A privatização dos aeroportos brasileiros pode aumentar os custos das viagens de avião e prejudicar o crescimento das companhias aéreas brasileiras. A avaliação é do fundador da Azul Linhas Aéreas, David Neeleman . “Tenho medo de que a nova empresa aumente os custos para os passageiros, pois assim menos pessoas vão viajar. Os aeroportos do México, da Argentina e da Inglaterra, por exemplo, são privatizados e são os mais caros do mundo”, afirmou o executivo, que esteve nessa sexta-feira no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, para a comemoração do transporte de 10 milhões de passageiros da companhia aérea.
Neeleman defendeu o modelo de operação nos aeroportos dos Estados Unidos. “Lá, quase nenhum aeroporto é privatizado. Há uma lei federal que diz que o empreendimento não pode ter lucro. Queremos que os custos das passagens aéreas fiquem baixos.” O modelo americano já havia sido defendido também pelo presidente da Gol, Constantino Oliveira Júnior.
A Azul inaugura em agosto duas novas rotas em Confins: uma para Juiz de For a, na Zona da Mata, e outra para o Rio de Janeiro. A empresa tem hoje 12 destinos no aeroporto. “Queremos crescer em Confins, mas não há mais espaço no aeroporto”, diz Neeleman. Ele cobrou mais urgência nas obras para a Copa do Mundo. “Podemos ser mais eficientes até nos terminais temporários, que podem ser feitos em três meses”, diz.
O Módulo Operacional Temporário (MOP) de Confins, que será construído entre o terminal de cargas e o Centro de Manutenção da Gol, deve ficar pronto até novembro de 2012 e terá capacidade para transportar 4,8 milhões de passageiros ao ano. “Esse terminal costuma ter vida útil de cinco a 10 anos”, revela Adair Moreira Júnior, gerente operacional da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
O presidente da Azul defendeu ainda a reabertura do aeroporto da Pampulha, que atualmente está fechado para novos voos. “Iria hoje para a Pampulha se pudessem entrar novos voos”, afirma. O superintendente do aeroporto, Silvério Gonçalves, diz que essa decisão está nas mãos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Apesar de não ser a favor da privatização dos aeroportos, Neeleman afirma que a Azul tem interesse em participar dos processos em Viracopos, Brasília e Guarulhos. “Precisamos participar do processo, pois assim tentaremos evitar até a alta de preço dos serviços. Se os custos sobem, quem vai pagar são nossos clientes”, ressalta.
A Trip Linhas Aéreas tem hoje 14 voos diários para 47 destinos em Confins. Até o final do ano, a companhia aérea planeja ter ao menos 20 voos diários. “O nosso plano era crescer até mais em Confins, mas, em alguns horários, não há mais espaço para os estacionamentos de aeronaves”, diz Evaristo Mascarenhas de Paula, diret0or de marketing e vendas da empresa. A companhia, segundo ele, não tem interesse de participar dos processos de privatização dos aeroportos.
Investimentos
A reforma do pátio e da pista do aeroporto de Confins, orçada em R$ 170 milhões, está prevista para terminar em 2013. O projeto foi licitado e a Infraero aguarda a liberação das licenças dos órgãos ambientais para tocar a obra. Nessa sexta-feira, a Subcomissão Permanente para Acompanhamento, Fiscalização e Controle dos Recursos Públicos Federais destinados à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016, do Tribunal de Contas da União (TCU), esteve em Confins para debater os investimentos no aeroporto. “Depois dos ajustes que fizeram nos valores da licitação do terminal I, a obra já está em condições de começar a operar”, diz Rodrigo Fontes, secretário substituto do TCU.
Palavra de especialista
Renato Cláudio Costa Pereira
Consultor de aviação e ex-presidente da Comissão Latino-Americana de Aviação Civil
Primeiro é preciso saber se todas as funções de prestação de serviço ao público do aeroporto serão privatizadas. Se o processo for feito só com o terminal de passageiros, por exemplo, sou contra. O aeroporto não pode ter dois comandos. Ou privatiza tudo, ou não tem como fazer a coisa funcionar direito. O passageiro depende não só do terminal, mas de um conjunto de serviços, como o sistema de transporte para levá-lo ao aeroporto e estacionamento. Não adianta um serviço funcionar e o outro ficar paralisado. Sou contra a entrada das companhias aéreas no processo de privatização. A praia das empresas é transportar passageiros e cargas, essa é a finalidade delas. Nos países em que há administração unificada dos aeroportos, como em Cingapura, o sistema é mais eficiente do que aqui. Acho que Cingapura é um exemplo a ser seguido.