, rendendo ao país US$ 4 bilhões.
As importações, por sua vez, alcançaram US$ 25,5 bilhões no ano passado. Partes de aparelhos transmissores ou receptores lideraram as compras internas, somando US$ 1,4 bilhões. Itens e acessórios de máquinas automáticas para processamento de dados registraram US$ 1 bilhão do total importado. Também aparecem na lista ar-condicionado, brinquedos, telefones celulares e peças para carros, motos e bicicletas.
Segundo o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Alessandro Teixeira, a visita representa uma importante estratégia para incrementar o intercâmbio comercial entre duas das maiores potências emergentes. “O comércio entre Brasil e China caminha espontaneamente. A China é o país que mais cresce e o Brasil tem aumentado o comércio fortemente. Temos possibilidades em vários setores. Nossa agenda vê além da relação de investimentos. Queremos aumentar a exportação e adquirir maior conhecimento da economia chinesa”, destacou.
Para o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Antônio Lacerda, é fundamental a aproximação entre Brasil e China para melhorar a relação econômica atual. “O fato de a China ser a segunda maior economia do mundo justifica a aproximação, mas o câmbio desvalorizado chinês torna a relação desigual”, opinou.
A subvalorização da moeda chinesa, o yuan, é uma grande vantagem competitiva da indústria daquele país. No entanto, essa desvalorização continua na mira dos países envolvidos no comércio internacional, que inclui Brasil e Estados Unidos, por exemplo. Ao contrário do Brasil, que toma medidas internas com o intuito de conter a valorização do real, na China nada foi feito. “Para provocar a valorização do câmbio chinês, só com pressão mundial muito forte”, acrescentou Lacerda.
Segundo a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Lia Valls, a entrada de produtos chineses no Brasil é muito grande. “É preciso haver maior esclarecimento entre os países. A China produz em escala enorme com uma moeda desvalorizada. Fica complicado competir dessa forma”, disse ela.
O Brasil também quer aumentar a exportação de produtos de maior valor agregado, visto que 60% da pauta comercial são de matérias-primas. “O comércio bilateral entre Brasil e China é marcado pela assimetria. O Brasil precisa buscar mais facilidades de entrada no comércio chinês”, avaliou a pesquisadora. Para reverter o quadro atual, ela disse que é necessário trazer investimentos chineses ao país. “Precisamos conseguir mais investimentos que agreguem valor à nossa matéria-prima. Como, por exemplo, em refinarias de óleo de soja ou em siderúrgica”, finalizou.