Quase um ano depois de vir à tona o que a Polícia Civil considera um dos maiores golpes financeiros de Minas, investidores que se dizem vítimas de esquema montado por Thales Maioline encaram nesta quarta-feira pela primeira vez o empresário. O encontro ocorrerá durante audiência de instrução do processo por estelionato aberto contra Maioline – acusado de dar prejuízo de R$ 100 milhões a 2 mil pessoas e apelidado de Madoff mineiro em referência ao megainvestidor americano condenado por fraude. Mas enquanto vítimas brigam para reaver o dinheiro aplicado, quase todos os funcionários da Firv, empresa de Maioline já conseguiram sentenças determinando o pagamento de indenizações trabalhistas. Juntos, agentes da Firv, que ajudaram Maioline a vender cotas de investimentos, devem conseguir algo em torno de R$ 2 milhões em indenizações, sem contar juros e correção monetária. Um dos ex-empregados pleiteia receber sozinho R$ 400 mil.
Alguns dos ex-funcionários da Firv conseguiram comprovar salários mensais de R$ 800 a até R$ 30 mil por mês, entre fixo e comissões, dependendo do giro de cada um, além da falta de pagamento de férias, 13º salário, fundo de garantia e aviso prévio. “O crédito trabalhista é preferencial. O que sobra é destinado ao pagamento de impostos e quirografários (comuns). No fim da linha, estão os investidores. A menos que tenha algo encoberto, dificilmente eles serão ressarcidos”, explica Antônio Miranda, advogado de 16 dos 17 agentes da sede da Firv em Belo Horizonte, que atuavam também em Itabirito, Itabira, Nova Lima e outras cidades. Ex-juiz do Trabalho por 35 anos, Miranda lembra que enquanto esses processos trabalhistas levaram 60 dias para transitar em julgado, em média, outros podem levar até 10 anos.
Dos 16 processos trabalhistas, 14 já estão em fase de execução judicial, ou seja, o juiz já condenou a Firv, totalmente ou em parte, a pagar os valores reivindicados pelos ex-empregados. Passada essa fase, o juiz manda fazer os cálculos do valor da ação e cita a parte interessada, que sai em busca dos bens capazes de fazer jus à indenização. “O outro lado vai recorrer e o juiz vai nomear o perito para desempatar o cálculo dos valores, mas o importante é articular os empregados para que eles ajudem a encontrar os endereços dos imóveis e oficiar os bancos para bloquear valores em conta”, diz Antônio Miranda.
Conta
Segundo ele, os ex-empregados da Firv suspeitam da existência de R$ 1 milhão em conta aberta em nome de Comercial Maioline Ltda. em agência do Bradesco em Araçuaí, município no Vale do Jequitinhonha. Eles desconfiam ainda da propriedade de um resort em Alcobaça, na Bahia, onde estaria morando atualmente Iany Márcia Maioline, irmã de Thales Maioline. Ela responde a processo como sócia minoritária na empresa, assim como Oséias Marques Ventura, amigo do empresário. “Os agentes da Firv não tinham consciência do golpe. A maioria deles era colega de Thales em uma mineradora e não tinha nem curso superior, não tinha nem cabeça para montar um esquema de fraude desse porte”, garante o advogado. Segundo ele, muitos ficaram sem nada depois que a empresa quebrou e uma das assistentes vai ganhar somente R$ 3,5 mil na ação trabalhista. Ela teria sido despejada da casa onde morava e trabalha atualmente como atendente de telemarketing.
Na maior parte dos processos em questão, a Firv foi condenada por registrar os empregados somente em março de 2010, apesar de funcionar como pessoa jurídica desde 2008, conforme depoimentos de testemunhas que constam nos autos. Uma curiosidade que consta nas ações é a reclamação do não pagamento dos salários de julho, mês em que Maioline foi dado como desaparecido, a partir do dia 23. O empresário permaneceu foragido por quase três meses e só se entregou à polícia em 22 de dezembro, um dia depois de dar entrevista exclusiva ao Estado de Minas revelando sua rota de fuga, que incluiu a Amazônia, a Bolívia e o Mato Grosso, disfarçado de fotógrafo.
Entenda o caso
>> Sem autorização da Comissão de Valores Mobiliários(CVM), Thales Maioline montou um sistema de pirâmide, pelo qual o rendimento dos novos investidores que entravam na base da pirâmide sustentavam o topo. Aos clientes, ele oferecia rendimento acima da média de mercado (5% ao mês mais bonificação semestral).
>> No ano passado, Thales começou a ter dificuldades em honrar compromissos. Em julho, ele foi declarado foragido. A Polícia Civil, então, abriu inquérito para apurar suspeita de estelionato contra Thales e seus sócios. As investigações indicaram que Thales pode ter dado prejuízo da ordem de R$ 100 milhões a mais de dois mil investidores.
>> Maioline foi apelidado de “Madoff mineiro” por causa da semelhança com o esquema montado pelo investidor americano Bernard Madoff, condenado por fraude milionária em Wall Street. Depois de meses foragido, o empresário mineiro se entregou à polícia em dezembro, um dia depois de conceder entrevista ao Estado de Minas avisando que se apresentaria.
>> Em março deste ano, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Maioline e mais três sócios por formação de quadrilha, estelionato e falsificação de documentos. A Justiça acatou a denúncia e transformou os quatro em réus.