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Estado de Minas VIDA CARA

Classe média com a corda no pescoço

Salário médio na Grande BH aumentou 4,4% em 2010. No mesmo período, remuneração dos trabalhadores domésticos subiu 11,2% e apertou o orçamento familiar dos patrões


postado em 12/06/2011 07:38

Mônica Marques Pinto, gerente financeira que gasta 20% da renda da família com a funcionária(foto: Fotos: Beto Magalhães/EM/D.A Press )
Mônica Marques Pinto, gerente financeira que gasta 20% da renda da família com a funcionária (foto: Fotos: Beto Magalhães/EM/D.A Press )
Os belo-horizontinos da classe média estão suando a camisa para pagar os prestadores de serviços domésticos, como empregadas, diaristas, jardineiros e motoristas. No ano passado, em comparação com 2009, a renda média do emprego doméstico na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) saltou 11,2%, aponta a última Pesquisa Mensal do Emprego (PME), elaborada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pela Fundação João Pinheiro (FJP). O índice é quase três vezes maior do que o crescimento de 4,4% apurado na renda geral dos trabalhadores no mesmo período. Nesse intervalo, a renda média mensal do trabalho doméstico na RMBH passou de R$ 507 para R$ 564. Pode parecer pouco, mas é que essa média é impactada pelo salário mínimo, que foi o balizador salarial dos empregados domésticos por anos a fio. De 2003 até este ano, o salário mínimo teve um aumento real de 54,25%.

Hoje, os 5% mais bem remunerados dessa categoria têm renda média de R$ 1.265. É nessa faixa que entram tanto os profissionais que ganham R$ 900 quanto os remunerados com R$ 3.800, caso das enfermeiras com jornada de 24 horas especializadas nos cuidados com recém-nascidos.

Para as mulheres que são mães de filhos pequenos, é difícil equilibrar a necessidade de trabalhar com os novos salários dos empregados domésticos. Diante do aumento da remuneração da categoria, regulado pela oferta menor do que a demanda, há quem escolha trabalhar para se manter no mercado, mesmo que o salário não compense o pagamento da empregada doméstica. E também quem opte por pedir demissão para cuidar dos filhos até que eles cresçam para, só depois disso, retornar ao mundo do trabalho.

Mônica Beatriz Marques Pinto, gerente financeira, está no grupo das que temem abandonar o emprego e preferem bancar o salário da empregada doméstica, ainda que ele consuma 20% da renda familiar. Com uma filha de 4 anos e um filho de 2 anos, ela trabalha das 8h às 18h e não almoça em casa. Gasta o salário que recebe quase todo para pagar a empregada, que, além de tomar conta da casa, cuida das crianças. “Não dá para pagar babá e empregada. Tem que ser uma só. Digo a ela que a prioridade são os meus filhos. Na casa ela faz o que dá”, explica.

Com duas filhas pequenas – uma de 5 anos e outra de 9 meses –, a desenhista industrial Shirley Santana conta com os serviços de uma empregada doméstica e foi obrigada a contratar uma babá. “Antes uma pessoa só acumulava as duas funções, mas com duas crianças fica impossível. Hoje minha empregada cuida da casa e a babá fica com as crianças.” Ao todo ela gasta cerca de R$ 1.400 por mês com o pagamento das duas profissionais, isso sem contar INSS, ônibus, férias e 13º salário. Mesmo assim porque decidiu fugir das agências especializadas. A babá veio do interior da Bahia e cobra R$ 800 porque é o seu primeiro emprego com carteira assinada. Já a empregada ganha um salário mínimo, mas não trabalha aos sábados e vai embora às 16h. “Tive muita dificuldade para conseguir as duas profissionais. O mercado está aquecido e os salários pesam muito no orçamento.”

A secretária Nicole Patrícia de Oliveira saiu do último emprego, onde ficou por três anos, porque os gastos que teria com a filha de 2 anos não compensavam o esforço de trabalhar oito horas por dia e ficar longe dela. Agora, colocou a menina na escolinha e voltou a procurar emprego. “Financeiramente não valia a pena”, justifica.

Mudanças

Para Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea), a trajetória do emprego doméstico no Brasil está mudando. Até aqui mais associada ao trabalho servil, com uso de jornada de trabalho abundante e não regulada, começa a tomar o mesmo rumo dos países que já se desenvolveram. “As famílias já são formadas por um número menor de pessoas, a mecanização das atividades domésticas começou. A mensalista começa a ser substituída pela diarista. Existe uma nova perspectiva de contratação, no formato empresarial. A tendência é as pessoas contratarem os serviços de uma empresa que presta serviço nas casas”, observa. “É a lei do mercado: com os altos preços das domésticas, vamos ser obrigados a partir para alternativas que já são realidade nos países centrais, como escolas integrais, creches públicas e equipamentos como lavanderias comunitárias”, afirma Mário Rodarte, professor da UFMG e consultor do Dieese.

A elevação dos salários dos empregados domésticos é sentida com mais intensidade nas capitais do país do que no interior, onde é comum a contratação de profissionais por um valor menor do que o salário mínimo (R$ 545) e sem carteira assinada. Por isso, nas estatísticas, a mordida da categoria na renda dos brasileiros é pequena. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (Pof), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a participação das despesas com serviços domésticos no orçamento das famílias, incluindo o pagamento do INSS, é de 2% no Brasil e de 2,3% em Minas.

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