A queda de braço dos bancos para ganhar participação de mercado leva as instituições financeiras a fechar negócios caros e com retorno de rentabilidade demorado. O presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues, avalia que o Itaú Unibanco pagou acima do valor de mercado por parte do Banco Carrefour na compra fechada na semana passada. Segundo ele, o negócio vai ter difícil retorno financeiro para o banco no curto prazo.
“Em função da forte concorrência, vemos hoje um exagero dos bancos para ganhar mercado. Se for analisar os negócios anteriores de instituições financeiras, vemos que a média paga nas aquisições é de uma vez e meia a duas vezes o valor do patrimônio líquido”, explica Rodrigues. Mas o valor desembolsado pelo Itaú pelo braço financeiro do Carrefour, diz, supera em mais de duas vezes o patrimônio líquido do banco.
O Itaú Unibanco surpreendeu o mercado e adquiriu 49% do Banco Carrefour, por R$ 725 milhões. Segundo profissionais do setor, a compra da participação no braço financeiro do grupo varejista francês no Brasil vinha sendo disputada por Bradesco, Banco do Brasil, Santander Brasil e Caixa Econômica Federal. “A oferta do Itaú foi acima do valor do negócio para evitar que os concorrentes comprassem”, analisa Rodrigues. O retorno desse tipo de negociação para os bancos, diz, costuma ocorrer em cinco anos. “Mas neste caso, como o Itaú pagou valor alto, pode ultrapassar esse prazo”, ressalta Rodrigues.
Exclusivo
Ao comprar o braço financeiro do Carrefour, o Itaú garantiu exclusividade na distribuição de produtos financeiros nos 163 supermercados da rede e ampliou sua presença no mercado de cartões e no varejo. O Carrefour tem 7,7 milhões de cartões emitidos e uma carteira de crédito de R$ 2,2 bilhões. O presidente da Austin lembra que essa não foi a primeira vez que o Itaú passa na frente de outros bancos com ofertas de alto valor para ganhar mercado. Em 2009, o Itaú atropelou o Bradesco na negociação com a seguradora Porto Seguro e acabou fechando a compra.
O Itaú Unibanco e a Porto Seguro fecharam em agosto de 2009 a associação para unificar suas operações de seguros residenciais e de automóveis. O acordo operacional também incluiu a oferta e distribuição de produtos securitários dos dois segmentos para os clientes da rede Itaú Unibanco no Brasil e no Uruguai. A inesperada associação entre a Porto Seguro e o Itaú Unibanco pegou o mercado de surpresa. A seguradora havia informado que as negociações com o Bradesco haviam sido abandonadas, mas não tinha dado sinais de que a aproximação com o concorrente estava no gatilho.