A volta da inflação ao varejo, este ano, agora pressiona o tradicional artesanato de Minas Gerais, uma das atividades mais antigas e características da cultura e da economia mineira. Borracha, madeira, tinta, tecidos de algodão, missangas, fitas, bordados e as famosas cabaças do Vale do Jequitinhonha, entre outras matérias-primas da arte popular, encareceram o trabalho nos ateliês que abastecem o comércio em todo o país e já ganharam nome no exterior. Os fornecedores reajustaram os preços de 30% a até 100% nos últimos 12 meses, espremendo a margem de ganho dos artesãos. Sem condições de repassar o aumento dos custos, eles reduzem o lucro para não perder o cliente, tentam adaptar as peças à nova realidade ou buscam diversificar as coleções para compensar o prejuízo.
Autor das conhecidas namoradeiras de madeira e das mucamas em tamanho natural esculpidas em Prados, na Região Central de Minas, Lécio Bartolomeu substitui fornecedores de tintas e lixas para tentar reduzir o impacto dos reajustes. Na compra da madeira oferecida nas serrarias do entorno da cidade, principal matéria-prima do trabalho do artesão, os gastos aumentaram 30% nos últimos oito meses. “Nem o fornecedor explica por que os preços subiram tanto”, reclama. Com o peso da madeira na produção das peças vendidas no Brasil e já exportadas à Alemanha e à França, os custos cresceram 20% a 30% na oficina.
Trabalhando há nove anos na confecção de bolsas e bijuterias em Belo Horizonte, a artesã Lenice Góes levou um susto ao renovar o estoque de missangas de madeira usadas nas peças que vende na capital mineira e exporta para Portugal e Espanha. O quilo das contas miúdas compradas na semana passada custou R$ 150, valor 50% superior ao que ela pagou no fim do ano passado. Nesse mesmo período, as pérolas sintéticas usadas nos terços produzidos no ateliê de BH foram remarcadas em 25%.
“Os reajustes surpreendem desde o fim de 2010. Serei obrigada a rever os meus preços se o custo da produção continuar subindo”, afirma Lenice Góes. O controle das despesas de toda a linha de produção ajuda a identificar onde as despesas apertam, mas não é fácil repassar o aumento, quando se trata de produtos que não são de primeira necessidade. Na exportação, há uma dificuldade adicional associada à cultura de inflação baixa nos países desenvolvidos.
Sem sobe e desce
O distribuidor da mercadoria no exterior não aceita variações repentinas nos preços, para cima ou para baixo, observa Tânia Machado, presidente do Instituto Centro Cape, braço executivo do Mãos de Minas, maior central de cooperativas de artesãos do estado. “Um aumento pequeno pode até ser aceito, mas somente se a peça justificar essa alteração, com algum conteúdo novo. Aumentar e abaixar preços não faz parte da cultura lá fora”, afirma.
Na oficina de Leila Leite, que se especializou na produção de pinguins de cabaça, na capital mineira, os custos aumentaram 15%, em média, pressionados pelos reajustes de tecido, fita, fuxico, bordados e da própria cabaça. “Eu me pergunto se a inflação que vinha sendo divulgada até o ano passado não estava mascarada. A saída foi diminuir a margem de lucro em 8%”, diz. Além de mexer nas contas do negócio, Leila decidiu diversificar a produção, criando estandartes em tecido para decoração, que vão ajudar a equilibrar despesas e receitas. A cabaça comprada de um fornecedor de Itaobim, no Vale do Jequitinhonha, dobrou de preço.
Leila adquiriu a última remessa das cabaças a R$ 1,20 cada, ante os R$ 0,60 por unidade que desembolsou há um ano. A justificativa do fornecedor foi a redução da oferta da matéria-prima, em decorrência das chuvas excessivas na plantação. Atrás da base das peças, que têm clientes cativos em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, em Búzios, Niterói e em Curitiba, chegaram os reajustes de 30% a 50% de massa plástica, resina, tinta e cola.
Autor das conhecidas namoradeiras de madeira e das mucamas em tamanho natural esculpidas em Prados, na Região Central de Minas, Lécio Bartolomeu substitui fornecedores de tintas e lixas para tentar reduzir o impacto dos reajustes. Na compra da madeira oferecida nas serrarias do entorno da cidade, principal matéria-prima do trabalho do artesão, os gastos aumentaram 30% nos últimos oito meses. “Nem o fornecedor explica por que os preços subiram tanto”, reclama. Com o peso da madeira na produção das peças vendidas no Brasil e já exportadas à Alemanha e à França, os custos cresceram 20% a 30% na oficina.
Trabalhando há nove anos na confecção de bolsas e bijuterias em Belo Horizonte, a artesã Lenice Góes levou um susto ao renovar o estoque de missangas de madeira usadas nas peças que vende na capital mineira e exporta para Portugal e Espanha. O quilo das contas miúdas compradas na semana passada custou R$ 150, valor 50% superior ao que ela pagou no fim do ano passado. Nesse mesmo período, as pérolas sintéticas usadas nos terços produzidos no ateliê de BH foram remarcadas em 25%.
“Os reajustes surpreendem desde o fim de 2010. Serei obrigada a rever os meus preços se o custo da produção continuar subindo”, afirma Lenice Góes. O controle das despesas de toda a linha de produção ajuda a identificar onde as despesas apertam, mas não é fácil repassar o aumento, quando se trata de produtos que não são de primeira necessidade. Na exportação, há uma dificuldade adicional associada à cultura de inflação baixa nos países desenvolvidos.
Sem sobe e desce
O distribuidor da mercadoria no exterior não aceita variações repentinas nos preços, para cima ou para baixo, observa Tânia Machado, presidente do Instituto Centro Cape, braço executivo do Mãos de Minas, maior central de cooperativas de artesãos do estado. “Um aumento pequeno pode até ser aceito, mas somente se a peça justificar essa alteração, com algum conteúdo novo. Aumentar e abaixar preços não faz parte da cultura lá fora”, afirma.
Na oficina de Leila Leite, que se especializou na produção de pinguins de cabaça, na capital mineira, os custos aumentaram 15%, em média, pressionados pelos reajustes de tecido, fita, fuxico, bordados e da própria cabaça. “Eu me pergunto se a inflação que vinha sendo divulgada até o ano passado não estava mascarada. A saída foi diminuir a margem de lucro em 8%”, diz. Além de mexer nas contas do negócio, Leila decidiu diversificar a produção, criando estandartes em tecido para decoração, que vão ajudar a equilibrar despesas e receitas. A cabaça comprada de um fornecedor de Itaobim, no Vale do Jequitinhonha, dobrou de preço.
Leila adquiriu a última remessa das cabaças a R$ 1,20 cada, ante os R$ 0,60 por unidade que desembolsou há um ano. A justificativa do fornecedor foi a redução da oferta da matéria-prima, em decorrência das chuvas excessivas na plantação. Atrás da base das peças, que têm clientes cativos em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, em Búzios, Niterói e em Curitiba, chegaram os reajustes de 30% a 50% de massa plástica, resina, tinta e cola.