A despeito das previsões de crescimento menor da economia neste ano, a oferta de vagas no mercado de trabalho formal segue aquecida e continua a esbarrar na escassez de mão de obra qualificada e no desinteresse do trabalhador por funções de baixa complexidade e remuneração, em boa parte concentradas nos serviços de limpeza. Quase 6 mil oportunidades estão abertas à espera de candidatos em três das maiores agências de emprego da Grande Belo Horizonte, consultadas esta semana pelo Estado de Minas – o Sistema Nacional de Emprego (Sine-MG), o Grupo Selpe e a Conape Recursos Humanos. Os salários variam do mínimo de R$ 545 à faixa de R$ 20 mil, num largo horizonte de exatos 5.967 postos de trabalho anunciados que vão da rotina dos faxineiros a gerentes de projetos da construção civil.
Depois de um 2010 marcado pelo forte crescimento do emprego, a restrição recente do crédito adotada pelo governo para conter a inflação e a alta dos juros, que encarece os investimentos do setor produtivo da economia, devem levar a uma arrefecimento da geração de empregos, mas por enquanto o movimento nas agências de seleção de mão de obra é positivo. Na Conape, que contava nessa quinta-feira 550 vagas em aberto, a procura das empresas é semelhante à do ano passado e eles se veem forçados a correr atrás dos candidatos experientes e que oferecem um bom currículo.
Com a escassez de mão de obra qualificada, o empregado passou a dar as cartas na hora da contratação, o que explica a parcela de vagas em aberto para profissionais de nível superior nas áreas de engenharia, tecnologia de informação e na construção civil, em geral, observa Hegel Botinha, diretor comercial do grupo Selpe. A empresa especializada em recrutamento de mão de obra contava, nessa quinta-feira, 150 oportunidades à espera de candidatos. “O mercado de trabalho entrou num ritmo de crescimento um pouco menor, mas a rotatividade também tem aumentado entre os trabalhadores qualificados que contam com um ambiente bem favorável para definir a carreira profissional”, afirma.
Num outro extremo, mas com motivos parecidos, as dificuldades de encontrar candidatos para preencher vagas de serviços domésticos, faxina e trabalhos mais pesados da construção refletem a busca desses trabalhadores por empregos de melhor qualidade. A melhora do nível de escolaridade do brasileiro e da renda da população leva esses trabalhadores a buscar outras oportunidade nos serviços de call center e no comércio, por exemplo. Hegel Botinha lembra que o próprio varejo também sai afetado pela concorrência da indústria, que costuma oferecer melhores salários e conceder mais benefícios, fatores que atraem mão de obra dos balcões das lojas para as fábricas.
Tempo de escolher
O tempo que as empresas levam para conseguir preencher as vagas tem sido proporcional à possibilidade que o trabalhador ganhou de escolher o melhor emprego, quando tem um bom currículo e habilidades adicionais à formação técnica para oferecer. A experiência recente no mercado de trabalho do técnico de edificações Bruno Queiroz, de 32 anos, é mostra disso. Em abril passado, portanto dois meses antes se formar, ele foi contratado por uma grande empresa do setor, a RKM Engenharia, se valendo dos três anos em que trabalhou na área de reformas. Bruno recebeu pelo menos três propostas de emprego, enquanto buscava a nova atividade.
“Não basta um bom currículo. O profissional precisa estar aberto a novas ideias e se adequar às exigências das empresas de que conheça novos materiais e saiba lidar com os clientes”, afirma Queiroz. Os patrões, por sua vez, tiveram de se adaptar a uma nova realidade na qual o candidato também tem voz ativa, diz a diretora de recursos humanos da Direcional Engenharia, Ana Carolina Huss Teixeira. “O candidato agora avalia a empresa, quer saber quem são os seus executivos, a sua política de desenvolvimento de carreira e a solidez do empreendimento”, afirma. Para contornar a escassez de mão de obra especializada, a construtora, que tem oferecido 20 vagas todo mês nos níveis técnico, administrativo e gerencial, decidiu adotar uma política de contratações por indicação.