Líderes dos países reunidos sob o acrônimo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se reúnem em Sanya, no sul da China, para o terceiro encontro de cúpula do grupo em que vão discutir, entre outros assuntos, a reforma do sistema monetário internacional, segundo o Ministério do Exterior chinês.
A presidente Dilma Rousseff, o presidente russo, Dmitry Medvedev, o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, e o presidente sul-africano, Jacob Zuma, já tiveram encontros bilaterais com o presidente chinês, Hu Jintao, e participam, juntamente com o anfitrião, da cúpula nesta quinta-feira.
Segundo o Ministério do Exterior chinês, a China quer usar a reunião para fortalecer a coordenação e a cooperação mútua pela reforma do sistema monetário internacional, pelo controle da flutuação no preço das commodities, pelo combate às mudanças climáticas e pelo desenvolvimento sustentado.
Um documento, que será divulgado no fim da cúpula, vai resumir o consenso alcançado pelos cinco países em temas de interesse mútuo, segundo a agência de notícias Xinhua.
"Os líderes do Brics vão enviar um sinal de confiança, solidariedade e cooperação para a comunidade internacional", disse um representante do Ministério do Exterior em declaração reproduzida pela agência estatal chinesa.
Apesar das diferenças óbvias, como perfil de suas economias, grau de desenvolvimento e sistemas políticos, os cinco países têm uma série de interesses coincidentes como por exemplo o objetivo de transformar o G-20 no principal mecanismo de gerenciamento da economia global.
Sonho
O acrônimo BRICS, cunhado por um economista em 2001, ganhou recentemente um S que se refere à África do Sul (South Africa, em inglês) e, com isso, uma representação no continente africano.
Além de ser um dos continentes que mais cresceram economicamente nos últimos anos, a África também é uma região onde países como China, e também o Brasil, em menor escala, têm interesses econômicos crescentes.
O conceito que virou um grupo foi criado pelo economista Jim O'Neill, do banco Goldman Sachs, em um estudo de 2001 em que previa que as quatro economias emergentes teriam um PIB superior ao do G6 até 2050.
As projeções, sob o título de Dreaming with the BRICs (em tradução livre, “Sonhando com os Brics” – bric significa tijolo em inglês), foram recebidas com ceticismo por muitos, mas, nos anos seguintes, os números começaram a exceder em muito o "sonho" das projeções.
Quando a expressão foi criada, as quatro economias do Bric, em sua formação original, representavam menos de 15% do total das economias do G6 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha e Itália).
A previsão de que os PIBs dos países emergentes se tornassem maiores do que o G6 deve se concretizar até 20 anos antes do originalmente previsto, graças, em grande parte, ao "efeito China".
A China ultrapassaria a economia americana em 2042, pelas projeções originais. Passada uma década e o efeito da crise financeira global, o processo foi acelerado e isso deve ocorrer já nos primeiros anos da próxima década.
O peso da dívida pública nas economias desenvolvidas, que aumentou durante a crise com as caras medidas de estímulo às economias, pode segurar ainda mais o crescimento de países como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, acelerando a escalada dos BRICs.
As projeções de Jim O'Neill diziam respeito apenas ao peso econômico global dos países do BRIC, mas, nos últimos anos, o grupo virou um importante fórum no pleito por mais voz aos países emergentes em organismos multilaterais ainda dominados por países ricos, como a ONU, o Banco Mundial e o FMI.
De acordo com informações no site do Itamaraty, chanceleres dos quatro países do Bric se reuniram durante a 61ª Assembleia Geral da ONU, em 2006. A partir de então, os países começaram a atuar coletivamente em alguns foros mundiais, embora o grupo tenha um caráter informal, sem possuir um documento constitutivo nem fundos destinados a financiar suas atividades.