Nem mesmo a alta da taxa básica de juros da economia, a Selic, desbancou a caderneta de poupança entre as melhores aplicações financeiras neste ano. O investimento preferido do brasileiro está rendendo entre 0,55% e 0,67% ao mês, acima da rentabilidade líquida de vedetes do mercado, como diversos fundos de renda fixa DI para valores de aplicação mais baixos, em torno de R$ 100 a R$ 5 mil. A má notícia é que, a exemplo do ano passado, quase todas as aplicações estão perdendo para a inflação nos primeiros quatro meses do ano.
O “surto inflacionário” que atingiu a economia brasileira, como denominou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está engolindo a rentabilidade de quase todos os investimentos de renda fixa. A caderneta de poupança, com aniversário no dia 1º, totalizou ganho de 2,3% entre janeiro e abril. Bem abaixo da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que acumula 3,23% de alta no ano. A estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), também do IBGE, deve ficar em 2,9% no primeiro quadrimestre.
A maior parte dos fundos de renda fixa dos bancos, mesmos os chamados DI (atrelado à Selic), rendeu entre 2% e 3,65% brutos de janeiro a abril, dependendo da instituição e da característica do fundo. Como essas aplicações pagam Imposto de Renda entre 22,5% (prazo de até seis meses) e 15% (se ficar aplicado por mais de dois anos), o rendimento mingua para algo em torno de 1,6% a 2,9%. Em abril, o ganho líquido ficou entre 0,58% e 0,60%, conforme pesquisa feita nos sites do Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil. Tal rendimento faz com que vários desses fundos estejam atrás também da poupança.
Mais risco
Só os grandes fundos, aqueles que exigem depósitos maiores, de R$ 20 mil para cima, ainda estão oferecendo ganho líquido igual ou pouco maior que a inflação. Mesmo assim, porque destinam parte dos recursos para o mercado de derivativos, de mais risco, como o de commodities.
Neste cenário de inflação em alta e aumento da Selic, o diretor da corretora Easynvest, Amerson Magalhães, aconselha concentrar os investimentos nos chamados fundos DI pós-fixados, ou seja, atrelados à variação do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). “A Selic vai subindo, a rentabilidade também vai acompanhando”, afirma. É a saída para o poupador conseguir ganhar pelo menos igual a inflação.
“No quadro atual, a mais prejudicada é a poupança, que tem rentabilidade fixa”, diz, referindo-se aos 6% de ganhos ao ano, ou 0,5% ao mês, embora receba também a variação da Taxa Referencial de Juros (TR), que tem ficado entre 0,04% e 0,17% ao mês, menos de 1% ao ano. Segundo ele, com o aumento das taxas de juros, os fundos de renda fixa prefixados também sofrem.
Magalhães alerta, no entanto, que o investimento mais interessante hoje é o Tesouro Direto, que é a compra de títulos públicos on line pelo site da Secretaria do Tesouro Nacional, em especial daqueles atrelados à inflação, IPCA ou Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). A economista Camila Beraldo, de 30 anos, manteve suas economias na poupança desde a queda da Selic, em meados de 2009, mas agora está revendo a estratégia. “Investir diretamente nos títulos públicos, no Tesouro Direto, é mais garantido atualmente”, acredita.
Pós-fixadas
A superintendente de investimentos do Santander, Sinara Polycarpo, recomenda as aplicações pós-fixadas e as que acompanham a Selic. Ela considera o CDB-DI uma excelente opção. “Garante um percentual da Selic e, dependendo do tempo que o dinheiro ficar aplicado, o cliente pode conseguir uma taxa melhor”, observa. Em geral, os fundos DI que pagam mais exigem valores iniciais a partir dos R$ 10 mil.
Os CDBs estão entre as melhores aplicações, assegurando rendimento interessante – um percentual do CDI, que vai de 80% a 95%, conforme o tempo que o dinheiro fica aplicado. Tradicionalmente renovados a cada 30 dias, contam com a opção da liquidez diária, mas há cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de forma decrescente.
Tesouro direto
Os fundos ofertados pelos bancos são compostos dos mesmos títulos vendidos diretamente às pessoas físicas pelo Tesouro Nacional. “Em vez de deixar a administração do fundo para o banco, o investidor vai e compra diretamente. As taxas cobradas são inferiores às de administração dos fundos, o que resulta em rentabilidade maior”, diz Amerson Magalhães, da Easynvest. Já a liquidez é semanal. Basta uma boa programação, pois é possível vender os títulos toda quarta-feira, porque o governo está sempre lá disposto a recomprá-los. “A liquidez é semanal.”