Brasil e Argentina discutiam nesta segunda-feira em Buenos Aires meios de superar a crise comercial que eclodiu devido a medidas protecionistas aplicadas mutuamente, embora a tensão tenha diminuído após a autorização concedida para a passagem de mercadorias de ambos os lados da fronteira.
As negociações serão realizadas até terça-feira, lideradas pelos secretários de Indústria da Argentina, Eduardo Bianchi, e do Brasil, Alessandro Teixeira, enviados pelos governos para buscar soluções técnicas para o conflito.
A crise foi desencadeada há 10 dias quando a presidente brasileira, Dilma Rousseff, endureceu as normas para a entrada de cerca de 3.000 veículos argentinos ao aplicar a estes o sistema de licenças não-automáticas, depois de ter pedido em vão que os argentinos retirassem as barreiras às vendas de autopeças, calçados e eletrodomésticos, entre outros.
A medida atingiu a Argentina em seu ponto fraco, devido ao fato de sua indústria automotora ser uma das locomotivas do crescimento de sua economia e de 80% das exportações de veículos serem destinadas ao Brasil, registrando uma receita em 2010 de 7 bilhões de dólares, incluindo as autopeças.
A presidente argentina Cristina Kirchner reiterou que a prioridade de seu governo é a proteção dos postos de trabalho e a reindustrialização do país.
O saldo negativo para a Argentina superou 1 bilhão de dólares no primeiro trimestre do ano, segundo a consultoria Abeceb.com. "Houve uma mini-retaliação, mas não tem nenhum alcance estratégico. Evidentemente, não estávamos gostando que esse mecanismo de licenças não-automáticas estivesse incidindo sobre produtos brasileiros", disse à imprensa paulista Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Rousseff.
A Argentina é o terceiro sócio comercial do Brasil, atrás de China e Estados Unidos, e o volume bilateral de transações atingiu os 33 bilhões de dólares em 2010, com um superávit para o Brasil de pouco mais de 4 bilhões.
"Nunca antes a represália comercial do Brasil foi tão severa. Embora a medida afete a todos os países fornecedores, a Argentina é a mais atingida", indicou em um relatório a consultoria privada Ecolatina.
O ministro brasileiro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, havia assegurado que a decisão de aumentar as restrições aos produtos argentinos vinha sendo estudada "há algum tempo", mas negou que tenha se originado em uma irritação de Rousseff.