A “chantagem” do governo russo surtiu efeito e provocou desentendimentos entre os ministérios e o setor privado no Brasil. Preocupados com o embargo russo à carne suína, produtores e o Ministério da Agricultura querem que o Brasil mude sua posição nas negociações para a entrada da Rússia na Organização Mundial de Comércio (OMC). O Itamaraty resiste.
A Rússia bloqueou a entrada de carne suína produzida em 85 frigoríficos do País - o que significa quase a totalidade dos embarques. As autoridades sanitárias sinalizaram há algumas semanas sobre o bloqueio, que entrou em vigor oficialmente
Em Genebra, um dos facilitadores da adesão da Rússia à OMC confirmou que o Kremlin está usando seu mercado de carnes como uma de suas principais “cartadas políticas” para obter de parceiros em todo o mundo concessões em diversos setores. “Os russos entenderam que seu mercado de carnes é um dos mais promissores do mundo e estão vendendo isso a preço de ouro”, disse. A chantagem com o Brasil, com a mudança de posição do setor privado, teria funcionado.
Na semana passada, em reunião com várias autoridades, Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação dos Exportadores de Carne Suína (Abipecs), disse que o setor desistiu de negociar cotas melhores na OMC, porque não aguenta o embargo. “Não temos condições de aguentar. Mudamos nossa posição”, confirmou Camargo Neto ao ser procurado pela reportagem. O setor está pedindo apoio do governo, como a criação de um estoque regulador de carne suína de 40 mil toneladas. O Brasil exportou 14 mil toneladas por mês para a Rússia.
A cúpula do governo russo, que estava ontem em Genebra, nega qualquer insinuação que sua ação seja política. O porta-voz do primeiro-ministro Vladimir Putin, Dimitri Peskov, garantiu que “não existe jogada política”. “A questão é puramente sanitária. Por isso é que a carne suína brasileira foi embargada e não por nenhum outro assunto”, disse.