A ministra de Indústria da Argentina, Débora Giorgi, enviou hoje uma longa e dura carta-resposta ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Fernando Pimentel, na qual reclama da falta de diálogo entre os dois países antes da imposição de barreiras ao comércio de automóveis argentinos. A carta acusa o Brasil de não cumprir acordos que visam equilibrar o comércio bilateral entre os dois países.
"Teria gostado de transmitir-lhe minhas considerações de maneira telefônica e em um diálogo pessoal. Lamentavelmente, quando tentei, ontem, me informaram que o senhor estava reunido com o Embaixador dos Estados Unidos e, seguramente, as múltiplas ocupações, que temos os ministros, lhe impediram, posteriormente de devolver minha ligação", disse a ministra argentina, em trecho da carta.
Giorgi iniciou a carta defendendo as barreiras adotadas a produtos brasileiros. "Em primeiro lugar, quero enfatizar que as medidas que o governo argentino tomou e pode tomar, seja de defesa comercial, de monitoramento de comércio ou de investigações aduaneiras, se enquadram em um conjunto de acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e não são destinadas a nenhum país em particular, muito menos ao Brasil, à quem consideramos um sócio estratégico."
A ministra negou que as medidas tenham provocado um impacto negativo nas exportações brasileiras à Argentina, citando, na carta, uma série de dados que mostrariam a curva ascendente do déficit comercial argentino em relação ao Brasil, desde 2003. Nos primeiros quatro meses de 2011, o déficit argentino superará US$ 6 bilhões.
"Esta informação é contundente sobre a inexistência de um impacto negativo sobre as exportações do Brasil à Argentina , sem que, por isso, deixe de reconhecer que puderam haver reclamações pontuais em alguns produtos", argumentou. A ministra levantou dúvidas sobre a veracidade das reclamações de empresários brasileiros sobre a demora superior a 60 dias para a liberação de entrada de certos produtos.
Giorgi também cobrou do Brasil disposição para adotar medidas que visem atenuar os desequilíbrios estruturais do comércio entre os dois países, especialmente em relação aos produtos industrializados. A ministra lembrou também a assinatura do Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC), em 2006, que prevê mecanismos de compensações entre os países, mas que não foi regulamentado pelo Brasil.