Piranhas (AL), Casa Nova (BA) e São Francisco (MG) – O recorde de geração de empregos formais registrados no Brasil em 2010, quando 2,86 milhões de carteiras de trabalho foram assinadas, não passou despercebido na Bacia do São Francisco. Vagas abertas por atividades econômicas importantes da região, como comércio, turismo e agricultura, beneficiaram moradores que antes tinham de procurar trabalho em grandes centros e atraíram até homens e mulheres de diferentes regiões do Brasil. O crescimento do emprego é o tema da quinta parte da série de reportagens do Estado de Minas sobre novos rumos da economia do Velho Chico.
O desejo pela qualidade de vida também mudou o destino do paulistano Rodrigo Barreto, que trabalhava como técnico de alarmes na maior cidade do país. Há oito meses, ele não pensou duas vezes quando recebeu o convite para gerenciar uma “fazenda” de peixes em Casa Nova (BA), de 64,9 mil habitantes. O setor de pesca e aquicultura foi um dos que cresceram no país nos últimos anos: abriu 500 mil postos de trabalho entre 2007 e 2009, atingindo 4 milhões de vagas, de acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).
A empresa em que Rodrigo trabalha, a cerca de um quilômetro da barragem de Sobradinho, aproveita as águas do São Francisco para produzir 25 toneladas de tilápias por mês. A espécie é o carro-chefe da piscicultura brasileira, respondendo por 39% do total de pescado cultivado no Brasil. Toda a produção, conta Rodrigo, é entregue por R$ 4,70 o quilo a comerciantes do Maranhão, que a repassam aos consumidores por entre R$ 8 e R$ 9. “Nossa meta é criar caranha e surubim. Vamos ampliar o total de tanques, de 120 para 500 unidades”, diz. A otimista previsão é confirmada pelas últimas estatísticas do MPA: a produção brasileira de pescado cresceu 25% entre 2002 e 2009, de 990.899 toneladas para 1.240.813.
Rodrigo não revela quanto ganha, mas garante que a troca valeu a pena. “Sabe o que é ver o pôr do sol diariamente no rio?”, pergunta. A vendedora Cícera Barbosa, de 29, sabe o que isso significa. Ela se mudou de Xingó (SE), onde ganhava a vida como secretária, para trabalhar numa loja de artesanato na vizinha Piranhas, conhecida por ser a cidade em que as cabeças de Lampião e outros cangaceiros foram exibidas. “Estou feliz aqui”, resume ela, no seu primeiro dia de trabalho. “O rio e seu cânion são lindos”, justifica. O setor de comércio, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, foi o segundo no ranking nacional de geração de emprego em 2010, com 601,8 mil postos de trabalho.
O bom momento da economia também ajuda a fixar moradores na região. Solange da Silva Pereira, de 19 anos, por exemplo, conseguiu vaga como vendedora de uma loja de roupas em Bom Jesus da Lapa (BA). “Há alguns anos, minha irmã precisou ir para Brasília atrás de emprego. Pensei que teria que fazer o mesmo”, admite. “Mas a economia da cidade melhorou e consegui o primeiro emprego com carteira assinada”, comemora. Ela ganha um salário mínimo.
Informalidade
Como no país, nem só de vagas formais vive o mercado de trabalho ao longo do Velho Chico. Em São Francisco, cidade batizada com o nome do santo protetor dos animais, o crescimento da construção civil leva dezenas de adolescentes e adultos a usar canoas para retirar montes de areia do leito do rio e vendê-los a depósitos. O material é buscado em áreas assoreadas e, segundo a prefeitura, não causa danos ao leito. “Na verdade, consertamos o estrago que outras pessoas fizeram”, defende Cipriano de Assis, de 25 anos, na atividade há dois anos. “Vendo cada monte, de um metro cúbico, por R$ 15, e consigo tirar R$ 30 por dia. Mas quem lucra mesmo é o dono do depósito, que o repassa aos clientes por R$ 40”, conta ele, que cursa o 1º ano do ensino médio e espera alcançar uma profissão melhor com os estudos.
José Aparecido Vieira Lopes, de 21, também retira areia do rio, mas leva menos dinheiro para casa porque precisa pagar pelo aluguel da canoa. “No fim do dia ganho R$ 20”, calcula. A exploração de areia no leito forma uma fila de caminhões na margem direita do rio, reforçando a importância desse mercado para a cidade. Cada veículo tem capacidade para transportar 6,5 mil quilos do material.
À espera do primeiro cliente
A novidade tem algo de macabro. Em abril, Manoel da Silva, dono de uma funerária, pôs à venda cinco caixões com escudos do Flamengo, Vasco, Botafogo, Palmeiras e Corinthians. As mercadorias custam R$ 1,7 mil cada e atraem dezenas de curiosos. “Mas ainda não vendi nenhum”, lamenta.