A inflação percebida pelo consumidor está "mudando de perfil", na análise do coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Para o especialista, diferentemente do que ocorreu no ano passado, atualmente a inflação sentida no varejo não é mais composta principalmente por altas nos preços dos alimentos, e sim por aumentos expressivos nos preços de serviços.
Ele fez o comentário nesta segunda-feira, ao analisar o comportamento do núcleo da inflação varejista do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), que subiu 0,55% em abril, maior patamar desde maio de 2005 (0,73%). Usado para mensurar tendências, o núcleo é calculado a partir da exclusão das principais quedas, e das mais significativas altas de preços no varejo. Ele comentou que, no ano passado, quando ocorreram "repiques" na variação do núcleo, estas foram causadas pela disseminação de aumentos nos preços dos alimentos, pressionados por uma onda de elevações nas commodities (matérias-primas) agrícolas no cenário internacional, e no mercado doméstico brasileiro.
Para o especialista, é preciso uma continuidade, por parte do Banco Central (BC), na trajetória de elevação da taxa básica de juros (Selic) nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) para ajudar a conter o avanço da demanda no mercado interno. "Com o avanço da inflação dos alimentos no ano passado, e das commodities, não havia muito o que fazer, afinal, as commodities respondiam à demanda no mercado internacional", avaliou o especialista. "Mas o avanço da demanda no mercado interno tem como ser combatido pelo governo", comentou.
Quadros classificou as recentes elevações na taxa Selic por parte do BC como "tímidas". "Mas o lado positivo é que o BC já deu sinais de que esta dosagem (nos aumentos da Selic) vai deixar de ser tímida", comentou.