O economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Marcelo de Ávila avaliou nesta quarta-feira que os movimentos aparentemente contraditórios dos indicadores industriais em maio mostram uma moderação da atividade. "Não há tendência definida de crescimento da atividade industrial e, sim, uma tendência de moderação da atividade do setor", afirmou em entrevista para comentar os dados. Enquanto o emprego e a capacidade instalada cresceram em maio ante abril, o faturamento e as horas trabalhadas recuaram no período.
Para o economista, as chamadas medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central (BC) a partir do final de 2010 já estão surtindo efeito na economia real. "Apesar do mercado de trabalho em geral estar mostrando dinamismo, a verdade é que o consumo, principalmente das famílias, começa a mostrar desaceleração", destacou. Ele avalia que o impacto do aumento da taxa Selic (juro básico da economia) nos últimos meses ainda não foi sentido e deve influenciar os dados do segundo semestre. "Isso corrobora para a moderação da atividade industrial e de toda economia", afirmou. A CNI trabalha com uma estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano de 3,8% e de 3,2% para a indústria.
Ávila destacou ainda que o crescimento do nível de utilização da capacidade instalada em maio ocorreu depois de dois meses de queda, na comparação com o mês anterior, o que corrobora a avaliação da CNI de que há uma moderação da atividade industrial. "É um aumento muito baixo e não mostra um cenário de crescimento.
O economista acredita que o aumento do emprego também não indica o início de uma trajetória contínua e forte. "A velocidade de expansão está menor. Os próximos meses podem ter aumento, mas não na mesma intensidade", destacou. Segundo o economista, o indicador de emprego vai seguir a tendência de desaceleração da economia com um pouco de defasagem.
Ávila acredita que parte do crescimento da atividade industrial nos cinco primeiros meses de 2011 ainda é efeito do forte desempenho do segundo semestre de 2010. Por isso, os indicadores setoriais ainda mostram crescimento em relação a maio do ano passado. Dos 19 setores pesquisados, somente têxteis, vestuário e madeira apresentaram queda nas vendas reais em relação a maio de 2010. Nas horas trabalhadas, 16 setores tiveram expansão enquanto, 14 setores da indústria de transformação ampliaram as vagas de trabalho no mesmo período.
O pior cenário, segundo a CNI, é do setor têxtil, que registrou queda em todos os indicadores, com alta da capacidade instalada. "Esse movimento, se persistir, pode ser um sinal de falta de investimentos no setor", afirma a CNI. O setor de produtos de metal, por outro lado, teve melhora dos indicadores, com média acima de toda a indústria. Para a CNI, o desempenho do setor pode ter sido puxado pela construção civil, que voltou a crescer em maio, depois de dois meses estagnada. O setor de metal oferece insumos para a indústria de transformação e para a construção civil como estruturas metálicas, caldeiras, embalagem de metal e ferramentas.