(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ENTREVISTA

Para ex-diretor do BC, conter câmbio é mais fácil que controlar preços


postado em 26/06/2011 07:32

Brasília – Crítico voraz do controle de gastos na “boca do caixa” e da política adotada pelo Ministério da Fazenda de equilibrar as contas públicas recolhendo mais impostos do que cortando gastos, o ex-diretor do Banco Central e ex-economista do Banco Santander Alexandre Schwartsman acha que agora o principal desafio do governo é o controle da inflação. Para ele, a autoridade monetária, que atualmente sofre questionamentos e atravessa uma crise de confiança do mercado financeiro, deveria elevar a taxa básica Selic aos 13% ao ano, uma vez que está longe de atingir as metas para este ano e para o próximo. Entretanto, admite que, diante da queda da atividade econômica mundial e com os países ricos se debatendo para sair do atoleiro pós-crise, o BC pode estancar os juros nos atuais 12,25% ao ano. “Aliás, esse parece ser o cenário pelo qual o BC mais torce. Porque o espaço para subir os juros fica menor a cada dia”, afirma. Enquanto prepara sua volta com a abertura de uma consultoria, Schwartsman defende que o governo deveria colocar em prática um ajuste fiscal vigoroso, que trouxesse o gasto público para patamares mais próximos aos observados entre nossos vizinhos.

A inflação próxima do teto (de 6,5%) reduziu suas pressões, mas continua preocupante. O governo conseguirá cumprir as metas estipuladas?
Por enquanto não, pois todas as indicações sugerem que o Produto Interno Bruto segue crescendo acima do potencial e, portanto, as pressões sobre mercado de trabalho e sobre a utilização de capacidade não dão sinais de alívio. Os salários aumentam mais do que a produtividade, o que se traduz em elevação dos custos. Obviamente, o repasse desses custos crescentes para preços depende das condições de demanda. Em setores muito expostos à competição internacional, não há condições de repasse. No conjunto da obra, a inflação deve ficar muito próxima ao teto este ano, podendo até superar o patamar, e permanecer acima da meta ano que vem. Não parece, portanto, que as metas serão atingidas.

O governo chegou à metade do superávit primário (economia para pagamento dos juros) previsto para o ano em cinco meses, mas deve aumentar os gastos em função da necessidade de investimento em infraestrutura. Como o Brasil conseguirá equilibrar as contas públicas?
O governo só vai equilibrar as contas por causa do aumento de receita decorrente do aquecimento econômico. O começo do ano foi bom em termos do desempenho fiscal, mas não parece sustentável. Houve repressão de investimentos e parece ter havido alguma alteração no padrão das despesas. Ainda temos um encontro marcado com um aumento real de 7,5% do salário mínimo no ano que vem. Assim, a questão fiscal aparenta estar longe de uma solução. Não quer dizer, é claro, que teremos problemas de solvência, mas a política fiscal não está desempenhando um papel central na desaceleração da economia.

Onde deverão ser feitos os apertos?
Passou a época do controle feito na boca do caixa, como o Tesouro tem feito há muito tempo. A redução do gasto público no Brasil não vai ocorrer por esta via. Temos que voltar para as ideias propostas no chamado “plano rudimentar” apresentado pelo ex-ministro Antonio Palocci ainda em 2005, ou seja, adotar um programa de redução planejada (não na boca do caixa) do gasto ao longo de um horizonte de alguns anos.

O Banco Central está demonstrando comprometimento em conter a inflação ou atravessa uma crise de credibilidade?
Ele está sendo questionado. A persistência das expectativas de inflação acima da meta em 2012 é sintoma de arranhão na credibilidade do BC. Basta lembrar que, há pouco tempo, as estimativas traçadas para dois anos à frente estavam tipicamente ao redor da meta (4,5%). Claro que ninguém sabia o que iria ocorrer naquele prazo, exceto que, em qualquer caso, o Comitê de Política Monetária (Copom) faria o necessário para trazer o índice de volta à meta. Esta percepção não existe mais. Não quer dizer que não possa ser reconstruída, mas vai requerer trabalho persistente.

Novos aumentos na taxa de juros vão ampliar o deficit nas contas públicas, devido aos juros pagos pelos títulos do Tesouro. Há um limite para esse endividamento, que já é bastante elevado?
Mesmo que o endividamento bruto do governo seja elevado, não há indicações de que, mesmo sob uma taxa de juros mais alta, a dívida se torne um processo explosivo. Para 2011, acredito que o BC tenha que trazer a Selic até 13% ao ano.

Diante da desaceleração da economia e da dificuldade de os países ricos saírem do atoleiro, existe a possibilidade de não haver mais aumento de juros?
Existe. Aliás, esse parece ser o cenário pelo qual o BC mais torce. Porque o espaço para subir os juros fica menor a cada dia.

Qual é o maior desafio para o governo: conter o câmbio ou a inflação? Qual deles é mais prejudicial para a economia?
Inflação, sem dúvida. Conter o câmbio é fácil. No limite, podemos fazer como outros países e fixar a taxa de câmbio onde bem entendermos. O difícil é fazer com que a inflação não “coma” o câmbio, conforme ocorre, por exemplo, na Argentina.

A piora da percepção dos brasileiros sobre a economia e a inflação, apesar da melhora na aprovação da gestão de Dilma Rousseff, é um sinal de que o governo deve começar a se preocupar?
Se houve uma variável econômica sobre a qual o presidente Lula nunca teve dúvida, foi a inflação. Mesmo uma taxa que – para padrões brasileiros – não é das mais elevadas já faz algum estrago na popularidade do governo, porque afeta as camadas mais pobres da população. Trazer a inflação de volta à meta vai requerer desaceleração da economia abaixo do seu potencial, o que, na prática, implica elevar a taxa de desemprego, mesmo que transitoriamente. Há um custo político para obter o resultado e as dúvidas se referem principalmente à disposição do governo em arcar com este custo.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)