A escolha de um novo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) será feita pela diretoria-executiva da instituição, mas, mesmo antes do francês Dominique Strauss-Kahn ter apresentado sua renúncia, as especulações sobre seu sucessor já tinham começado.
A diretoria-executiva do FMI é formada por 24 pessoas, que representam os 187 países-membros da instituição.
Grandes economias como Estados Unidos, China, Japão e Grã-Bretanha têm assento próprio na diretoria. Outros países estão agrupados, de forma que um diretor representa um grupo de países.
E esse grupo vai tentar escolher um novo diretor-gerente por consenso. Mas, se não houver acordo, poderão fazer a escolha pelo voto.
Os votos têm um valor, equivalente à subscrição do país ao FMI, o que é conhecido como cota. Essa cota está ligada, em linhas gerais, à participação do país na economia mundial.
Mas tais cotas estão desatualizadas. A China e outras economias emergentes têm uma representação abaixo do que merecem, e países da Europa Ocidental vivem situação oposta.
Por exemplo: a participação da China na economia global (usando o chamado ranking do PIB por PPP, paridade de poder de compra, que leva em consideração as diferenças entre o custo de vida nos países) é de 13,6%, mas sua fatia no voto é de 3,82%.
Já a Grã-Bretanha e a França, têm, cada uma, PIB PPP de 2,9%, mas os países têm 2,9% do voto cada um.
O FMI já preparou uma revisão da política de cotas, dando mais poder de voto a países emergentes como China, Brasil, Índia e Rússia, mas a mudança só deve funcionar a partir do ano que vem.
Europa e EUA
A União Europeia tem no total cerca de um terço dos votos, ou seja, os países do bloco poderiam se unir em torno de um único candidato.
Mas tal união não é muito comum entre os países-membros - a União Europeia não chegou a consensos em outras ocasiões.
Na década de 80, o bloco europeu tentou, mas não conseguiu se unir para votar no mesmo candidato. Com isso, os países em desenvolvimento tiveram um papel importante na escolha entre os candidatos.
Os postulantes eram europeus, então o episódio não configurou o tipo de influência que as economias emergentes almejam nos dias de hoje.
Se a Europa se unir, poderá convencer os Estados Unidos de que o FMI precisa de outro diretor europeu - o que elevaria o total de votos para quase 50%.
A razão pela qual os Estados Unidos poderão ser convencidos é o fato de que o maior problema do FMI atualmente é a zona do euro, ainda que alguns possam argumentar que essa é uma razão justamente para não ter um europeu no comando do Fundo.
Líderes do G20 (grupo das principais economias avançadas e em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte) já falaram várias vezes que as lideranças de todas as instituições financeiras internacionais devem ser escolhidas de forma aberta, transparente e baseada em mérito.
Isso poria fim a um arranjo em vigor desde o pós-guerra, no qual um europeu é designado para chefiar o FMI, enquanto os Estados Unidos nomeiam o presidente do Banco Mundial.
Abertura e mérito não descartam a nomeação de um europeu para o cargo de diretor-gerente do FMI, mas tampouco combinam com a suposição de que sairá da Europa o próximo chefe da instituição.