(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Viagem da presidente Dilma Rousseff à China foi apenas o começo

Acordos fechados durante a visita de Dilma a Pequim necessitam ser acompanhados para que investimentos fiquem no país a longo prazo, dizem empresários


postado em 23/04/2011 08:32

Apesar da promessa dos chineses de investir pesado para equilibrar o comércio bilateral e agregar tecnologia à produção brasileira, empresários dos dois lados fizeram balanço mais realista da viagem da presidente Dilma Rousseff à China, na semana passada. Eles concordam que o gigante asiático não deve ser visto mais apenas como ameaça a manufaturados nacionais, mas ressaltam que as iniciativas anunciadas ainda vão requerer pelo menos uma década de persistente negociação.

“O caminho será longo, pois não é fácil inaugurar uma fase de agregação de valor às exportações ao nosso maior importador. Os chineses estão muito habituados a resistir às pressões e não se preocupam com regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, comenta Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele lembra que o Brasil já enfrenta obstáculos para vender à China produto barato com qualidade superior.

Menor preço

O desafio continua sendo entender todas as vantagens competitivas dos asiáticos e a complexidade do seu mercado consumidor. “A economia chinesa é de difícil compreensão. Ela tem sistema de defesa comercial e estratégia de conquista do mercado global bem peculiares, tudo voltado ao objetivo de vender no menor preço”, pondera.

Em maio de 2010, a sede da Foxconn foi alvo de protestos, nos quais estudantes queimaram produtos da Apple (Mike Clarke/AFP - 25/5/10)
Em maio de 2010, a sede da Foxconn foi alvo de protestos, nos quais estudantes queimaram produtos da Apple

A missão empresarial que acompanhou Dilma e foi liderada por Andrade colheu informações sobre incentivos oficiais às empresas chinesas, desde baixíssima carga tributária sobre a produção até fomento à inovação tecnológica. A situação trabalhista nos dois países, por exemplo, não é comparável. Na China, há regiões sem nenhuma Previdência Social. No ano passado, a sede, em Hong Kong, da Foxconn — que anunciou investimentos de US$ 12 bilhões no Brasil na última semana — foi alvo de protestos devido a denúncias de que uma onda de suicídios de empregados da empresa na China foi causada pela exploração nas fábricas instaladas no país. A companhia negou a correlação entre as mortes e as condições ruins de trabalho.


O sócio da consultoria Strategus, Rodrigo Tavares Maciel, disse que o relacionamento entre Brasil e China está mudando. “Não é mais só comércio. Chegou a hora de os investimentos chineses se concretizarem”, resumiu. “Apesar dos resultados positivos da visita, como a vinda de investimentos externos, ainda precisamos criar programas de longo prazo que incentivem empreendedorismo, pesquisa e inovação locais, reduzindo burocracias e estimulando parcerias entre universidades e empresas”, acrescenta o consultor Marcos Morita.

Paul Liu, presidente do Conselho da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), explica que a evolução das relações comerciais dos dois países vem refletindo diferentes fases da economia chinesa. “Só nos últimos anos, passamos a incluir investimento local de grande porte, como os dos ramos automotivo e eletrônico”, disse. Na última semana, foram mais de 20 acordos assinados.

Segundo Liu, investimentos anunciados pelas chinesas ZTE, estatal que produz equipamentos de comunicação, e Foxconn, montadora de produtos da Apple, como iPad e iPhone, vão exigir uma preparação do Brasil. “Como parceira do país, a China oferece tecnologia de ponta dentro de um projeto a ser desenvolvido de 10 a 15 anos. O país precisa se preparar, investindo em infraestrutura e recursos humanos. Se fosse para começar hoje, não haveria mão de obra especializada suficiente”, destaca.

Na sua opinião, o ideal seria o Brasil encarar melhor a ideia de se tornar plataforma de exportação de produtos de terceiros países e que as reuniões de cúpula entre presidentes não esperem tanto para ocorrer. “Isso aceleraria decisões e evitaria equívocos”, acrescenta, lembrando a série de viagens bem-sucedidas da ex-presidente chilena Michelle Bachelet a Pequim.

Negócios na bagagem

Como saldo da viagem da presidente Dilma Rousseff à China, semana passada, o governo comemorou os anúncios de abertura à carne suína, a compra de 10 aviões E-9 da Embraer pela China South, o investimento de US$ 12 bilhões da Foxconn para a produção de telas de TV, celulares e tablets e a construção de fábrica de processamento de óleo de soja na Bahia e outra de equipamentos eletrônicos em Goiás.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)