Brasília – Os bancos públicos estão liderando a alta dos juros com o objetivo de dar mais poder para a política de combate à inflação. Caixa Econômica e Banco do Brasil, os dois principais agentes financeiros do governo, pisaram fundo no acelerador na hora de encarecer o crédito, principalmente nas linhas de curto prazo, e o brasileiro endividado acabou pagando a conta da luta contra a inflação. No cheque especial, por exemplo, o BB promoveu uma elevação de 0,45 ponto percentual entre dezembro e abril e levou a taxa para 104% ao ano. A Caixa também acompanhou o ritmo de subida em 0,38 ponto percentual. As maiores altas, porém, foram nos banco públicos regionais. Apenas no início deste ano o Banco do Nordeste encareceu o limite especial em 1,41 ponto percentual, e o da Amazônia, em 0,94.
Competição Na aquisição de veículos, a Caixa está puxando o encarecimento do crédito. Nos últimos seis meses elevou as taxas em 0,54 ponto percentual e entrou num embate com os bancos das montadoras, que estão tentando fazer frente às ferramentas do governo para diminuir o consumo. As instituições financeiras automobilísticas estão dividindo a entrada de financiamentos e ofertando taxas bem abaixo da média do mercado. Enquanto o sistema financeiro cobra 2,5% ao mês, as montadoras estão com juros de 1,7%.
Miguel Oliveira, economista-chefe da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que após o inicio da política de crédito mais restritiva, não fosse a intensa concorrência que hoje existe no setor financeiro, os juros teriam disparado a perder de vista. “Apenas por isso elas não subiram mais”, avaliou. Pelos cálculos dele, o custo do crédito só vai recuar para um nível mais barato no último trimestre do ano. Segundo uma pesquisa de taxas de juros coordenada pelo economista, de cinco modalidades de crédito observadas, três apresentaram alta em abril: cheque especial, crediário e empréstimo pessoal em bancos. O cheque especial, no ranking das opções mais caras, só perde para o rotativo do cartão de crédito. Enquanto o plástico cobra 238,30% ao ano, o limite especial tem uma taxa de 150,98%.
Inadimplência
Com o crédito ficando cada vez mais caro, o brasileiro já endividado passou a necessitar de linhas de curto prazo para não ficar inadimplente mas, aos poucos, está perdendo o controle do orçamento. O volume de calotes, assim como esperava o BC como iniciou a política de aperto monetário, está em ritmo de crescimento. Apenas entre janeiro e março a inadimplência dos consumidores passou de 5,7% de todo o crédito concedido no país para 5,9% e a tendência é de que essa trajetória se mantenha firme nos próximos meses. No cheque especial, a dívida dos brasileiros chegou a R$ 19,2 bilhões em março. Desse total, R$ 2,3 bilhões ou 11,9% estão em atraso.
Para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), a inadimplência se tornou preocupação. “A demanda por financiamentos de curto prazo, como do cheque especial, está crescendo por causa da inadimplência. A pessoa perde a capacidade de quitar suas contas devido ao excesso de juros e necessita dessas linhas mais caras, de curto prazo”, analisou Tingas. “O governo queria que o crédito encarecesse e foi isso que ocorreu.”