Pressionada pela escassez de mão de obra especializada e o poder de barganha que o trabalhador qualificado ganhou para negociar a sua própria remuneração, a indústria de Minas Gerais elevou os salários pagos aos empregados este ano, contrariando a fama que o estado adquiriu de se aproveitar dos baixos rendimentos pagos como instrumento para manter a sua competitividade. As despesas com a folha salarial das fábricas mineiras subiram 11,4% acima da média nacional de janeiro a março, enquanto a produtividade, medida pela produção física por hora trabalhada pelos empregados, ficou 2,3% superior à média da indústria brasileira. Os números constam de estudo do analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Antonio Braz de Oliveira e Silva.
De acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, realizada nas principais capitais do país, o rendimento médio do trabalhador da indústria da Grande Belo Horizonte foi de R$ 1.578,10 em abril, descontada a inflação, representando um acréscimo de 19,8% na comparação com abril do ano passado. Na média brasileira, considerando seis regiões metropolitanas acompanhadas pelo instituto –além do entorno de BH, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife e Salvador –, os vencimentos cresceram 5,6% no último ano.
A boa notícia para o trabalhador, especialmente num momento de inflação alta, impõe a necessidade de a indústria correr atrás de mais eficiência para compensar a elevação dos custos num ritmo mais acelerado que a produtividade da mão de obra como um todo, observa Braz. O estudo analisou somente os indicadores da porta das fábricas para dentro, ao medir o quanto estão competitivas as indústrias mineiras.
Comparada à realidade das linhas de produção em 2008, portanto, no ano da crise financeira mundial, a indústria mineira melhorou os salários em 18,8% no primeiro trimestre, conforme as estimativas de Braz. A indústria de Minas pagou R$ 24,6 mil por empregado em 2008, estatística mais recente disponível, incluindo os encargos sociais, abaixo do que pagaram as empresas de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os indicadores de desempenho levantados pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) caminham na mesma direção dos dados do IBGE.
Enquanto a massa salarial real (a soma de todos os salários pagos pelo setor, descontada a inflação) cresceu 11,2% de janeiro a março frente aos mesmos meses do ano passado, o faturamento das fábricas aumentou 9,9% e o nível do emprego subiu 1,99%. O presidente da Fiemg, Olavo Machado Junior, diz que não há como fugir às regras ditadas pelo mercado e às possibilidades que o trabalhador tem, hoje, de buscar melhor condições de trabalho e rendimentos. “A concorrência global obriga as empresas a se adequarem a essa realidade. Assim como as máquinas evoluem, é preciso investir mais nas pessoas”, diz o industrial.
Aceleradas
A indústria automotiva, capitaneada pela Fiat Automóveis, de Betim, na Grande BH, as usinas siderúrgicas do estado e a produção minera de celulose são três dos melhores exemplos de setores que mais perseguiram e ganharam produtividade acima da média nacional, segundo Guilherme Veloso Leão, gerente de economia da Fiemg. “Se a produtividade não acompanhar os aumentos de custos, a margem de lucro da empresa cai e ela não consegue continuar investindo e se modernizando, o que é ruim para a economia como um todo”, diz Guilherme Leão.
Em franco processo de expansão, a Vilma Alimentos, de Contagem, na Grande BH, concluiu investimentos de R$ 55 milhões em 2010, com foco em aumento da produtividade, e está aplicando mais R$ 16 milhões este ano motivada pela mesma iniciativa, informa Cezar Tavares, vice-presidente de Vendas e Marketing da empresa.
Os investimentos em maquinário se juntam a programas regulares de treinamento de pessoal do chão de fábrica, dos departamentos de vendas e marketing. Outra frente em que a empresa está trabalhando busca eficiência na compra de matérias-primas como o trigo no momento certo e direto do produtor, estratégia que dá mais competitividade à fábrica. “Somos uma indústria de cunho regional que tem de fazer malabarismo para ser melhor que seus concorrentes (grandes empresas) e estar na lembrança do consumidor como marca de qualidade”, afirma Tavares.
Arrumando a casa
A folha de pagamento real (descontada a inflação) da indústria mineira cresceu 11,4% acima da média do Brasil
de janeiro a março.
A produtividade, medida pela produção física por hora trabalhada pelo empregado do setor no estado, foi 2,3% superior à registrada pela indústria brasileira em geral.
R$ 1.578,10 foi o rendimento médio real (descontada a inflação) do trabalhador da indústria em abril na Região Metropolitana de Belo Horizonte
19,8% foi quanto cresceu a renda do empregado da indústria na Grande BH de janeiro a abril, na comparação com os mesmos meses do ano passado, enquanto na
média nacional os vencimentos (de R$ 1.604,10) aumentaram 5,6% durante o período.
Fonte: IBGE