Trabalhar nos milhares de hectares destinados à produção agropecuária no Brasil? Nem pensar. Mas, se for para ordenhar vacas na Nova Zelândia ou carregar balaios de uvas na Suíça ou na França, a resposta já pode ser bem diferente. Tanto que é crescente o número de jovens brasileiros que embarcam em busca de uma experiência única de trabalho no exterior, mesmo que seja para exercer funções que se assemelhem às de camponeses ou peões das fazendas de Minas ou de qualquer outro recanto do país.
Apesar de não haver uma estatística de quantos brasileiros já se aventuraram pelas propriedades rurais estrangeiras, o glamour que o destino confere ao trabalho e a ideia de passar uma temporada rodeado de paisagens bucólicas nos alpes suíços ou nas regiões idílicas e inexploradas da Nova Zelândia atraem cada vez mais adeptos. Alguns vão para formar um pé de meia, outros querem ganhar fluência no idioma ou aplicar os conhecimentos da faculdade. E há os que apostam na aventura por mera diversão.
Só que para encarar esse novo estilo de viagem é preciso ficar atento às exigências de visto de trabalho de cada país. No caso da França, é dispensado o visto de curta duração no período máximo de 90 dias. Porém, é exigida a Autorização Provisória de Trabalho (APT). Já na Nova Zelândia, o documento é obrigatório. Achar uma vaga também não é fácil. Normalmente, é preciso entrar em contato com os empregadores antes de sair do Brasil. Além disso, ainda é necessário disposição para acordar de madrugada, passar horas agachado na terra, carregar caixas e caixas de frutas debaixo de sol e chuva e esquecer a dieta balanceada (veja relatos).
Foi o que fez o estudante de agronomia de Porto Alegre (RS) Flávio Salis Martins ao optar por interromper a faculdade e comprar uma passagem para a Nova Zelândia, em abril de 2010. “Aprender inglês, viver experiências diferentes e ainda associar a isto alguma oportunidade de desenvolvimento profissional seriam três fatores que poderia conciliar indo para a Nova Zelândia”, conta. O destaque do país na produção leiteira foi um dos principais atrativos para o estudantes de 22 anos.
O país da Oceania também foi a opção do tecnólogo em construção naval de São José do Rio Preto Marlon dos Santos Pelegrino. O objetivo principal era aprender o inglês, uma vez que em sua área tinha que lidar todos os dias com profissionais do mundo todo. “A Nova Zelândia era o país que tinha os menores custos e trabalhar nos campos seria mais fácil, pois é onde há mais oportunidades de contratação”, explica. A ideia era ganhar dinheiro para pagar o curso e depois aprimorar os conhecimentos da língua com a convivência nas plantações de frutas. Foram várias as fazendas e funções exercidas ao longo de dois meses. “Colhi abacate, limão, mandarim e participei da preparação para plantio do kiwi”, enumera.
Trabalhar na colheita também virou especialidade do músico Oliver Scaravaglioni, que desde 2007 vai para a região vinícola da Suíça, na beira do lago de Genebra, para participar da safra da uva. São de duas a três semanas de trabalho intenso, mesclado com shows para turistas na própria vinícola. “Faço o carregamento das uvas e, em 2009, transportei 1.161 caixas, no total de 19 toneladas, um recorde na vinícola”, conta. A cada novo carregamento são 50 quilos levados nas costas nas encostas da montanha. Assim como Marlon e Flávio, Oliver garante que este trabalho não é para qualquer um e já viu várias pessoas desistindo no meio da colheita. Apesar das dificuldades, todos garantem que a experiência foi válida.
AVENTURA EXIGE CUIDADOS
No Brasil, as agências de intercâmbio e viagem não costumam fazer a intermediação com os empregadores no país de destino. Por isso, o ideal é embarcar com o emprego garantido. No caso da França, este contato prévio é fundamental já que, para efetuar qualquer trabalho remunerado na região, é preciso apresentar a Autorização Provisória de Trabalho (APT). O pedido deste documento deve ser feito pelo próprio empregador francês e é indispensável esperar sua liberação. No caso da Nova Zelândia, o empregador deve ter uma autorização da imigração do país para contratar estrangeiros para somente depois fechar contrato com o empregado. O brasileiro que conseguir a vaga, deve pedir o visto de trabalho no consulado da Nova Zelândia no Brasil ou em um posto de imigração no país.