Brasil e Argentina se esforçavam, esta terça-feira, para encontrar uma saída para o conflito comercial, no segundo dia de negociações, e após evidenciar gestos mútuos de boa vontade como a reabertura paulatina da fronteira à passagem de mercadorias. Os secretários de Indústria da Argentina, Eduardo Bianchi, e do Brasil, Alessandro Teixeira, reiniciaram na manhã desta terça-feira um encontro iniciado na segunda, confirmou à AFP uma fonte oficial.
Os dois governos "apresentaram nossas preocupações e estamos trabalhando em prol de uma solução para cada ponto de tensão surgido da relação comercial", disse Bianchi em comunicado à imprensa, após a primeira reunião que se prolongou por duas horas. Segundo a Argentina, as delegações
O conflito foi desatado há 11 dias, quando o Brasil freou a entrada de 3.000 veículos argentinos, ao aplicar sobre eles o sistema de licenças não automáticas, após ter reivindicado, em vão, que lhes autorizassem a venda de autopeças, calçados e eletrodomésticos, entre outros. A medida produziu um impacto na Argentina, cuja indústria automotiva é, desde 2003, uma das locomotivas do crescimento. Oitenta por cento das exportações de veículos argentinos se destinam ao Brasil, com rendimentos este ano de 7 bilhões de dólares, inclusive as autopeças.
O volume bilateral de intercâmbio encostou nos 33 bilhões de dólares em 2010, com déficit de pouco mais de US$ 4 bi para a Argentina, segundo números oficiais. Depois do primeiro impacto e após as primeiras aproximações, na semana passada, a tensão começou a ceder, com a autorização do Brasil para a entrada de mil veículos parados na fronteira, enquanto a Argentina oficializou a decisão de facilitar a passagem pela sua fronteira de calçados, pneus e baterias brasileiras.
A reunião entre os dois secretários da Indústria havia sido acertada, na quinta-feira passada, em um encontro entre a ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi, e o embaixador brasileiro, Enio Cordero, que anteciparam "gestos de distensão". A presidente argentina, Cristina Kirchner, reiterou que a prioridade de seu governo é a proteção dos postos de trabalho e a reindustrialização do país.
A ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi, disse na semana passada que as licenças não automáticas, impostas pela Argentina, "respeitam as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC)" e disse, ainda, que o comércio bilateral é superavitário a favor do Brasil.
"Houve uma mini-retaliação, mas não tem nenhum alcance estratégico. Evidentemente, não estávamos gostando que esse mecanismo de licenças não automáticas estivesse incidindo nos produtos brasileiros", disse dias atrás Marco Aurélio Garcia, assessor especial da presidente Dilma Rousseff.
O ministro brasileiro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, havia assegurado que a decisão de barrar mercadorias argentinas havia sido estudada "fazia algum tempo", mas negou que tivesse se originado a partir de uma irritação de Dilma. A Argentina é o terceiro parceiro comercial do Brasil, depois da China e dos Estados Unidos.