Os membros da delegação da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), encarregados de negociar o plano de resgate financeiro de Portugal, conversaram nesta quarta-feira com representantes das organizações patronais portuguesas sobre uma reforma trabalhista; ao mesmo tempo, o Estado continua pressionado pelos mercados.
"Entre os aspectos discutidos, quiseram conhecer nossa opinião sobre uma flexibilização do emprego", declarou João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), após uma reunião com a delegação da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do FMI.
A flexibilidade trabalhista "é uma das preocupações da 'troika'" internacional, revelou João Machado, da Confederação de Agricultores de Portugal, acrescentando que "não há dúvida de que os tempos que virão serão duros para os portugueses".
Na terça-feira, os negociadores da UE e do FMI falaram as duas maiores centrais sindicais "sobre questões relacionadas ao seguro-desemprego" e acerca das "reformas do mercado de trabalho, segundo João Proença, secretário-geral da UGT.
Depois de se encontrar com os representantes internacionais, os sindicatos, os representantes da patronal e os partidos de oposição disseram que a UE e o FMI apresentarão ao governo, a partir da semana que vem, as medidas que acharem necessárias.
"Querem se informar sobre a situação em detalhes, não fazendo nenhuma proposta nem apresentando nenhuma medida", explicou o presidente da Confederação de Empresas Portuguesas (CIP), Antonio Saraiva.
Os diretores da missão internacional, que chegaram na segunda-feira a Lisboa para negociar as condições do resgate, se reuniram com o governo socialista e com a oposição, assim como com as duas principais confederações sindicais e especialistas dos setores de saúde e justiça.
Portugal emitiu títulos da dívida nesta quarta-feira pela primeira vez desde que oficializou o pedido de ajuda internacional, para suprir as necessidades do Tesouro.
O país captou um bilhão de euros a curto prazo, mas com taxas de juros em clara alta em relação às emissões semelhantes anteriores: 5,529% para os bônus do Tesouro a seis meses, e 4,046% para os títulos a três meses.
"Mesmo com um pedido de ajuda exterior sobre a mesa, os investidores que decidirem comprar o risco de Portugal o farão com um preço cada vez mais elevado", afirma Filipe Silva, estrategista de obrigações do Banco Carregosa.
Após a demanda por ajuda financeira feita por Portugal no dia 7 de abril, a UE e o FMI declararam-se dispostos a condecer um plano de resgate, sob a condição de que Lisboa adote até maio um "programa de ajuste", que deverá incluir medidas de austeridade "ambiciosas" e uma política de "crescimento e competitividade" baseada em reformas estruturais e privatizações.
O plano de resgate, estimado em 80 bilhões de euros, deverá comprometer os principais partidos políticos, para que se cumpra o programa de ajuste exigido em contrapartida, independentemente do resultado das eleições legislativas antecipadas de 5 de junho. A conclusão de um acordo no prazo previsto é urgente para Portugal, que deve pagar cerca de cinco bilhões de euros da dívida até 15 de junho.