Após várias semanas de turbulências, o grupo varejista Casino conseguiu frustrar o projeto de fusão no Brasil entre o seu sócio brasileiro no CBD Pão de Açúcar, Abílio Diniz, e seu concorrente Carrefour. Esse projeto tinha sido revelado oficialmente pelo Carrefour há quinze dias, após semanas de rumores de negociações entre o número dois mundial do varejo e Diniz, fundador da CBD e sócio da Casino desde que esta obeteve uma participação em sua empresa em 1999.
O Carrefour anunciou então ter recebido uma "proposta" da sociedade brasileira Gama, de propriedade do fundo BTG Pactual com o apoio financeiro do Banco Nacional Brasileiro do Desenvolvimento (BNDES) para criar uma empresa com as atividades locais do Carrefour e da CBD.
Tratava-se então de criar um gigante brasileiro do varejo com vendas de 30 bilhões de euros e de sinergias estimadas entre 600 e 800 milhões de euros. Mas na terça-feira, Diniz cedeu à rejeição da oferta de fusão pelo conselho de administração da Casino, que possui 43,1% da CBD, e da desistência do BNDES, sem um consenso entre as partes. Nesta quarta-feira, o Carrefour reconheceu que as condições desta operação "não estão reunidas".
Se a Gama não apresentou um novo projeto, o conselho de administração do Carrefour poderá examiná-lo, indicou o diretor financieiro Pierre Bouchut em resposta às perguntas de um analista. "Não é o caso no momento em que conversamos. Se uma nova proposta fosse apresentada, isso seria totalmente novo", acrescentou.
"Acho que o caso está encerrado para o Carrefour, e a Casino acaba de se declarar vencedora. É difícil que haja uma mudança na situação. Depois que as autoridades brasileiras não concederam mais o seu apoio, parece que tudo ficou muito complicado", indicou.
"No momento, é o fim", considerou um analista. Da parte do Casino, "isso parece ter sido muito bem preparado no plano jurídico", disse Murail. Para se opor a uma manobra considerada "hostil", a Casino mobilizou todo um arsenal jurídico. Para essa empresa, o Brasil é um dos quatro países mais populosos e em forte crescimento nos quais ela construiu uma estratégia de expansão internacional.
No final de maio, a Casino lançou um primeiro procedimento de arbitragem contra Abílio Diniz na Câmara de Comércio Internacional, exigindo o cumprimento de um pacto dos acionistas com a sua sócia, que deu a ela a possibilidade de assumir o controle da CBD em 2012.
Em junho, quatro dias antes do anúncio oficial do projeto de fusão, o Tribunal de Comércio de Nanterre indicou ter apreendido 22 documentos referentes às negociações com Diniz na sede do Carrefour. Com o projeto oficializado, Naouri lançou uma segundo procedimento de arbitragem contra Diniz, e viajou ao Brasil para defeder suas posições, classificando a operação "de expropriação" e de "erro estratégico".
Diante da forte resistência do Casino, aos temores de monopólio e aos ataques da oposição à intervenção do Estado brasileiro em um conflito entre os dois atores privados estrangeiros, o governo da presidente Dilma Rousseff mandou o BNDES dixar a operação.