No rastro das ávidas compras chinesas no mercado internacional, os Estados Unidos, o Japão e a Itália contribuíram fortemente, embora em menor intensidade que o gigante asiático, para o avanço das exportações de Minas Gerais de janeiro a abril, que somaram US$ 11,649 bilhões. Os produtos mineiros vendidos no exterior garantiram um acréscimo de receita de 59,6% na comparação com o primeiro quadrimestre do ano passado (US$ 7,297 bilhões), maior taxa de crescimento observada entre os sete estados que mais exportaram, conforme estudo detalhado sobre o comércio de Minas com o exterior divulgado nessa quarta-feira pela Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte. Comparada ao fôlego exportador do Brasil, com aumento de 31,3% no período analisado, a performance mineira foi melhor em quase o dobro.
O Espírito Santo ficou na vice-liderança do ranking nacional medido com base na expansão das vendas externas frente a 2010, a despeito do dólar fraco que favorece as importações. Os embarques capixabas cresceram 58,2% e São Paulo, que sozinho responde por algo em torno de um quarto de tudo o que o país exporta, registrou crescimento bem modesto, de 15,9%. Os dados foram obtidos a partir do banco de informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A análise mostra que apesar da recuperação ainda difícil da economia americana e da Europa, depois do abalo da crise financeira de 2008 e 2009, os tradicionais parceiros comerciais de Minas seguem aumentando as compras. Esses dois mercados haviam reduzido de forma drástica as suas importações de Minas em 2009. País em reconstrução, o Japão, da mesma forma, elevou suas compras.
Além do minério de ferro, produtos siderúrgicos e café, as estrelas dos negócios do estado no exterior, veículos, pedras preciosas e granitos ajudaram a elevar a receita mineira nos primeiros quatro meses do ano, observou a pesquisadora Elisa Maria Pinto da Rocha, autora do estudo da Fundação João Pinheiro. “Trata-se de um desempenho muito positivo num momento de incerteza e até retrocesso na economia mundial. Se o estado chegar ao fim do ano com crescimento das exportações para países que estão andando de lado, como os Estados Unidos, podemos nos considerar satisfeitos”, afirma.
Outros mercados
Se a China continua a fazer sombra aos demais países de destino das exportações mineiras, garantindo ao estado uma receita de US$ 3,548 bilhões de janeiro a abril, com crescimento de 122,7% ante os primeiros quatro meses de 2010, os Estados Unidos também exibiram aumento expressivo. As compras norte-americanas de produtos mineiros somaram US$ 903 milhões, receita 51,5% superior aquela registrada de janeiro a abril do ano passado. O avanço ganha importância, de acordo com Elisa Rocha, tendo em vista a participação de bens de alto valor nesse comércio, a exemplo de carros e pedras.
A Itália tem um perfil semelhante de compras, que incluem pedras e granito, além de veículos, num comércio incrementado pelos negócios da Fiat Automóveis, sediada em Betim, na Grande Belo Horizonte. As exportações para o país-sede da montadora alcançaram US$ 376,076 milhões, com aumento de 58% em relação aos negócios faturados de janeiro a abril de 2010. Minério e produtos siderúrgicos mineiros explicam a elevação das vendas para o Japão, de 42,06% no período analisado, país que sofreu recentemente um dramático terremoto seguido de tsunami.
Com o bom desempenho das vendas para os EUA e a Europa, foram os pequenos municípios mineiros exportadores que se destacaram com fartas taxas de crescimento das vendas de janeiro a abril. Segundo a pesquisadora Elisa Rocha, da Fundação João Pinheiro, Caeté, na Grande Belo Horizonte, vendeu 42.786% a mais em ouro em barras para o Reino Unido e a Suíça e a cidade de Santa Juliana, no Alto Paranaíba, obteve receita 2.000% maior no primeiro quadrimestre deste ano com os embarques de açúcar para a Romênia, Rússia e China. Como a larga vantagem do minério de ferro e outros produtos minerais permanece – esse grupo foi responsável por 45% das exportações totais de Minas –, a lista dos maiores exportadores do estado continua liderada por Itabira, na porção central do estado, seguida de Nova Lima, Araxá e Ouro Preto, municípios que têm uma economia ligada à extração mineral.
Importações vançam 29,7%
As críticas generalizadas da indústria brasileira contra a valorização do real frente ao dólar e a invasão de produtos importados faz sentido à luz do balanço do comércio de Minas Gerais com o exterior. As importações atingiram US$ 3,518 bilhões de janeiro a abril, com crescimento de 29,7% frente ao primeiro quadrimestre de 2010, resultado inferior ao das exportações, mas é no embarque de automóveis que se observa o desequilíbrio entre as duas vidas de comércio. O saldo da balança comercial de Minas somou US$ 8,130 bilhões no período, com alta de 77,4%. As vendas externas mineiras de veículos, produtos de alto valor, caíram 3,1% neste ano, enquanto as importações aumentaram 32,9%.
A pesquisadora Elisa Rocha, da Fundação João Pinheiro, verificou que esse descompasso ocorreu no Paraná em grau até superior, já que o estado importou 97,2% a mais, ao passo que suas exportações diminuíram 9,3%. Na média brasileira, a taxa de crescimento das exportações foi de 16,1%, ante os 37% de avanço das importações. Os veículos que mais entram no Brasil têm origem na Coreia e em Minas as compras no exterior estão sendo feitas, particularmente, na Alemanha, Itália e Argentina. “Há uma justa preocupação. No conjunto do país e nos principais estados exportadores, observa-se forte expansão das importações (de veículos) frente a um pífio desempenho das exportações”, afirma a pesquisadora.
Máquinas
Os fabricantes de máquinas e equipamentos, outro setor afetado pela política cambial no Brasil, discutiram a chamada desindustrialização nessa quarta-feira em Belo Horizonte. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, alertou para a queda da participação das exportações no faturamento do setor, de 34% em 2005 para 23% neste ano, de janeiro a abril. As importações superam as exportações desde 2004 e o déficit da balança comercial já acumula US$ 50,3 bilhões.
“O Brasil é que não é competitivo”, desabafou Luiz Aubert, mencionando a política cambial que mantém o real valorizado, a alta taxa de juros, o chamado custo Brasil e a elevada carga tributária no país. Com grande participação no parque industrial brasileiro, a produção das indústrias de máquinas e equipamentos diminuiu 5,4% em abril, depois de quatro meses de crescimento, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (MV)