A maior fabricante terceirizada de eletrônicos do mundo, a taiwanesa Foxconn, enfrenta o agravamento de sua crise de imagem após a explosão que matou três funcionários e feriu outros 15 em sua fábrica em Chengdu, no sul da China, na última sexta-feira.
A empresa, conhecida internacionalmente pela produção de equipamentos para a Apple, como o iPhone e o iPad, já havia enfrentado no ano passado uma onda de suicídios de trabalhadores, levantando questionamentos sobre segurança e adequação das condições de trabalho.
A Foxconn, que além da Apple tem entre seus clientes empresas como Sony, Dell, Nokia e HP, emprega um milhão de trabalhadores na China e tem uma receita anual estimada em US$ 80 bilhões. Recentemente, durante a visita da presidente Dilma Rousseff à China, a empresa anunciou um investimento de R$ 18,9 bilhões para a abertura de uma fábrica no Brasil para a produção de telas para celulares e iPads.
Explosão
O acidente da última sexta-feira em Chengdu ainda está sob investigação, mas as indicações iniciais apontam para a explosão de um pó combustível usado durante o processo de polimento de peças. A empresa interrompeu todas as suas linhas de montagem que realizam o processo de polimento até que o caso seja esclarecido.
O caso levou ainda o governo chinês a ordenar à Foxconn e a outras companhias taiwanesas que operam no país que garantissem a segurança de seus trabalhadores. A empresa nega que seus funcionários enfrentam condições precárias e afirma que trabalha junto com o governo para garantir a segurança dos funcionários.
Para Thomas Dinges, consultor sênior da IHS iSuppli, uma das maiores empresas de pesquisa em tecnologia do mundo, o acidente de sexta-feira “não transforma o iPad produzido no local na nova versão do 'diamante de sangue' africano (diamantes produzidos em áreas de conflito e cuja venda foi proibida), mas agrava a crise da imagem da empresa com os consumidores". “Os problemas com as condições de trabalho na empresa voltaram à cabeça de todo mundo, refrescando a memória fresca dos suicídios”, observa.
Em um período de menos de um ano, até maio do ano passado, 11 funcionários da Foxconn se suicidaram saltando do alto de prédios da fábrica, principalmente em Shenzhen, no sul do país, onde estão concentrados metade de seus funcionários.
Os motivos dos suicídios estariam ligados à longa jornada de trabalho, aos salários baixos, à falta de um ambiente social e à natureza excessivamente repetitiva do trabalho nas linhas de produção.
Contrato
No ano passado, Apple e HP disseram que trabalhariam junto à gigante taiwanesa para resolver o “problema”. “É quase impossível que tais acontecimentos façam a Apple cortar suas relações com a Foxconn”, diz Dinges, explicando que ambas as empresas investiram muito tempo e recursos na parceria.
A planta de Chengdu conta com cem mil funcionários e é responsável pela fabricação exclusiva de produtos da Apple. No dia 7 de maio deste ano, manifestações foram organizadas em Hong Kong por estudantes locais e da China continental para protestar contra a conduta da Foxconn como empregadora.
Os participantes vestiam uniformes da companhia e mostravam cópias gigantes de iPads cobertas de sangue e com o símbolo da caveira que alerta para perigo químico. Os atos ocorreram depois que a empresa de Steve Jobs lançou a versão branca do iPad em frente a uma das maiores revendedoras do produto na ilha.
‘Condições alarmantes’
Duas semanas antes da explosão em Chengdu, a Associação de Estudantes e Professores Contra Má Conduta Coorporativa (Sacom, na sigla em inglês), com base em Hong Kong, lançou um estudo sobre três fábricas da Foxconn na China continental. O documento indicava que as condições de trabalho na planta localizada em Chengdu, na província de Sichuan, eram comparativamente “alarmantes”.
“A Foxconn é uma das maiores empresas do mundo e produz para companhias que figuram entre as mais prestigiosas do mundo. Sempre haverá estudos sendo realizados sobre a gigante taiwanesa e é difícil afirmar quão exatos ou premonitórios eles são”, pondera Dinges, que entende a liberação da pesquisa pela Sacom e a explosão em Sichuan como uma coincidência infeliz.
Na China continental, a Foxconn conta com pouca simpatia dos locais. Desde que os suicídios foram reportados, usuários da internet debatem a falta de controle do governo sobre as empresas e o modelo de produção industrial do país, que possibilitou a grande virada econômica da China. Funcionários da Foxconn saíram em defesa de seus empregadores no campus da planta de Shenzhen em agosto de 2010, porém sem muito sucesso.
