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Estado de Minas

Aplicativos para smartphones e tablets viram novo alvo de pirataria


postado em 25/06/2011 06:45 / atualizado em 25/06/2011 07:32

É o smartphone do momento, sonho de consumo tecnológico de muitos, mas não funciona. O iPhone usado que a estudante Camila (nome fictício) comprou nas mãos de um vendedor custou R$ 700 e, segundo ele, já “vinha desbloqueado”. Embutidos no preço do aparelho usado estavam os R$ 100 da “personalização” do conteúdo, um serviço irregular oferecido no mercado informal e até em estabelecimentos legalizados que derruba as barreiras das lojas virtuais de aplicativos e permite baixar tudo de graça. A esmola foi demais, o santo não desconfiou e quando Camila fez a atualização do sistema, procedimento periódico para quem tem aparelhos do tipo, o iPhone travou para sempre.

“Eu jamais imaginei que isso fosse acontecer. Já mandei para o conserto duas vezes e o telefone continua sem funcionar”, desabafa. A história do telefone de Camila é a ponta de um novo mercado paralelo de pirataria, agora voltado para aplicativos de smartphones e tablets, que ameaça os negócios das lojas virtuais desses programas, como a App Store, da Apple – precursora do modelo e cuja renda é estimada em US$ 200 milhões mensais. Os vendedores ilegais de aplicativos repassam aparelhos usados ou instalam os programas ilegais em equipamentos novos, comprados em outras lojas. Dessa forma, põem também em xeque a segurança dos serviços comerciais na nuvem, apontada como tábua de salvação para a indústria de software.

Sem saber, Camila (nome fictício) comprou iPhone
Sem saber, Camila (nome fictício) comprou iPhone "pirateado": celular parou de funcionar (foto: Frederico Bottrel/ EM/ D.A Press )
Em Belo Horizonte, é possível encontrar quem ofereça “pacotes de personalização” de conteúdo para esses aparelhos em shoppings populares ou em lojas de aparelhos telefônicos. O procedimento é condenado nos termos de uso e garantia do iPhone, principal alvo dos autores do desbloqueio. Um comerciante da Zona Leste conta que já tem mais de 100 clientes adeptos do seu serviço de “personalização”. Os próprios responsáveis pelo desbloqueio, chamado de jailbreak, avisam: depois de desbloqueado, o sistema do telefone não pode ser atualizado. Se isso acontecer, perdem-se todos os programas e corre-se o risco de o aparelho parar de funcionar. O problema é que, sem atualização, o aparelho fica lento e vulnerável a ataques virtuais. O processo ocorre à margem de qualquer fiscalização. “Eu não dei atenção quando o vendedor me falou isso e me dei mal”, lamenta Camila.

O serviço ilegal custa entre R$ 50 e R$ 100 e consiste em quebrar o código do sistema operacional dos aparelhos, para burlar a loja oficial de aplicativos da Apple e permitir a instalação de programas. A popularidade do serviço tem crescido a ponto de um comerciante de shopping popular do centro da cidade brincar: “Não esquenta não, ninguém fiscaliza. Desses aí eu faço 200 por dia”. Em seguida, ele volta atrás e diz que a média é de 12 clientes por dia interessados no procedimento. Em menos de 30 minutos, o aparelho está pronto para baixar, gratuitamente, os aplicativos que são vendidos na App Store, por preços entre US$ 0,99 e US$ 49,99 (cerca de R$ 1,58 e R$ 80, respectivamente). O técnico de uma loja, que concordou em falar ao Estado de Minas sob anonimato, detalha o processo. “Eu compro aplicativos e redistribuo. Compro um GPS de US$ 39, abro o aplicativo inteiro, tiro o arquivo de licença, fecho o programa de novo e ele não vai te pedir atualização com meu nome nem nada”, conta ele, que ainda oferece uma espécie de atualização periódica ao custo de R$ 50 – na verdade, trata-se de instalar os aplicativos pirateados outra vez.

Crescimento


A investida da pirataria sobre aplicativos de smartphones e tablets ocorre num momento de forte avanço das vendas no Brasil. Segundo a consultoria Gartner, 5 milhões de smartphones foram vendidos no país em 2010. Na comparação com 2009, o crescimento foi de 279%. No primeiro trimestre deste ano, 1,2 milhão de aparelhos do tipo foram comercializados no país, segundo a Gartner. No mercado de tablets, a consultoria IDC indicou que 100 mil pranchetas digitais foram compradas no Brasil em 2010.

Instituições que reúnem empresas de software ainda não sabem o que fazer com a pirataria de aplicativos. Procuradas pela reportagem, nem a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) nem a Business Software Aliance (BSA) comentaram o assunto. A BSA indica, em recente relatório, que “a forma mais comum de pirataria é comprar uma cópia de software e instalá-la em vários computadores”. O que os vendedores informais de aplicativos fazem é replicar esse tradicional modelo. O relatório da BSA aponta alta de 14% no prejuízo decorrente da pirataria. A Apple informou que porta-vozes da empresa não comentariam o assunto.

Como funciona o esquema

>> A receita da loja App Store, estimada em US$ 200 milhões mensais, vem da venda de aplicativos, que custam entre US$ 0,99 e US$ 49,99. A venda é virtual, com dados do cartão de crédito armazenados no sistema.

>> Os vendedores ilegais de apps baixam uma cópia, violam o código do arquivo e redistribuem pacotes, cobrando entre R$ 50 e R$ 100.

>> Entre esses apps, existem ferramentas que permitem ainda que a pessoa baixe novos aplicativos, em teoria pagos, de maneira gratuita.

>> Feito o desbloqueio (jailbreak), o dono do telefone não pode mais atualizar o sistema – deixando o aparelho lento e vulnerável a ataques . Se atualizar, o equipamento pode travar ou apresentar instabilidade.

Para entender os termos
>> O desbloqueio de aplicativos é diferente do de chip, que é legal e tem por objetivo permitir que o aparelho funcione com o número de qualquer operadora. No caso do chamado jailbreak, o procedimento é irregular e burla as lojas oficiais de apps.

Personalização de conteúdo
>> Geralmente diz respeito a pacotes de aplicativos instalados ilegalmente no telefone.

Conversa com vendedor
– Vocês fazem desbloqueio de iPhone aqui?
– Que iPhone?
– 3G. Original, comprado na loja.
– Faz. R$ 60.
– E como funciona?
– Seu telefone vai ficar pirata. E aí você vai poder baixar os aplicativos que quiser sem pagar. Só não pode depois é ligar no computador e atualizar o sistema, senão ele vai parar de funcionar.


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