Muito se tem falado da nova classe média brasileira, um contingente de mais de 30 milhões de pessoas que saiu das camadas mais baixas e se tornou a base de sustentação do consumo no país. Essa é a face mais badalada da mobilidade social vivida pelo
Brasil, beneficiado por um período de estabilidade econômica sem precedentes em mais de três décadas. Mas um levantamento da Consultoria IPC Maps, que acaba de sair do forno, revela um movimento de transformação bem mais robusto: 73% das famílias melhoraram de vida e experimentaram algum tipo de ascensão social nos últimos 14 anos.Trata-se de uma das maiores taxas de mobilidade vistas no mundo em um prazo tão curto de tempo, acima dos registrados em países como a Suécia (51,5%), Canadá (50,1%) e Estados Unidos (48%). São 143,8 milhões de brasileiros que passaram a viver melhor e a satisfazer demandas reprimidas ao longo de anos, como a casa própria, o primeiro veículo, a televisão LCD, a internet em casa, a TV a cabo, a viagem de férias com toda a família para a praia — e, acima de tudo, educação e saúde. "O controle da inflação, a formalização do mercado de trabalho e o acesso facilitado ao crédito empurraram os brasileiros para o consumo. Não à toa o país retomou o ciclo sustentado de crescimento, com excelentes perspectivas", analisa Marco Pazzini, diretor da Consultoria IPC Maps.
O resultado é que a participação de famílias na base da pirâmide, a classe E, encolheu: pelo menos 20,5 milhões de pessoas deixaram a zona da pobreza, pois viviam com renda familiar de, no máximo, R$ 705, e passaram a ocupar os extratos de renda logo acima, da classe D e C, conforme reforça estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). Seguindo o mesmo movimento, outras 2,5 milhões que já estavam na D galgaram os degraus até a C — que hoje totaliza 103 milhões de cidadãos, mais da metade da população do Brasil. Com isso, o orçamento engordou e ficou mais folgado. Mas o maior crescimento em termos percentuais ocorreu nas classes B e A, nas quais os rendimentos mensais estão acima de R$ 4.854 e de R$ 6.329, respectivamente. Cerca de 6,6 milhões de pessoas passaram a integrar o topo da pirâmide.
Muito esforço As estatísticas já destacam um segundo movimento mais forte, desta vez da classe C em direção à B. De 2010 para cá, enquanto a primeira cresceu 7,3%, a turma do segundo grupo mais alto da pirâmide social engordou 10,2%. “Agora, a nova onda de migração é para a classe B”, garante Pazzini. “Isso vai ocorrer por ser o grupo melhor qualificado profissionalmente para defender renda maior em um ambiente de continuidade do crescimento econômico", diz.
O mercado está de olho na classe C, pelo seu tamanho e potencial de consumo, com poder de compra estimado em R$ 700 bilhões, maior que os dos segmentos do topo, A e B. "É a maioria da população e já pode eleger sozinha um presidente da República", lembra o economista Marcelo Neri, professor da FGV. Deve-se, principalmente, à nova classe C a mudança do formato da pirâmide social, que passou do histórico triângulo invertido para um losango.
Na classificação da FGV, já está no degrau mais alto da pirâmide, ocupando a classe A, quem tem rendimento acima de R$ 6.329. Neri diz que as faixas de renda adotadas pela FGV retratam a classe média mundial. "Não é de fato a norte-americana, que tem dois carros na garagem", avisa. De qualquer forma, diz ele, ser classe média é mais um estilo de vida. "É esperar um futuro melhor, querer subir na vida", afirma. Talvez isso explique por que o bilionário empresário Eike Batista, com fortuna avaliada em US$ 30 bilhões e sempre em busca de novas oportunidades, se diz classe média.