Fotos dos manifestantes segurando placas de apoio à empresa e a Terry Guo, presidente do grupo, postadas na internet foram criticadas por usuários; outros questionaram a veracidade do protesto ao dizer que as mulheres participantes pareciam modelos. Críticas feitas à Apple foram raras.
A Foxconn não comenta as acusações específicas sobre as condições de trabalho em suas fábricas, mas afirma trabalhar para garantir o bem estar e a segurança dos funcionários. “Temos um comprometimento com o governo para fazer todo o possível para garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores da Foxconn”, afirma um comunicado da companhia.
Prateleiras vazias
Dinges aponta que, mesmo que a ideia de consumo consciente esteja se alastrando, as prateleiras das lojas da Apple esvaziam rapidamente. “A ligação da imagem do produto à sua cadeia industrial, neste caso problemática, leva muito tempo para ser formada”, afirma.
Apesar dos problemas enfrentados pela Foxconn, o lançamento em Pequim do iPad 2 criou tumulto e longas filas em frente à loja da marca na capital chinesa, que hoje oferece o maior retorno financeiro à Apple no mundo.
Para o especialista da iSuppli, enquanto a explosão em Chengdu não for comprovadamente um caso de negligência, seus efeitos ficarão apenas no imaginário social como um novo agravante à imagem da Foxconn.
“A principal e mais imediata consequência do acidente deverá ser o questionamento mais severo por países que sejam destino dos investimentos da companhia, como é o caso do Brasil”, conclui.
A Foxconn disse que já analisava havia vários anos a possibilidade de se instalar no Brasil. A empresa deve se beneficiar da medida provisória publicada na última semana pelo governo brasileiro para isenção fiscal na fabricação de tablets como os iPads no país, barateando o custo de produção em mais de 30%.
A medida foi tomada em resposta às exigências da companhia para se instalar no país. O governo brasileiro, por sua vez, exigiu que a mão de obra contratada seja majoritariamente brasileira e que haja transferência de tecnologia.
O ministro da Ciência e da Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou que 12 empresas já demonstraram interesse em produzir tablets no Brasil e que um investimento do tamanho do da Foxconn pode gerar até 100 mil empregos, diretos e indiretos.
A empresa, conhecida internacionalmente pela produção de equipamentos para a Apple, como o iPhone e o iPad, já havia enfrentado no ano passado uma onda de suicídios de trabalhadores, levantando questionamentos sobre segurança e adequação das condições de trabalho.
A Foxconn, que além da Apple tem entre seus clientes empresas como Sony, Dell, Nokia e HP, emprega um milhão de trabalhadores na China e tem uma receita anual estimada em US$ 80 bilhões. Recentemente, durante a visita da presidente Dilma Rousseff à China, a empresa anunciou um investimento de R$ 18,9 bilhões para a abertura de uma fábrica no Brasil para a produção de telas para celulares e iPads.
Explosão
O acidente da última sexta-feira em Chengdu ainda está sob investigação, mas as indicações iniciais apontam para a explosão de um pó combustível usado durante o processo de polimento de peças. A empresa interrompeu todas as suas linhas de montagem que realizam o processo de polimento até que o caso seja esclarecido.
O caso levou ainda o governo chinês a ordenar à Foxconn e a outras companhias taiwanesas que operam no país que garantissem a segurança de seus trabalhadores. A empresa nega que seus funcionários enfrentam condições precárias e afirma que trabalha junto com o governo para garantir a segurança dos funcionários.
Para Thomas Dinges, consultor sênior da IHS iSuppli, uma das maiores empresas de pesquisa em tecnologia do mundo, o acidente de sexta-feira “não transforma o iPad produzido no local na nova versão do 'diamante de sangue' africano (diamantes produzidos em áreas de conflito e cuja venda foi proibida), mas agrava a crise da imagem da empresa com os consumidores". “Os problemas com as condições de trabalho na empresa voltaram à cabeça de todo mundo, refrescando a memória fresca dos suicídios”, observa.
Em um período de menos de um ano, até maio do ano passado, 11 funcionários da Foxconn se suicidaram saltando do alto de prédios da fábrica, principalmente em Shenzhen, no sul do país, onde estão concentrados metade de seus funcionários.
