O conselho da Wilkes Participações, que controla a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, o Grupo Pão de Açúcar), fará uma reunião em 2 de agosto sobre a planejada fusão da varejista brasileira com as operações locais do Carrefour. A reunião da Wilkes vai discutir a proposta de acordo da CBD com o Carrefour e foi convocada por Abilio Diniz, presidente do conselho de administração, a pedido do acionista francês Grupo Casino, que controla a Wilkes juntamente com a família Diniz.
O acordo com o Carrefour enfrenta oposição do Casino, que classificou o plano de "hostil e ilegal" e deu início a procedimentos de arbitragem contra Diniz. Pelo acordo de acionistas da Wilkes, o Casino poderá assumir o controle da CBD em 2012.
O presidente do grupo varejista francês Casino, Jean-Charles Naouri, vai defender de maneira “intransigente” seu direito de assumir o controle do Pão de Açúcar no ano que vem. O executivo deixou isso claro em reunião com Luciano Coutinho,
“Ele disse que vai lutar até o fim para prevalecer o acordo de acionistas”, contou ao jornal O Estado de S. Paulo uma fonte ligada à empresa. Sócio de Abilio Diniz desde 1999, o Casino resiste à fusão entre a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), dona do Pão de Açúcar, e as operações do Carrefour no País. Em 2005, o Casino adquiriu o direito de assumir, em 2012, o controle da CBD. A fusão proposta por Diniz pode mudar o jogo de poder na CBD.
Naouri afirmou a Coutinho que é “o melhor sócio que a CBD pode ter” e que “não escolheu diretores e deixou Abilio fazer o que quisesse” na gestão. O executivo, que também é o maior acionista do Casino, disse que a fusão não cria um “campeão nacional”, porque o controle estará na mão de empresas francesas. A preocupação com a desnacionalização do varejo é um das justificativas do BNDES para apoiar a fusão.
Coutinho disse a Naouri que acha a operação um bom negócio para o banco e para as empresas, mas que o apoio do BNDES depende de um acordo entre os sócios. O banco se comprometeu a injetar até R$ 4,5 bilhões na empresa resultante da fusão.
Segundo uma fonte do BNDES, o banco agora entrou em “compasso de espera”, mas ainda acredita que é possível uma negociação na Wilkes, holding que controla a CBD, para que os dois sócios se entendam. Essa fonte contou, porém, que Naouri deu a impressão que pode decidir o assunto na Justiça. Se chegar a esse ponto, o BNDES deve retirar o apoio ao negócio.
"Nada proíbe fusão"
O grupo francês de hipermercados Carrefour afirmou nesta terça-feira em um comunicado que os acordos que vinculam seu concorrente Casino à Companhia Brasileira de Distribuição (CBD) Pão de Açúcar, da família Diniz, não tem nenhuma cláusula que proíba discussões ou negociações com terceiros. "Os acordos - públicos - que vinculam o Casino e o grupo Diniz, relativos à companhia CBD e à holding de controle Wilkes, não contêm, que saibamos, nenhuma estipulação que proíba discussões ou negociações, e até hoje o Casino não invocou nenhuma cláusula específica que respalde suas afirmações", afirma o texto do Carrefour.
O Carrefour também garantiu que "não há intenção de hostilidade com o Casino" na aproximação para uma fusão com o grupo brasileiro. O Casino reiterou na segunda-feira que considerava hostil e ilegal a proposta, aprovada no mesmo dia pelo conselho de administração de Carrefour, de criação de uma coempresa entre suas próprias atividades brasileiras e a CBD Pão de Açúcar.
Arbitragem e pressão
Na segunda-feira, o Casino, acionista da CBD, anunciou ter iniciado na Câmara de Comércio Internacional (CCI) um segundo procedimento de arbitragem contra Abílio Diniz, para exigir o respeito do pacto de acionistas. O diretor geral do Casino, Jean-Charles Naouri, viajou ao Brasil, onde se reuniu na segunda-feira a portas fechadas com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.
O BNDES, que tem um papel chave na operação, afirmou que só apoiará o polêmico projeto de fusão se este for "amistoso", segundo fontes próximas às negociações. O banco concederá até R$ 4,5 bilhões (2 bilhões de euros ou US$ 2,8 bilhões) para a fusão dos ativos brasileiros do Carrefour com a CBD.