A indústria brasileira começa a sentir os efeitos do aumento das taxas de juros e das medidas de enxugamento do crédito na economia em maior intensidade do que as empresas esperavam. Caiu 2,1% a produção industrial do país em abril, frente a março, e na comparação com abril do ano passado houve uma retração de 1,3%, segundo pesquisa divulgada nessa terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 27 ramos pesquisados, 13 amargaram queda expressiva. As fábricas dos chamados bens de consumo duráveis, que incluem veículos e eletrodomésticos, sofreram com uma perda significativa de 10,1% da produção. Até mesmo na análise do desempenho de janeiro a abril, que manteve resultado positivo de 1,6%, ficou claro o recuo, ante taxas bem superiores de crescimento dos últimos três quadrimestres de 4,1%, 10,7% e 18%, respectivamente. A redução em abril foi a maior num mês desde dezembro de 2008 (-12,2%).
O resultado desfavorável de abril anulou boa parte dos ganhos que a indústria obteve neste ano, de 3,3% de janeiro a março, numa espécie de ajuste ao novo cenário com que as empresas passaram a conviver, observou o analista do IBGE em Minas Gerais, Antonio Braz de Oliveira e Silva. “Já se esperava números mais fracos para abril, que agora configuram uma tendência mais natural, em relação aos resultados que estavam muito altos, quando comparados aos anos recentes de crise (de 2008 e 2009)”, afirma. Em todo o ano passado, os indicadores da indústria mostraram forte expansão analisados sobre a base fraca de comparação de 2008 e 2009.
A pesquisa do IBGE foi coerente com a redução em maio do Índice de Confiança da Indústria, medido pela Fundação Getúlio Vargas, também divulgado nessa terça-feira. O indicador diminuiu de 111,2 pontos para 109,9 pontos no mês passado, o menor verificado desde novembro de 2009 (109,6 pontos). O universo de empresas que consideram bom o ambiente para os negócios recuou de 33,2% para 32,2% e a parcela das que avaliavam como fraca a situação dos seus negócios aumentou de 9,2% para 10,4%.
Minas
Os dados coletados pelo IBGE tendem a se confirmar, especialmente, nas regiões mais industrializadas do país, mas o instituto só deve divulgar as taxas por estado na semana que vem. Minas Gerais deve sofrer o baque em função do peso da produção de veículos, alimentos, álcool e de máquinas e equipamentos, segmentos importantes no desempenho da economia mineira, apesar das taxas positivas da produção da indústria extrativa, que cresceu 2,5%, e da metalurgia básica, com alta de 1,4%, de março para abril, dois ramos de peso na produção do estado. Com a retração apurada pelo IBGE, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) deverá rever novamente a taxa de crescimento esperada neste ano, informou Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da instituição.
“Estamos, de fato, aterrissando. Com certeza, vamos ter de rever as previsões de crescimento provavelmente para baixo se não for tomada nenhum medida de compensação das dificuldades que a indústria enfrenta”, afirma Lincoln Gonçalves. A Fiemg já havia revisado de 6,1% no começo do ano para 4,8% em maio a expectativa de expansão da produção industrial mineira. Gonçalves observa que o freio imposto à produção de bens de consumo deve chegar nos próximos meses à fabricação de bens não duráveis, a exemplo de vestuário e calçados, cosméticos e brinquedos.
Pressão dos importados
Analisada na comparação com o ano passado, a produção da indústria de roupas e acessórios em abril já sente queda, que atingiu 2,2%. O crescimento de 15% da produção almejada pela indústria mineira, da mesma forma, deverá ser revisado, de acordo com Michel Aburachid, presidente do sindicato das indústrias de vestuário no estado. “Começamos a verificar um decréscimo nas vendas, mas não tanto como outros setores”, diz o industrial. As empresas do segmento de moda diária representam nada menos de 50% do faturamento do setor em Minas.
As expectativas das indústrias de vestuário estão mais apoiadas na continuidade de expansão do segmento de uniformes profissionais, ligado à performance das grandes empresas, e que responde por quase 40% da receita da indústria do vestuário. Ainda com base na pesquisa do IBGE, se destacaram na queda de março para abril as fábricas de produtos de metal, basicamente estruturas metálicas para construções industriais (-9,3%), veículos automotores (-2,8%), alimentos (-2,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-7,6%) e refino de petróleo e produção de álcool (-1,4%). Com grande participação no parque industrial brasileiro, a produção da indústria de máquinas e equipamentos diminuiu 5,4% em abril, depois de quatro meses de crescimento.
Análise da notícia
A queda da produção industrial em abril indica desaceleração da economia brasileira, mas essa redução na atividade produtiva só será sentida no varejo e se tornará mais perceptível para a população nos meses seguintes. Isso porque enquanto a indústria pisou no freio em abril, o varejo vendeu mercadorias que foram encomendadas e fabricadas nos primeiros meses do ano, período no qual a indústria nacional cresceu. Além da reação atrasada, o varejo brasileiro hoje é abastecido em mais de 20% por produtos importados. Se confirmada a tendência de retração na indústria, o emprego e a renda dos trabalhadores devem ser afetados negativamente, com impacto direto sobre o consumo, que por ora não dá sinais de desaquecimento e segue apostando em vendas maiores nas datas comemorativas. (Marcílio de Moraes)