Os motivos dos suicídios estariam ligados à longa jornada de trabalho, aos salários baixos, à falta de um ambiente social e à natureza excessivamente repetitiva do trabalho nas linhas de produção.
Contrato
No ano passado, Apple e HP disseram que trabalhariam junto à gigante taiwanesa para resolver o “problema”. “É quase impossível que tais acontecimentos façam a Apple cortar suas relações com a Foxconn”, diz Dinges, explicando que ambas as empresas investiram muito tempo e recursos na parceria.
A planta de Chengdu conta com cem mil funcionários e é responsável pela fabricação exclusiva de produtos da Apple. No dia 7 de maio deste ano, manifestações foram organizadas em Hong Kong por estudantes locais e da China continental para protestar contra a conduta da Foxconn como empregadora.
Os participantes vestiam uniformes da companhia e mostravam cópias gigantes de iPads cobertas de sangue e com o símbolo da caveira que alerta para perigo químico. Os atos ocorreram depois que a empresa de Steve Jobs lançou a versão branca do iPad em frente a uma das maiores revendedoras do produto na ilha.
‘Condições alarmantes’
Duas semanas antes da explosão em Chengdu, a Associação de Estudantes e Professores Contra Má Conduta Coorporativa (Sacom, na sigla em inglês), com base em Hong Kong, lançou um estudo sobre três fábricas da Foxconn na China continental. O documento indicava que as condições de trabalho na planta localizada em Chengdu, na província de Sichuan, eram comparativamente “alarmantes”.
“A Foxconn é uma das maiores empresas do mundo e produz para companhias que figuram entre as mais prestigiosas do mundo. Sempre haverá estudos sendo realizados sobre a gigante taiwanesa e é difícil afirmar quão exatos ou premonitórios eles são”, pondera Dinges, que entende a liberação da pesquisa pela Sacom e a explosão em Sichuan como uma coincidência infeliz.
Na China continental, a Foxconn conta com pouca simpatia dos locais. Desde que os suicídios foram reportados, usuários da internet debatem a falta de controle do governo sobre as empresas e o modelo de produção industrial do país, que possibilitou a grande virada econômica da China. Funcionários da Foxconn saíram em defesa de seus empregadores no campus da planta de Shenzhen em agosto de 2010, porém sem muito sucesso.
Fotos dos manifestantes segurando placas de apoio à empresa e a Terry Guo, presidente do grupo, postadas na internet foram criticadas por usuários; outros questionaram a veracidade do protesto ao dizer que as mulheres participantes pareciam modelos. Críticas feitas à Apple foram raras.
A Foxconn não comenta as acusações específicas sobre as condições de trabalho em suas fábricas, mas afirma trabalhar para garantir o bem estar e a segurança dos funcionários. “Temos um comprometimento com o governo para fazer todo o possível para garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores da Foxconn”, afirma um comunicado da companhia.
Prateleiras vazias
Dinges aponta que, mesmo que a ideia de consumo consciente esteja se alastrando, as prateleiras das lojas da Apple esvaziam rapidamente. “A ligação da imagem do produto à sua cadeia industrial, neste caso problemática, leva muito tempo para ser formada”, afirma.
Apesar dos problemas enfrentados pela Foxconn, o lançamento em Pequim do iPad 2 criou tumulto e longas filas em frente à loja da marca na capital chinesa, que hoje oferece o maior retorno financeiro à Apple no mundo.
Para o especialista da iSuppli, enquanto a explosão em Chengdu não for comprovadamente um caso de negligência, seus efeitos ficarão apenas no imaginário social como um novo agravante à imagem da Foxconn.
“A principal e mais imediata consequência do acidente deverá ser o questionamento mais severo por países que sejam destino dos investimentos da companhia, como é o caso do Brasil”, conclui.
A Foxconn disse que já analisava havia vários anos a possibilidade de se instalar no Brasil. A empresa deve se beneficiar da medida provisória publicada na última semana pelo governo brasileiro para isenção fiscal na fabricação de tablets como os iPads no país, barateando o custo de produção em mais de 30%.
A medida foi tomada em resposta às exigências da companhia para se instalar no país. O governo brasileiro, por sua vez, exigiu que a mão de obra contratada seja majoritariamente brasileira e que haja transferência de tecnologia.
O ministro da Ciência e da Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou que 12 empresas já demonstraram interesse em produzir tablets no Brasil e que um investimento do tamanho do da Foxconn pode gerar até 100 mil empregos, diretos e indiretos.